Minhas lembranças de hoje se voltam para as festas
juninas em Simão Dias. E a memória me transporta para a Rua dos Ribeiros, onde
morávamos. Era a noite das fogueiras, dos fogos de artifícios e das comidas
típicas: milho cozido, milho assado, canjica, manauê e pamonha. Iguarias que ao
lembrar fico com água na boca.
Parece até que estou vendo a imagem de meu pai, em
frente à mesa de jantar, separando os fogos de artifícios comprados de seu
Agenor, um fogueteiro que também morava em nossa rua, quase em frente à casa de
minha avó Olívia. Meu pai fazia a separação, formando pequenas rumas de traques,
chuvinhas, estrelinhas, foguetinhos, coiós e umas bombas que recebiam uma
denominação curiosa, devido ao som do seu estampido: peido-de-velho. Depois da
divisão, ele distribuía tudo entre os filhos e netos. Fazíamos uma algazarra
imensa e éramos dominados por grande alegria.
Soltávamos os fogos em frente a nossa casa, local
em que meu pai acendia a tradicional fogueira de lenha em pé (em forma de
feixe). Aliás, poucas eram as casas que não tinham uma fogueira acessa no dia de
São João. Quando a lenha queimava, então começavam os compadrios. Os garotos e
garotas ficavam compadres, com as mãos dadas, rodando em volta das brasas que
sobravam da fogueira e cantando mais ou menos o seguinte:
São João dormiu e
São Pedro acordou;
Fulana é minha comadre
Porque São João
mandou...”
Logicamente eu me refiro aqui aos bons e tradicionais
tempos de minha infância. Atualmente
as coisas mudaram. As tradições vão sendo postergadas, as fogueiras já são
raras e não fazem as canjicas e os
bolos de milho como antigamente: tudo é produzido em padarias e
supermercados. Não tem o sabor natural,
aquele gostinho formidável do que era feito em casa, no fogão de lenha e no
tacho (entre meus irmãos disputávamos quem se deliciava comendo a raspa do
tacho após a feitura da canjica).
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Carvalho Déda - desenho feito pelo artista J. Inácio em 1956. |
A tradição vai desaparecendo e surgindo moda nova, com
músicas diferentes (e aqui pra nós, muitas de um mau gosto insuportável).
Na verdade, não é de hoje que percebemos as mudanças nos festejos juninos.
Lembro-me que, às vésperas das comemorações juninas de 1956, meu pai já
percebia que a tradição começava a ser esquecida. E escreveu um bonito artigo com o título
“CADÊ SÃO JOÃO”, que foi publicado no jornal “A Semana”, edição de 09 de junho
de 1956, e consta no livro COLETÂNIA - CARVALHO DÉDA - VIDA OBRA (Gráfica Editora
J. Andrade, 2008 – p. 201/203).
E viva a festa de São João...
BETO DÉDA
Belas lembranças!!! Viva São João meu pai querido .
ResponderExcluirViva São João, minha filha querida!
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