A Silabada e o apelo da colocação pronominal
Fui aluno de excelentes professoras no curso primário, no Grupo Escolar Fausto Cardoso, em Simão Dias. Foi lá que aprendi os primeiros ensinamentos escolares das inesquecíveis professoras: Olda do Prado Dantas, Iolanda Montalvão, Rita Guimarães e Mileta Oliveira.
Em 1957, realizei meu exame de admissão ao Ginásio Jackson de Figueiredo. Ao final de uma das provas orais, tive a alegria de ouvir da examinadora, Professora Zamor de Melo, um elogio merecido às minhas professoras do Grupo Fausto Cardoso.
Já estudando no Jackson, também tive a honra de ser aluno da Professora Zamor, que ensinava Português, e de sua irmã, Profª. Normélia Melo, que lecionava Matemática
.
Embora me dedicasse a acompanhar as lições de minhas mestras, a verdade é que, fora dos muros escolares, nunca tive tesão em me dedicar ao estudo cuidadoso de nossa gramática.
Nos primeiros dias no ginásio, em uma aula de Matemática, a Prof. Normélia determinou que eu lesse uma das questões para solução em sala de aula. Meio acanhado, levantei-me e comecei a ler:
- Determinar a medida do “IN...VO...LU...CRO”...
Fui imediatamente interrompido pela Professora, pedindo que pronunciasse cuidadosamente a última palavra.
Olhei para o livro e indaguei aos meus botões: - Que diabo de palavra é essa?
Vacilei um pouco e repeti: IN-VO-LUU-CRO, dando maior ênfase à sílaba “LU”, acreditando se tratar de uma palavra paroxítona.
Ouvi o zumbido do “UHHH” e as risadinhas da turma. Fiquei pálido. Amarelei. Com a cabeça baixa, a boca amarga, eu olhei para a professora que veio em meu socorro.
A Professora Normélia explicou-me, então, que aquela palavra era proparoxítona, ou seja, sua sílaba mais forte (sílaba tônica) é a terceira da direita para a esquerda, ensinando-me a pronúncia correta, que eu repeti para a turma: IN-VÓ-LU-CRO. Acrescentou ainda que o acento agudo na sílaba “VÓ”, antepenúltima sílaba, era um indicativo das palavras proparoxítonas.
Ciente da silabada cometida, a explicação da mestra foi o gancho para minha justificativa. Reanimei-me e esclareci que, infelizmente, a página do meu livro estava borrada e não aparecia o acento agudo, identificador das palavras proparoxítonas. Mostrei o livro à professora e fui redimido.
O certo é que em minha memória ficou gravado o vexame sofrido e nunca esqueci a pronúncia e o significado da tal palavra.
Ao me lembrar do tempo do Ginásio Jackson de Figueiredo e de regras de nossa gramática, recordo-me também de um fato pitoresco vivido pelo conterrâneo Jorge Almeida. Ele e muitos outros simãodienses foram meus colegas no internato daquele colégio.
Certa noite, depois de ser determinada a hora de silêncio, o Jorge continuou conversando e fazendo barulho no dormitório. O bedel, que cuidava da disciplina naquele local, percebendo que a norma do silencio fora desrespeitada, determinou o castigo: Jorge teria de ficar de pé, em frente à porta de entrada do dormitório.
O garoto se fez de rogado e não atendeu.
Então o encarregado falou grosso: - Vai atender ou não?
E a resposta do Jorge veio na forma da lição sobre colocação pronominal, aprendida na aula de Português daquele dia:
- Meu amigo, eu só vou porque PRÓCLISE pediu, MESÓCLISE implorou e ÊNCLISE determinou...
E o riso dominou a moçada do dormitório naquela noite, inclusive o bedel...
Aracaju,
18/06/2015
Beto
Déda