O aumento de preços, a exclusão social e as lembranças do humor de meu
pai.
Como
sempre acontece, às segundas-feiras eu não vou ao Lago Dourado. Passo o dia
em Aracaju, cuidando de assuntos diversos.
É quando também reservo um tempinho para visitar as livrarias da cidade.
Nesta semana fui comprar, a pedido de minha neta, o livro
“Vidas Secas”, de Graciliano Ramos. E na livraria, deparei-me com uma oferta
especial, por preço mínimo, de um exemplar da sétima edição de “O Capitalismo
Global”, de Celso Furtado. Não vacilei
em mexer no bolso para adquiri-lo. Foi uma boa oportunidade para reler o
pensamento do grande mestre, expresso no final dos anos 90.
Naquela época, Celso Furtado já esclarecia que os
grupos que mais se beneficiam com tal política de acumulação de capital também tinham o maior peso político; fato que determina a prevalência da lógica econômica que eles desejam.
Defendia ele que a política econômica deveria adotar como
objetivo estratégico o mercado interno, ressaltando os interesses da população.
E neste ponto, afirmava que “o componente
principal do mercado interno é a massa salarial”.
Segundo ele, os efeitos da
globalização descontrolada são devastadores, especialmente quando se coloca a competitividade internacional
como objetivo principal, ao qual tudo se subordina. Assim é que, sem um controle adequado, priorizando as exportações e entregando as empresas nacionais aos investidores estrangeiros, determina-se a instabilidade econômica e instala-se uma dependência
similar à da época pré-industrial.
Ao afirmar tais ponderações ele faz uma ressalva de
que “só por ignorância ou má-fé pode se
confundir essa opinião como a prédica tradicional do fechamento da economia”.
Reconhecendo que a força da concentração de poder das grandes empresas é uma
realidade da globalização, sugere uma participação ativa dos governos, de modo a
controlar a atuação do mercado, preservando sempre o interesse da população.
A verdade é que o texto do Prof. Celso Furtado
apresenta-se atualizado. E contradiz a política governamental que se adota hoje em nosso país, que penaliza a população de menor poder aquisitivo, e privilegia a elite nacional e o mercado internacional.
O que presenciamos é a alienação de empresas públicas, conquistadas com muito sacrifício pelo povo, e a redução, acintosa, de direitos
dos trabalhadores, com o agravamento da exclusão social.
O leque de medidas extremas adotadas pelo governo
parece pretender testar até onde brasileiro pode suportar. A loucura expressa nos
atos dos governantes, na área econômica, ou mesmo no nos atos e declarações absurdas de seus representantes, coloca em cena, diariamente, um festival de impropérios que, não tenho dúvida, faria parte do famoso e antigo “FEBEAPÁ (Festival de Besteiras que Assola o País)”, do Stanislaw Ponte Preta, se vivo ele estivesse.
E ao pensar nos problemas de hoje, especialmente os
descontrolados aumentos do custo de vida que
atingem a grande classe trabalhadora, lembro o bom humor de meu saudoso pai que, com um canivete na mão, transportava para uma prancha de madeira a charge (Piada da Semana) que era divulgada em seu jornal, denunciando a elevação de preços de produtos
básicos.
Sem deixar de lamentar e protestar contra os absurdos
da atualidade, buscando um refrigério para aliviar nossas amarguras, a sugestão
é apreciar as antigas piadas do jornal “A Semana”, que fazia humor e denunciava a política
econômica adotada pelos donos do poder, em plena ditadura, que era citada como "Revolução Gloriosa de 64". As semelhanças entre ontem e hoje são preocupantes e devastadoras para os menos favorecidos.
E o pior é que tem muita gente que torce pelo retrocesso.
E o pior é que tem muita gente que torce pelo retrocesso.
As xilogravuras de Carvalho Déda, publicadas no jornal "A SEMANA" - em Simão Dias (SE):
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O aumento do preço da carne e a charge no Jornal "A Semana", em 03/02/1968 |
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"Na passarela da carestia, até a galinha faz pose" - Charge de 12/06/1965 |
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"O 'sr' feijão criou asas e voou... subiu alto... - 17/04/1965 |
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"A Revolução: - Aguenta mais um pouquinho, minha 'gente', pra ver como fica... - 16/01/1965 |
BETO DÉDA