quarta-feira, 29 de junho de 2016


 

Minhas lembranças de hoje se voltam para as festas juninas em Simão Dias. E a memória me transporta para a Rua dos Ribeiros, onde morávamos. Era a noite das fogueiras, dos fogos de artifícios e das comidas típicas: milho cozido, milho assado, canjica, manauê e pamonha. Iguarias que ao lembrar fico com água na boca.


Parece até que estou vendo a imagem de meu pai, em frente à mesa de jantar, separando os fogos de artifícios comprados de seu Agenor, um fogueteiro que também morava em nossa rua, quase em frente à casa de minha avó Olívia. Meu pai fazia a separação, formando pequenas rumas de traques, chuvinhas, estrelinhas, foguetinhos, coiós e umas bombas que recebiam uma denominação curiosa, devido ao som do seu estampido: peido-de-velho. Depois da divisão, ele distribuía tudo entre os filhos e netos. Fazíamos uma algazarra imensa e éramos dominados por grande alegria.


Soltávamos os fogos em frente a nossa casa, local em que meu pai acendia a tradicional fogueira de lenha em pé (em forma de feixe). Aliás, poucas eram as casas que não tinham uma fogueira acessa no dia de São João. Quando a lenha queimava, então começavam os compadrios. Os garotos e garotas ficavam compadres, com as mãos dadas, rodando em volta das brasas que sobravam da fogueira e cantando mais ou menos o seguinte:


 

 São João dormiu e


 São Pedro acordou;


 Fulana é minha comadre

 Porque São João mandou...”

 
Logicamente eu me refiro aqui aos bons e tradicionais tempos de minha infância. Atualmente as coisas mudaram. As tradições vão sendo postergadas, as fogueiras já são raras e não fazem as canjicas e os bolos de milho como antigamente: tudo é produzido em padarias e supermercados. Não tem o sabor natural, aquele gostinho formidável do que era feito em casa, no fogão de lenha e no tacho (entre meus irmãos disputávamos quem se deliciava comendo a raspa do tacho após a feitura da canjica).
 
Carvalho Déda - desenho feito pelo artista
J. Inácio em 1956.
A tradição vai desaparecendo e surgindo moda nova, com músicas diferentes (e aqui pra nós, muitas de um mau gosto insuportável).  

 
Na verdade, não é de hoje que percebemos as mudanças nos festejos juninos. Lembro-me que, às vésperas das comemorações juninas de 1956, meu pai já percebia que a tradição começava a ser esquecida.  E escreveu um bonito artigo com o título “CADÊ SÃO JOÃO”, que foi publicado no jornal “A Semana”, edição de 09 de junho de 1956, e consta no livro COLETÂNIA - CARVALHO DÉDA - VIDA OBRA (Gráfica Editora J. Andrade, 2008 – p. 201/203).

E viva a festa de São João...
 
Aracaju, 23/06/2016
BETO DÉDA