quinta-feira, 25 de agosto de 2016

OS BANHEIROS PÚBLICOS EM SIMÃO DIAS.

Provocado por estudantes que se dedicam ao estudo do passado recente de minha terra, repasso algumas lembranças do que faziam os jovens de Simão Dias nos anos 50 e 60. Não contávamos com televisão, nem telefone ou outas modernidades. Mesmo assim, vivemos um período em que a juventude fervilhava de ânimo por ensinamentos e diversão. Tempo em que os garotos construíam o próprio brinquedo e se divertiam fazendo teatro mambembe e toscas caixinhas de cinema; tempo de lúdicos bailes, dos namoros e das festinhas em casa de famílias. Tempo em que se exercitava a imaginação com boas leituras e ensaios culturais no Caiçara Clube, na Associação da Juventude Simãodiense (AJIS), no Cine Brasil e no Cine Ipiranga. Era uma época em que se jogava peteca e bola de meia nas calçadas e, na Praça de São João, brincávamos de bola de gude e jogávamos futebol com bola de meia, de borracha ou de bexiga de boi. Época de peraltices, saboreando tamarindos do Parque, os cajus e mangas “requisitados” nos sítios da redondeza e tomando banho no poço do riacho Caiçá.  E não faltavam as travessuras naturais da puberdade, admirando e namorando as garotas e perscrutando locais íntimos para admirar a beleza feminina, inclusive as coroas que frequentavam os banheiros públicos.
E quando falo em banheiro público, minha memória, espontaneamente, me encoraja a fixar neste ponto, de modo a me fazer acreditar que vale uma explicação.  
Nos anos 50 havia em nossa cidade alguns banheiros públicos, não banheiro no sentido que tem hoje: mictório ou aparelho sanitário; o sentido era quarto de banho, ou seja, local para as pessoas tomarem banho. E era público, não no sentido de “res publica” ou bem de domínio de pessoa jurídica de direito público interno. Era de uso do público, mas pertenciam a particulares, que lucravam com eles, cobrando uma taxa pelo uso.  O ingresso das pessoas acontecia por turno. Um horário para as mulheres e outro para os homens.  Lembro-me de dois desses banheiros: um, perto da Rua do Mulungu, ou Ponta da Asa, que ficava no quintal da casa onde funcionava a movelaria de Pedro Americano. No muro da casa tinha um grande reclame: Banheiro: 500$(quinhentos réis) por banho. E o outro, no trecho entre a Praça de São João e a Rua dos Ribeiros, no sítio de seu Pierre, localizado naquela travessa, em frente ao oitão da casa de dona Mariana (que hoje é um Hospital).

Quem administrava o banheiro do sítio de seu Pierre era o caseiro chamado Manoel. Ele era o encarregado de fazer a cobrança de uso, enchia a caixa d’água e fazia a limpeza depois que o banheiro era usado.
A meninada (e eu no meio) não perdia a oportunidade de olhar os trabalhos de limpeza dos banheiros depois de usados pelas coroas da proximidade. O interesse da garotada era olhar os vestígios deixados pelas banhistas, especialmente depois de se depilarem.  Os restos de pelos negros, loiros ou oxigenados – deixados próximo ao ralo do esgoto – causavam admiração e entusiasmo.
 – Belos pentelhos! Exclamava o primo Alfeu. E a frase era repetida em coro pela molecada.
Ao ouvir a zombaria, o zelador Manoel expulsava todos batendo com a vassoura molhada e gritando: - “Fora pivetes!”
A garotada se divertia. Era uma zorra...
Aracaju, 25/08/2016

BETO DÉDA

terça-feira, 23 de agosto de 2016

    
    O CAUSO DO PIDÃO INCORRIGÍVEL.


Neste fim de semana estivemos no Lago Dourado, reunidos com minha irmã Nancy, seus filhos e netos. Foi um dia agradabilíssimo. Nas conversas com os sobrinhos, um deles me mostrou uma fita de um humorista narrando o caso de um sacristão que era um chato pidão. Ri muito com a história e me lembrei de outra contada por tio Paulo.

Dizia meu tio que em Simão Dias tinha um gajo que era pedinte contumaz. Pedia tudo e usava todos os meios para conseguir qualquer coisa. Em um dia de sábado, meu tio estava na feira quando se aproximou o gajo, fazendo o gesto de todo pidão: mostrando a mão aberta e estirada para indicar solicitação. Chegou perto e foi dizendo: – Seu Palo me dê um trocadinho...

O tio coçou os bolsos e deu a resposta de sempre:

 – Madeirinha, não tenho nem um centavo no bolso. Perdoe..
.
O pedinte não perdoou e fez novo pedido:

 – Então me dê esse boné que tá na sua cabeça...

 – Não posso. O boné está protegendo minha careca do sol quente – respondeu meu tio.

O insistente pedinte olhou para o bolso da camisa de meu tio e voltou à carga:

 – Ora meu amigo, tenha paciência e me dê um cigarrinho desses que você tem no bolso.

 – Madeirinha, essa caixa que você vê no meu bolso não é cigarro, é um colírio que uso para desembaçar os olhos.

Diante da resposta, o pidão não esmaeceu, com as pontas dos dedos, segurou as pálpebras, arregalando os olhos, aproximou-se ainda mais do meu tio, e fez o último pedido:

 – Seu Palo, ponha três gotinhas aqui...

Dizia meu tio que a posição do pedinte era tão engraçada que mereceu o pronto atendimento.

Aracaju, 23/08/2016

BETO DÉDA