TRÊS CAUSOS INESQUECÍVEIS
CONTADOS POR TIO PAULO.
1) Zé Cágado vai à feira:
Nos anos 50, na
cidade de Simão Dias, existiam muitas fábricas de calçados e diversas tendas de
sapateiros, conhecidas como “futucas”,
espalhadas pelas ruas da cidade. Meu tio Paulo era proprietário de um curtume no
local conhecido por Aloque, que curtia couro de boi e pelicas de porco. Era lá no Aloque que os proprietários de
fábricas e “futucas” adquiriam couro
para fazer calçados.
Era costume dos sapateiros dizer que estavam
indo ao Aloque comprar material para fazer
obra, ou seja, comprar couro para fabricar calçados.
O artesão Zé
Cágado tinha uma pequena fábrica de calçados na Rua da Lama. Ele era um senhor
baixo, forte, simpático, gostava de esporte e apitava os jogos de futebol no
gramado José Barreto de nossa cidade. Chistoso, gostava de pilheriar, contar
boas piadas e apresentar sentido ambíguo às palavras comuns usadas por nosso
povo.
Contava meu tio
que aos sábados, sabendo dos gracejos de seu Zé Cágado, o pessoal esperava ele
passar com uma cesta, em frente ao bar de Valério, descendo em direção à rua da
feira (na época na Av. Cel. Loyola), e indagava aonde ele ia. A resposta já era
conhecida e recebida com boas risadas. Respondia ele com graça, dando sua
versão especial para os termos “material”
e “fazer obra”, no sentido de “víveres” e “defecar”, respectivamente:
- Vou à feira, comprar material pra depois fazer
obra...
...
2) O gago que trocava o
“V” por “B”:
Esta história
foi-me contada por meu tio Paulo, na época que não era considerado
politicamente incorreto falar sobre gagueira. Transcrevo, aqui, apenas com fato
histórico.
Conversávamos sobre
um garoto fanho, filho de um sapateiro, quando ele me contou outro causo de um
seu amigo que era gago e tinha dificuldade em pronunciar certas palavras,
muitas vezes trocando o “V” por “B”. Quando ele ficava nervoso a gagueira
aumentava, provocando vexame não só ao próprio como aos seus interlocutores que,
por mais controle que tivessem, não disfarçavam o riso.
Contava meu tio
que uma tarde, em sua loja de calçados “Triunfo”, no comércio de Simão Dias,
alguns amigos discutiam sobre futebol; lá estavam Lulu, Barbosa, João Grande e
Café. Foi quando surgiu um amigo comum que era gago, tal e qual os famosos Ari
Barroso e Nelson Gonçalves. O gago era fanático por um time de futebol e no auge da
discussão, a gagueira ficou incontrolável. Justo nesse momento entrou na loja
uma senhorita e todos pararam de discutir para apreciar a moça. Era uma bonita garota conhecida do gago que,
dirigindo-se a ele, falou:
– Como vai o senhor, tudo bem?
E o gago,
nervoso, respondeu, trocando o “V” pelo ”B”, deixando os amigos sem meios de
controlar a risada:
– Booou-bem,
obriii-ga-ga-do! Bo...bo-cê-ta-boa?
...
3) O idoso que não lembrava dos bagos:
Com a peculiar
maneira de contar seus causos, disse-me meu tio que no tempo em que morava em Simão
Dias tomou conhecimento de um fato que o deixou preocupado. Ele tinha um amigo
muito respeitoso e de idade avançada que, infelizmente, passara a sofrer do mal
do esquecimento. Era uma doença que lhe ocasionava a perda de memória,
possivelmente o início da enfermidade que hoje é conhecida como “Mal de Alzheimer”.
Com seus oitenta anos bem vividos, meu tio confidenciou-me
que tinha receio de ficar como o ancião de nossa cidade. Então, contava-me que
o amigo, que se aproximava dos noventa janeiros, começou agir de forma estranha
e a fazer determinadas perguntas que demonstravam o início do terrível mal de
perda de memória. Em uma manhã, o idoso saiu nu pelo quintal de sua casa e
foi fazer xixi no portão. Ali, sozinho, baixou a cabeça, olhou para as partes
íntimas, pegou nos bagos, mexeu, remexeu, fez aquele ar de indagação elevando
as sobrancelhas e gritou para a sua esposa: – “Massita,
chega aqui depressa”. Quando a senhora se aproximou, ele mostrou o saco dos bagos, lamentando-se:
-Veja,
minha querida Massita, quando a gente fica velho aparece tudo que não presta em
nossa corpo!
E puxando o flácido saco, concluiu:
“Olhe,
aqui, o tamanho das bolas que nasceram agora debaixo de minha pinta...”
Aracaju, 03/08/2016
Beto Déda