segunda-feira, 30 de julho de 2018


Lembranças da Igreja Matriz e da Festa da Padroeira de Simão Dias.



No baú que guardo as recordações de minha vida, eu tenho um cuidado muito especial para as lembranças das Festas de Santana, Padroeira de Simão Dias.

Nestes últimos dias acompanhei as festividades em louvor à padroeira de minha terra através da Web-TV. E, então, minha memória foi ativada com lembranças encantadoras do tempo que eu era criança e, estimulado por minha saudosa Tia Nice Oliveira, participava ativamente das missas, novenas e catecismos realizados na Igreja Matriz.

Tia Nice era muito católica, tinha sido noviça em Convento na Bahia e fazia parte da Congregação Religiosa das Filhas de Maria de nossa paróquia.  Eu e meu saudoso sobrinho Marcelo Déda (convivemos na casa da querida tia) tivemos dela uma formidável educação religiosa. Marcelo era cerca de 20 anos mais novo que eu e chegou a ajudar nas cerimônias religiosas como coroinha. 

Conhecíamos todos os detalhes da igreja: a sacristia, os altares, o mezanino - local do órgão e o do coral - que dava acesso ao campanário onde ficavam o grande relógio e os sinos.  A torre era o local que despertava admiração, curiosidade e receio aos garotos daquela época. E o temor não era apenas da altura da torre. O que causava medo era o que se comentava sobre o aparecimento de almas penadas que assombravam os que ousavam subir as íngremes escadas fazendo barulho. A subida tinha que ser encarada com seriedade, cautelosamente,  pé ante pé, sem gracinhas e em silêncio.

Lembro-me que em algumas ocasiões acompanhei com atenção pintores se equilibrando em improvisados e elevados andaimes, renovando as cores das paredes, dos tetos e da torre. Ao saber de um acidente com um deles, passei a sentir medo (desconforto e ansiedade) diante de lugares altos: fato que até hoje me atormenta e causa-me arrepios.

Dos acontecimentos marcantes realizados na Matriz de nossa terra, não tenho dúvida de que a Festa de Santana está em primeiro lugar. Mas outros fatos religiosos de relevância aconteceram na paróquia simãodiense.


O mais lembrado e importante foi o Congresso Eucarístico Diocesano, realizado em 1953, quando o Cônego Afonso Medeiros Chaves era o pároco da cidade. Foi também a comemoração dos 50 anos de instalação do Apostolado da Oração da Paróquia. Um monumental acontecimento religioso, de repercussão regional, cujas cerimônias ocorreram no largo da antiga Praça Nicanor Leal (local onde hoje se realizam shows artísticos).

Lembro-me também das Missões realizadas nos povoados e pregadas pelo Frei Eliseu Vieira, da Ordem dos Carmelitas, e o Padre Sebastião Drago, Missionário do Coração de Maria. Ambos os sacerdotes também participaram dos preparativos e execução do Congresso Eucarístico de 1953 e conquistaram a simpatia de nosso povo pelo carinho e espírito de solidariedade com os menos favorecidos.

O Padre Sebastião Drago sempre marcou sua presença nas festas religiosas de nossa cidade, desde 1953, até a época em que o vigário de nossa paróquia era o Padre Mario Reis. Com o dom da palavra fácil e convincente, os sermões do Padre Drago eram ouvidos com absoluta atenção e respeito pelos fieis católicos de minha terra.

Festa de Santana de Simão Dias (1958)
Beto Déda, Heraldo Déda, Zé Valadares e Gilson de Seu Benevides.
Sempre gostei de participar da Festa de Santana. Na juventude não perdia a novena dos rapazes, e na adolescência, quando trabalhava no Banco do Nordeste, estive presente nas novenas dos bancários. Na época, a cidade contava com cerca de 40 bancários de dois bancos: o BNB e o Banco da Produção e Comércio. 

Outro ponto da Festa de Santana que não esqueço era a “Ladainha a Todos os Santos”, que na época era cantada pelo coro da Congregação das Filhas de Maria. O cântico era em latim. A missa também era celebrada em latim e o vigário celebrante ficava de costas para os fieis e de frente para o altar. Muito diferente da celebração moderna em que os padres ficam de frente para os fieis, que acompanham e entendem melhor o rito da missa, rezada no idioma pátrio.

Lembro-me do canto da ladainha em que o celebrante pronunciava o nome dos santos e o coro respondia: “Ora pro nobis”. Quando era mencionado  mais de um santo, a resposta vinha, também em latim, com o refrão no plural: “Orate pro nobis”.  De tanto ouvir a bonita ladainha aprendi a cantar e, ainda nos dias atuais, sempre estou a repetir.

Neste ano não estive presente à grande festa. Mas acompanhei via internet as novenas realizadas em nossa Igreja Matriz, em solenidades que anteciparam a grande missa e procissão do dia 26 de julho, dedicado à memória da avó de Jesus. 

E não me acanho em revelar que, em todas as nove noites, me emocionei muito. Especialmente ao ouvir os lindos e harmônicos hinos cantados pelo coral da igreja, discretamente localizado no mezanino. 

E mesmo de longe, tive a alegria de rever e me lembrar de pessoas queridas...



Aracaju, 30/07/2018
BETO DÉDA