A arte e a vida.
O desempenho de um bom artista me encanta
e se ele é meu conterrâneo, aí então, eu fico maravilhado e me transformo em
incondicional fã. E ao dizer isto, confesso que fiquei imensamente
alegre ao presenciar, recentemente, a atuação daquele que considero o máximo na
arte de representar e que tenho uma grande admiração desde os velhos tempos. O
artista é Harildo Déda.
E não é à toa esta minha confissão.
Além de ser um grande ator e reconhecido mestre da cena do teatro baiano, ele
também é simãodiense, e, mais ainda, é meu primo, filho do meu sempre lembrado
tio Paulo Déda.
Também não é de agora que falo aos
parentes e amigos sobre o orgulho que sempre tive e tenho ao vê-lo no teatro
baiano, no cinema e em novelas da TV.
Pois bem. Recentemente vibrei com a
excelente apresentação de Harildo em um vídeo com o título “Morrer faz mal à
saúde”, publicado no YouTube.
Harildo Déda em "Morrer faz mal à saúde" (ver no YuoTube).
Harildo Déda em "Morrer faz mal à saúde" (ver no YuoTube).
E depois de assistir ao vídeo, veio-me a
lembrança de um fato real que aconteceu lá pelas bandas da Rua do Curral, nas proximidades
da Praça de São João, em Simão Dias.
Repasso para os amigos o acontecimento e o
faço apurando cuidadosamente minha memória, isto porque o fato ocorreu há quase
sessenta anos.
Maria de Tal era uma moça magra, alta, com
cerca de trinta anos de idade, mas que aparentava ser mais velha, porque a
dureza dos anos vividos começava, prematuramente, a dar sinais nas rugas do
rosto comprido e prateando de alguns fios de seus longos cabelos. Ela não era
bonita, mas transmitia simpatia e, embora fosse tantã da cabeça, era apreciável
no seu modo de conversar.
Certa tarde, Maria estava suada, em frente
a um quente fogão de lenha, torrando grãos de café, quando soube de uma notícia
que abalou ainda mais seu pouco juízo. Soubera que seu noivado estava
desmanchado. O traiçoeiro noivo já estava amancebado com outra e o projeto de
casamento da infeliz moça tinha ido pra cucuias.
A notícia causou-lhe uma tormenta no fraco
juízo e ela reagiu puxando os próprios cabelos, dando pulos e gritos,
alvoroçando os vizinhos. Descontrolada, partiu em disparada porta a fora e
desceu ladeira abaixo em direção ao poço de tomar banho do Caiçá.
Chegando ao riacho, sentou-se à margem e baixou a cabeça entre os joelhos
de suas compridas pernas.
Quem primeiro se aproximou, para satisfazer
a insuperável curiosidade, foi um morador daquela redondeza, conhecido como Bão
Preto, que indagou:
- Que diabo tá você fazendo aí na
beira do Caiçá, moça?
Ela levantou a cabeça e com os olhos
lacrimejando respondeu:
- Vim acabar com minha vida. Como eu tava
torrando café e meu corpo tá muito quente, tou esperando esfriar pra pular
no Caiçá e me afogar. Não quero mais viver... Mas prefiro morrer afogada e não
estuporada...
- Toma juízo, deixa de tuliça,
muié, - disse o velho Bão, que pegou no braço da frustrada
suicida e cuidadosamente levou-a pra casa.
E ao passar, pelos curiosos, ele piscou o
olho esquerdo e ditou:
- Se afogá com o corpo quente faz má pra
saúde, porque estupora...
ARACAJU,
11/08/2017
BETO DÉDA