terça-feira, 20 de novembro de 2012


 
Lembranças e saudades do botonista Átila e do Prof. Tavares.

 

 

Flávio, Miguel e o pôster da FBFM
 em homenagem ao Sr. Atila
 
Aproveitando o feriado da Proclamação da República fui a Salvador, para comemorar o aniversário de minha querida filha Carla Accioly e  acompanhar a participação do genro Flávio e seu irmão Alex Lisa no campeonato nacional de futebol de mesa, realizado em um hotel na praia da  Barra. Fiquei impressionado com a organização do evento e a quantidade de participantes. Mas o ponto principal é que me emocionei na solenidade de abertura, quando foi realizada uma homenagem especial ao saudoso amigo Átila Lisa, falecido recentemente. O Sr. Átila teve importante papel no meio do futebol de mesa e foi um dos pioneiros e incentivadores da organização daquele esporte no Brasil. Ele sagrou-se o primeiro campeão brasileiro, em 1970, defendendo as cores da federação de Sergipe.  Estimulou o esporte entre seus filhos e, hoje, Flávio, Alex e Alan são reconhecidos como bons jogadores do futebol de mesa.  E no evento realizado agora, a equipe de Sergipe obteve o 4º lugar.
Alex participa do campeonato nacional de futebol de mesa.

Lembrando o futebol de botão em Simão Dias

A movimentação daquele campeonato fez-me pensar na evolução que ocorreu no esporte que chamávamos de futebol de botão. E lembrei-me dos anos cinquenta, quando eu e outros jovens simãodienses praticávamos aquele esporte. Naquela época usávamos botões de verdade e, também, improvisávamos micas de relógio e fabricávamos algum botão de casco de coco. O goleiro era uma caixa de fósforos com o emblema do time. O Luiz Santa Bárbara, que era tipografo d’A Semana, também jogava botões e organizou um campeonato disputado na redação do jornal. Os jogos aconteciam em uma mesa grande, onde cortávamos e dobrávamos as resmas de papel. Parece-me que foi o próprio Luiz que lixou a mesa, marcou o campo com tinta branca e, antes das partidas, colocava talco para o botões deslizarem, da mesma forma que usava na impressora de modo o fazer correr os jornais pelas pinças e linhas. Lembro-me que vários jogadores foram selecionados para o campeonato, entre outros: o Luiz, eu, Zé Valadares, Cláudio Déda, Daniel Guimarães e, parece-me, o José Américo Rodrigues.
O meu time era o Bangu. Como flamenguista, preferia que o time fosse o Flamengo. Não deu certo. O Mengo já era o time de Luiz Santa Barbara.


A caixa que eu guardava meus botões

 Eu guardava com o maior cuidado os botões em uma caixa de talco Cashmere Bouquet. Na época, devido ao frio em Simão Dias, era comum o uso de sobretudo, uma capa de gabardine, com grandes botões,  que pareciam com aquelas usadas por detetives em filmes policiais. Meu pai tinha mais de uma daquelas capas e eu, cuidadosamente, retirei bonitos botões e os incorporei ao plantel do meu time. Meu pai percebeu minha ação. Passou-me um sermão daqueles que a gente nunca esquece. Mas o resultado é que, semanas depois, ele me presenteou com um time fabricado com matéria plástica, comprado aqui em Aracaju na loja Quatro e Quatrocentos. Os botões eram vistosos e pulões. Não me adaptei ao novo time. Nem mesmo o goleiro e as traves deram certo. Eram menores do que as que improvisávamos. O que foi uma pena, especialmente diante da lembrança e do gesto de meu pai.
Não estou muito seguro, mas tenho em conta que o campeão daquele torneio foi Luiz, que era o organizador e o mais velho da turma.

Anos depois, já casado, tentei passar para meus filhos o gosto pelo esporte e comprei o “Estrelão”, campo transportável com facilidade. Não surtiu efeito, nem pra mim e nem pra eles.  
O Sr. Átila era um esportistas praticante e soube partilhar esse seu interesse pelo futebol de mesa entre seus filhos.  Saudades do amigo e grande botonista Átila!

Lembrando de Salvador e do prof. Tavares

Entrada da Escola Politécnica da Bahia
 (Foto Roa Ferreira)
Enquanto Flávio jogava botão, eu passeava na Boa Terra com meus netos. Lembrando os belos dias de minha juventude na Baía de Todos os Santos: no Monte Serrat, na Igreja do Bonfim, no Centro Histórico, em Barris, no Dique do Tororó, Itapuã e na Federação. E neste último vem a lembrança da Escola Politécnica da Bahia, e, consequentemente, de modo especial, as recordações do Prof. Tavares, que lecionava ali, no curso pré-vestibular de engenharia, patrocinado pela SUDENE. Ele era um simpático professor de matemática, idoso, branco, de estatura média, rosto quase arredondado, cabelos efusivos muito brancos, sempre de terno e gravata e com um cigarro à mão.  Tinha seu método de estimular os alunos, dizendo: -“A Petrobrás está oferecendo um salário tentador para engenheiro, se você tem vocação para essa profissão, estude que não é difícil”. Dizer que nada era difícil era seu refrão predileto. Quando terminava de apresentar determinada explicação sempre finalizava dizendo: “Aprenda que não é....”  e esperava a turma complementar suas frase com as palavra  “...não é difícil”, só que a estudantada malandra gritava em coro “...NÃO É FÁCIL, PROFESSOR” e ele atirava o giz na lousa em protesto e fazendo beiço de desagravo, com sorriso maroto... 

Certo dia, o Prof. Tavares, começou a brincar com os cinco sergipanos ali presentes e perguntava: “Aqui tem algum sergipano?” E eu, cautelosamente, elevava minha mão à meia altura. E ele dizia apontando em minha direção: “Olha ali, um se identificando, timidamente...”. E passava a dizer de forma engraçada, na brincadeira, sem intenção de ferir:

 “- Em Aracaju, as mães pegam os filhos, vão até a margem do Rio Sergipe, na avenida onde param as marinetes do interior, em frente à Ilha dos Coqueiros, e dizem, olhando para o rio: ‘Aqui, meu filho, é o MAARR!’ E  falam ‘O MAR’ com a boca cheia de orgulho...  O MAAARRR...”

Com um ar de sorriso, exclamava, olhando pra sentir minha reação: “Sergipe, dizem, é a cozinha da Bahia!” E balançava a cabeça em minha direção, esperando uma resposta. E eu dizia, timidamente: “Professor, a cozinha é o melhor da Bahia!”.

Então o alegre mestre exclamava: “Olhem, ele fala! Baixinho, quase não se ouve, mas sabe repetir o que todos também dizem...”.  E a turma danava-se a sorrir.

E o professor finalizava fazendo merecidos elogios a Sergipe e aos sergipanos.

São lembranças do grande Prof. Tavares!

Aracaju, 19/11/2012

Beto Déda