A TEORIA
ARGUMENTATIVA E OS FILÓSOFOS SIMÃODIENSES.
Nas últimas semanas
estive longe das redes sociais. Passei alguns dias em Salvador e, no final do
mês de abril, me dediquei a outras atividades que me lançaram longe da rotina.
Mesmo assim, não deixei
de reservar algum tempo para uma boa leitura e não fiquei indiferente às
proveitosas manifestações do dia 28 de abril, quando o povo foi às ruas
manifestar sua discordância às lastimáveis reformas que o governo
golpista e seus aliados tentam empurrar goela abaixo das classes menos
favorecidas do país.
Nas minhas recentes
leituras, deparei-me com um artigo publicado na revista Carta Capital, edição
de 19/04/2017, escrito por Thomaz Wood Jr., Professor da FGV-EAESP, que comenta
sobre a Teoria Argumentativa do Raciocínio, defendida por dois cientistas franceses
(Hugo Mercier e Dan Sperber). Eles contestam o legado do filósofo René
Descartes (1596-1650), considerado como o pai da filosofia moderna. Para melhor
lembrar, Descartes era conhecido pela frase em latim: “Cogito, ergum sum”, ou seja, “Penso,
logo existo”.

Ao ler o artigo de Wood
Jr., apressei-me em conhecer o que alegam os atuais contestadores do pensamento
de Descastes. E eles apresentam argumentos importantes em defesa do que chamam
Teoria Argumentativa, informando que o raciocínio e a razão não buscam a verdade, mas procuram
sistematicamente argumentos que justifiquem nossos pontos de vistas ou
ações. Trocando em miúdos: eles asseguram que a
capacidade de raciocinar é desenvolvida para permitir a interação social, de
modo a defender nossas crenças e convencer outras pessoas a aceitarem nossos
argumentos. O raciocínio adota o viés da confirmação: selecionando arrazoados
que favoreçam nosso modo de pensar, desprezando os que lhe são contrários, independentemente
de serem válidos.
Embora a Teoria Argumentativa
seja motivo de discussão acadêmica, envolvendo controvérsia entre filósofos e
psicólogos, o assunto fustigou minha memória para o tempo em que me dedicava a
analisar com carinho a filosofia de simãodienses pensadores.
E seguindo a máxima do
grande Millôr Fernandes de que “Pensar-livre é só pensar”, dediquei-me a matutar
sobre a Teoria Argumentativa envolvendo livres pensadores simãodienses, envolvidos
em problemas metafísicos do torrão margeado pelas águas salobras que descem
pelas curvas assimétricas do riacho Caiçá.
Lembrei-me, então, de consagrados e conhecidos "filósofos" conterrâneos que esbanjavam argumentos para favorecerem seus pontos
de vista. Encantava-me perceber o raciocínio de Domingos Bina, Negão Engraxate,
Paulo José dos Santos, Avião e a garota Bolochinha. Todos eles apresentando
argumentos fartos em defesa de seus interesses e ideais: o carnaval, o bom
aguardente, a beleza de seus amores e suas preferências expostas; tudo sem
preconceito, nem cor.
Eram livres pensadores
e filósofos capa-bodes, que neste momento reluzem em minha memória e os vejo
como exemplos da Teoria Argumentativa defendida pelos franceses Mercier e
Sperber.
Dentre os lembrados filósofos simãodienses, ressalto aqui os argumentos expressos por Paulo José dos Santos, em
seus longos e contundentes discursos que começavam na Rua da Palha, por trás do
antigo Açougue Municipal. Ali, no início das noites de sábado, depois de tomar
muitas biritas no Bar de Seu Júlio, o Paulo José dos Santos começava seus
discursos famosos, demonstrando sua verve de orador e apresentando argumentos
em defesa de seu gosto pela saborosa aguardente. Em todos seus discursos evidenciava
a pureza dos barris de cachaça, procedentes dos engenhos de Laranjeiras, pendurados
em cangalhas de mulas que desciam a Serra do Cabral, em comboios tangidos por
tropeiros e que se dirigiam ao Norte, Sul, Leste e Oeste da cidade para benzer
as gargantas secas dos bravos trabalhadores simãodienses. E repetia sem cansar os pontos cardiais da
cidade e os elogios à cachaça pura dos alambiques do Vale do Cotinguiba. Grande
orador, excepcional bebedor.
Mas deixemos de lado os
populares pensadores da terra natal e passemos à realidade do que representa a
teoria desenvolvida pelos professores franceses.
Pelo que se tem
notícia, a teoria argumentativa saiu da raia dos advogados e, nos dias
conturbados que atualmente assolam nosso país, tem sido venerada por parte de
componentes do Poder Judiciário. O que se nota é que alguns procuradores e
juízes não estão preocupados em raciocinar em busca da razão e da verdade. O
interesse maior é a procura de argumentos que consolidem seus pontos de vista e
suas ideologias. Agem despudoradamente e tomam decisões seletivas, usando meios duvidosos de pressão para conseguirem argumentos que respaldem suas preferências.
Quem são eles?
A resposta, como
costuma dizer o Mino Carta: “é do
conhecimento até do Mundo Mineral”.
Por esta e outras
razões, dou um forte grito de VIVA aos "filósofos" simãodienses, que em outras
eras praticavam sem preconceito a teoria argumentativa. Só que de forma mais
clara e honesta do que a de alguns atuais e parciais julgadores.
ARACAJU,
07/05/2017
BETO DÉDA