terça-feira, 11 de dezembro de 2012


O Natal em Simão Dias, o Papai Noel e aprendendo a não apostar.


O desengonçado Papai Noel
O mês de dezembro é mágico, tem significados encantadores, despertando o amor e nos dando força para expandir alegrias. É o tempo de permitir que a imaginação tome conta da gente. E eu deixo a barba crescer e transformo o vovô/tio Beto em um desengonçado Papai Noel para levar um pouco de alegria aos meus netos, sobrinhos e a meninada da vizinhança do Lago Dourado. E isto me faz sentir feliz. Então, deixe-me contar essa: no último Natal, ouvi de uma criança dos arredores de meu sítio uma frase encantadora. Disse ela, apontando-me: - Olha, Papai Noel existe mesmo! Lá está ele! E rindo, externou uma alegria tão espontânea que me contagiou com sua linda emoção. São fatos que me estimulam a usar o mágico uniforme vermelho. 

Lá pelos anos cinquenta, em Simão Dias, a garotada conhecia que estávamos no mês de dezembro ao perceber o florido amarelado das acácias existentes no quintal do bangalô de Seu Pierre ou na Praça de São João.  Era o tempo encantador do Natal e da crença em deixar os sapatos juntos, ao lado da cama, para o bom velhinho ali pôr o presente esperado. E eu acreditava nisso. Daí a minha grande decepção ao saber que aquilo era estória para enganar menino bobo.  Então eu fui um bobão. Mas... Que se danem! Fui um bobo feliz acreditando no bom velhinho. 

 Foto da garotada em um  Natal dos anos 50
Na tarde do dia de Natal, meu pai reunia os filhos, netos e sobrinhos lá em nossa casa. Ele tirava fotos e depois distribuía moedas novinhas, em partes iguais, para nos divertirmos na Rua da Feira. Naquela época a festa do Natal era comemorada no largo da feira, onde se concentravam os bazares de Seu Cícero e de Inês/Lélia, o carrossel de cavalinhos de Seu Messias, a Onda e o grande Balanço de Seu Raimundo, além das barracas de arroz-de-galinha, de confeitos de castanha em forma de barcos e sobrinhas em papel colorido, os jogos de roleta e barrufo. E tinha também o quebra-queixo de seu Antônio e a amorosa (uma espécie de refresco de maçã) do Zé Pretinho, que chamava os fregueses gritando: “Ói a amorosa!” E apontando para a garrafinha, dizia: “É cheia... é cheia e é só quinhentos réis...”

Daquela festa de largo vem a lembrança inesquecível do som forte e fraco da sanfona e do pandeiro que ia e vinha, se distanciando e aproximando, de acordo com as voltas do carrossel e a posição do vento. E tinha o cheiro inconfundível dos fifós (candeeiros) de carbureto.
Woody Strode que parecia com Braúna

Outra lembrança marcante era o grande Balanço de Seu Raimundo. Cabiam mais de quinze crianças e o balançar era seguido de muito empurrão e gritos de alegria. O encarregado de balançar manualmente era um senhor moreno, muito forte, que pitava um engraçado cachimbo. Chamava-se Seu Braúna, era parecido com o ator hollywoodiano Woody Strode que atuava com John Wayne em faroestes dirigidos por John Ford ( O homem que matou o facínora).    

Recordo-me que certa vez, logo ao chegar na Rua da Feira tive a curiosidade de jogar barrufo, pensando em aumentar meu cabedal. Apostei uma moeda e ganhei outra. Estimulado, joguei mais e também ganhei. Logo depois comecei a perder. E passei a jogar pensando em recuperar as moedas perdidas. Não restou nada, fiquei “quebrado”. Ainda era o começo da tarde e não me restara um só centavo para a festa que começava. Então, pensei em pedir mais moedas ao meu pai, que tinha uma sacolinha cheia de quinhentos réis. E lá fui eu ao escritório que, naquela época,  ficava na Rua dos Ribeiros em uma casa que era do Seu Hilário. Em resposta ao meu pedido, o velho fez outra indagação: onde gastara tão rápido as moedas que ele tinha me dado? Respondi: “- Pensando em ganhar mais, joguei no barrufo e perdi tudo!” Então recebi uma lição inesquecível: - Nada de outras moedas e aprenda: jogo nunca mais!

Naquele Natal minha salvação foi o tio Sissi. Fui até a Prefeitura, onde ele trabalhava, e exclamei com a mão estirada, de pedinte: “-Minha bênção, tio Sissi”. Ele rindo, olhando para minha mão pidona, me abençoou e me deu  moedas suficientes para andar no balanço de Braúna, comer arroz de galinha, tomar amorosa e comer confeitos de castanha. E passar ao largo das bancas de barrufo, lembrando a lição importante do meu bom pai: Jogar apostado, nem pensar!

Aracaju, 11/12/2012

Beto Déda