Lembranças da Igreja Matriz e da Festa da
Padroeira de Simão Dias.
No baú que guardo as
recordações de minha vida, eu tenho um cuidado muito especial para as
lembranças das Festas de Santana, Padroeira de Simão Dias.
Nestes últimos dias acompanhei
as festividades em louvor à padroeira de minha terra através da Web-TV. E,
então, minha memória foi ativada com lembranças encantadoras do tempo que eu era
criança e, estimulado por minha saudosa Tia Nice Oliveira, participava ativamente das missas,
novenas e catecismos realizados na Igreja Matriz.
Tia Nice era
muito católica, tinha sido noviça em Convento na Bahia e fazia parte da
Congregação Religiosa das Filhas de Maria de nossa paróquia. Eu e meu saudoso sobrinho Marcelo Déda (convivemos na casa da querida tia) tivemos dela uma formidável educação
religiosa. Marcelo era cerca de 20 anos mais novo que eu e chegou a ajudar nas
cerimônias religiosas como coroinha.
Conhecíamos todos os
detalhes da igreja: a sacristia, os altares, o mezanino - local do órgão e o do
coral - que dava acesso ao campanário onde ficavam o grande relógio e os sinos.
A torre era o local que despertava
admiração, curiosidade e receio aos garotos daquela época. E o temor não era apenas
da altura da torre. O que causava medo era o que se comentava sobre o
aparecimento de almas penadas que assombravam os que ousavam subir as íngremes escadas
fazendo barulho. A subida tinha que ser encarada com seriedade, cautelosamente, pé ante pé, sem gracinhas e em silêncio.
Lembro-me que em
algumas ocasiões acompanhei com atenção pintores se equilibrando em
improvisados e elevados andaimes, renovando as cores das paredes, dos tetos e
da torre. Ao saber de um acidente com um deles, passei a sentir medo (desconforto
e ansiedade) diante de lugares altos: fato que até hoje me atormenta e causa-me
arrepios.
Dos acontecimentos
marcantes realizados na Matriz de nossa terra, não tenho dúvida de que a Festa
de Santana está em primeiro lugar. Mas outros fatos religiosos de relevância
aconteceram na paróquia simãodiense.
O mais lembrado e
importante foi o Congresso Eucarístico Diocesano, realizado em 1953, quando o Cônego
Afonso Medeiros Chaves era o pároco da cidade. Foi também a comemoração dos 50 anos de instalação do Apostolado da Oração da Paróquia. Um monumental acontecimento
religioso, de repercussão regional, cujas cerimônias ocorreram no largo da
antiga Praça Nicanor Leal (local onde hoje se realizam shows artísticos).
Lembro-me também das
Missões realizadas nos povoados e pregadas pelo Frei Eliseu Vieira, da Ordem
dos Carmelitas, e o Padre Sebastião Drago, Missionário do Coração de Maria. Ambos os sacerdotes
também participaram dos preparativos e execução do Congresso Eucarístico de
1953 e conquistaram a simpatia de nosso povo pelo carinho e espírito de solidariedade
com os menos favorecidos.
O Padre Sebastião Drago
sempre marcou sua presença nas festas religiosas de nossa cidade, desde 1953,
até a época em que o vigário de nossa paróquia era o Padre Mario Reis. Com o
dom da palavra fácil e convincente, os sermões do Padre Drago eram ouvidos com absoluta
atenção e respeito pelos fieis católicos de minha terra.
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Festa de Santana de Simão Dias (1958) Beto Déda, Heraldo Déda, Zé Valadares e Gilson de Seu Benevides. |
Sempre gostei de
participar da Festa de Santana. Na juventude não perdia a novena dos rapazes, e
na adolescência, quando trabalhava no Banco do Nordeste, estive presente nas
novenas dos bancários. Na época, a cidade contava com cerca de 40 bancários de dois bancos: o BNB e o
Banco da Produção e Comércio.
Outro ponto da Festa de
Santana que não esqueço era a “Ladainha a
Todos os Santos”, que na época era cantada pelo coro da Congregação das
Filhas de Maria. O cântico era em latim. A missa também era celebrada em latim
e o vigário celebrante ficava de costas para os fieis e de frente para o altar.
Muito diferente da celebração moderna em que os padres ficam de frente para os
fieis, que acompanham e entendem melhor o rito da missa, rezada no idioma
pátrio.
Lembro-me do canto da
ladainha em que o celebrante pronunciava o nome dos santos e o coro respondia:
“Ora pro nobis”. Quando era
mencionado mais de um santo, a resposta
vinha, também em latim, com o refrão no plural: “Orate pro
nobis”. De tanto ouvir a bonita
ladainha aprendi a cantar e, ainda nos dias atuais, sempre estou a repetir.
Neste ano não estive
presente à grande festa. Mas acompanhei via internet as novenas realizadas em
nossa Igreja Matriz, em solenidades que anteciparam a grande missa e procissão
do dia 26 de julho, dedicado à memória da avó de Jesus.
E não me acanho em
revelar que, em todas as nove noites, me emocionei muito. Especialmente ao ouvir
os lindos e harmônicos hinos cantados pelo coral da igreja, discretamente localizado no
mezanino.
E mesmo de longe, tive a alegria de rever e me lembrar de pessoas queridas...
Aracaju,
30/07/2018
BETO
DÉDA