A imensa saudade
de “IOIÓ”
Na última quinta-feira
de setembro, sentido imensa saudade, minhas lágrimas fluíram dos olhos,
encharcando minha quase octogenária face. Naquele dia, partiu para o paraíso a
minha bem-aventurada irmã Nancy, que carinhosamente chamávamos de Ioió.
Amenizei minha dor ao
narrar para meus queridos sobrinhos momentos felizes que compartilhei com minha
inesquecível irmã. A sua contagiante alegria, o otimismo e a bondade expressa
em constante solidariedade que nos protegia sempre.
Conservo em minha mente
uma variedade de fatos marcantes que me encantam desde o tempo que eu
era apenas um garotinho e ela já era minha protetora (a diferença de idade era
de, aproximadamente, 12 anos).
Lembro-me como se fosse
hoje, o tempo que frequentei o curso infantil nas Escolas Reunidas Augusto
Maynard, cujo prédio ficava na Rua Cônego Andrade, no trecho entre a padaria de
Gumercindo e a casa do Senhor Nanô, pai de Betinho da Concord, quase em frente
da casa que ela passou a residir, anos depois, quando se casou com Filadelfo.
Nancy era professora
daquela escola e me protegia. Recordo-me de minha farda do curso infantil: camisa
e calça curta de um tecido em xadrez com
listas vermelhas, seguras por suspensórios. Qualquer perturbação que eu sentia, procurava
arrimo em seus braços, exclamando em gritos estridentes: “Ioió! Ioió!”.
Naquele tempo,
chamávamos Nancy de “Ioió”, que correspondia a uma corruptela do sobrenome Accioly.
O nome de solteira dela era Nancy Accioly Déda. O Accioly vem de nossos ancestrais maternos que moravam no engenho
Vazaringui, situado no município de Riachuelo. Nossa avó chamava-se Adele Accioly
Oliveira e minha mãe era Maria Accioly de Oliveira, que repassou o
sobrenome Accioly para nossa querida Nancy.
Benditas e sempre lembradas Accioly! Eu as homenageei, nomeando meus filhos Carla e Bruno e também minha neta Marina com o sobrenome Aciole (sem o “y” e o duplo “c”, igual ao que escrevi na minha primeira composição tipográfica – ver foto a seguir).
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Minha primeira
composição tipográfica no jornal A Semana, edição de 29.08.53 (Ao fazer a
composição não localizei, nas caixas de letras de chumbo, o “Y” que deveria
usar nas palavras Nancy e Accioly. E o revisor não viu).
Pois bem. Ouvíamos
minha mãe chamar Nancy de Accioly e,
pela lei do menor esforço, todos passamos a chamá-la de Ioió.
O interessante é que eu
tinha um colega nas Escolas Reunidas, conhecido como João Bedefor, que fazia
gozação de meus gritos chamando por minha irmã. Muito tempo depois, já rapazes,
sempre que me encontrava, ele não perdia a oportunidade de perguntar sorrindo:
-
“Já pediu, hoje, a ajuda da Profª. Ioió?”...
Então, fazendo de conta
que a pergunta do colega e amigo João fosse feita agora, responderia:
- “Pedi ajuda, sim!”.
E, como se conversasse presentemente,
peço a minha saudosa Ioió que nos ajude – a mim e aos
meus queridos sobrinhos – a suportar a dor de sua ausência física.
O certo é que amenizei
minha saudade, cantando baixinho e comovido – quase em murmúrio – os versos da canção “Nancy”,
de Bruno Arelli e Luiz Lacerda, muito em voga nos velhos tempos, interpretada
por Carlos Galhardo:
“Somente poderia
A musa traduzir
O nome que é poesia, Nancy”
Aracaju, 30 de setembro de
2020.
BETO DÉDA