Lições do
passado.
Recentemente, depois de ler um de meus textos, um amigo disse-me que eu tinha um estilo parecido
com o do meu pai. Especialmente no que diz respeito à linguagem simples e
direta. Não foi a primeira vez que me disseram isto. Nem é preciso dizer que
fiquei demasiadamente feliz com a grata comparação.



Para mim foi uma satisfação imensa e, até hoje, não
esqueço uma parte da explanação do grande escritor, na qual ele dizia que o
simples fato da saber escrever não era suficiente para ser um bom contador de
história. E apresentou um exemplo que ficou inculcado em minha memória. Tentarei passar para os amigos o que ouvi do
grande Malba Tahan.
Dizia ele que um garoto estudante, que vivia na
roça, aproximou-se do pai e perguntou o que significava o vocábulo “FENÔMENO”, termo
que a professora pedira para ele descrever como dever de casa. O pai não era
letrado, mas sabia das coisas e tinha sua maneira própria de se fazer entender.
Então, pensou um pouco, olhou para o filho e disse:
- Está vendo
esta vaca? E antes que o filho dissesse qualquer coisa, ele completou: “Ela não é um fenômeno”.
- Está vendo aquela
casa? E acrescentou: “Ela também não é um fenômeno”
E ante o olhar interrogativo do filho, concluiu:
- Mas, quando
você notar que esta vaca subiu no telhado daquela casa, aí meu filho, você
estará diante de uma raridade, uma coisa fora do comum: um FENÔMENO. E fatos como este serão merecedores de admiração porque se incluem entre os que têm natureza fenomenal.
Ao finalizar, o conferencista fez uma explanação
sobre a importância do uso da simplicidade na forma de contar histórias.
...
Ainda aproveitando o gancho deste causo, veio-me à lembrança
um fato que ocorreu quando eu trabalhava no Banco do Nordeste e participava na
Direção Geral, em Fortaleza, de um treinamento para elaborar apostilhas sobre
ensino à distância (no meu caso: Crédito Rural). O Banco contratara uma
professora paulista para nos ensinar. Na primeira aula, ela fez
uma preleção sobre a necessidade de usarmos uma linguagem simples, de modo a facilitar
o entendimento. Aproveitei a oportunidade e narrei o exemplo que nos foi ensinado
pelo famoso Malba Tahan.
Depois que contei o caso, um colega desatento
perguntou qual o sentido daquele fato para o treinamento. Fiquei triste e atordoado
diante daquela pergunta, isto porque deu a entender que a minha narrativa tinha
sido impertinente.
Recuperei-me ao ouvir a professora paulista
esclarecer a pertinência de minha intervenção, e o fez usando exemplo simples,
tal qual o ensinamento do mestre do Colégio Pedro II.
São lições inesquecíveis de pessoas que enriqueceram
nosso conhecimento.
Aracaju, 11/07/2016
BETO DÉDA