sexta-feira, 11 de agosto de 2017




A arte e a vida.

O desempenho de um bom artista me encanta e se ele é meu conterrâneo, aí então, eu fico maravilhado e me transformo em incondicional fã.  E ao dizer isto, confesso que fiquei imensamente alegre ao presenciar, recentemente, a atuação daquele que considero o máximo na arte de representar e que tenho uma grande admiração desde os velhos tempos. O artista é Harildo Déda.

E não é à toa esta minha confissão.  Além de ser um grande ator e reconhecido mestre da cena do teatro baiano, ele também é simãodiense, e, mais ainda, é meu primo, filho do meu sempre lembrado tio Paulo Déda.  

Também não é de agora que falo aos parentes e amigos sobre o orgulho que sempre tive e tenho ao vê-lo no teatro baiano, no cinema e em novelas da TV. 

Pois bem. Recentemente vibrei com a excelente apresentação de Harildo em um vídeo com o título “Morrer faz mal à saúde”, publicado no YouTube.  


                              
                 Harildo Déda em "Morrer faz mal à saúde" (ver no YuoTube).

E depois de assistir ao vídeo, veio-me a lembrança de um fato real que aconteceu lá pelas bandas da Rua do Curral, nas proximidades da Praça de São João, em Simão Dias.

Repasso para os amigos o acontecimento e o faço apurando cuidadosamente minha memória, isto porque o fato ocorreu há quase sessenta anos.

Maria de Tal era uma moça magra, alta, com cerca de trinta anos de idade, mas que aparentava ser mais velha, porque a dureza dos anos vividos começava, prematuramente, a dar sinais nas rugas do rosto comprido e prateando de alguns fios de seus longos cabelos. Ela não era bonita, mas transmitia simpatia e, embora fosse tantã da cabeça, era apreciável no seu modo de conversar.

Certa tarde, Maria estava suada, em frente a um quente fogão de lenha, torrando grãos de café, quando soube de uma notícia que abalou ainda mais seu pouco juízo. Soubera que seu noivado estava desmanchado. O traiçoeiro noivo já estava amancebado com outra e o projeto de casamento da infeliz moça tinha ido pra cucuias. 

A notícia causou-lhe uma tormenta no fraco juízo e ela reagiu puxando os próprios cabelos, dando pulos e gritos, alvoroçando os vizinhos. Descontrolada, partiu em disparada porta a fora e desceu ladeira abaixo em direção ao poço de tomar banho do Caiçá.  Chegando ao riacho, sentou-se à margem e baixou a cabeça entre os joelhos de suas compridas pernas.

Quem primeiro se aproximou, para satisfazer a insuperável curiosidade, foi um morador daquela redondeza, conhecido como Bão Preto, que indagou:

- Que diabo tá você fazendo aí na beira do Caiçá, moça?

Ela levantou a cabeça e com os olhos lacrimejando respondeu:

- Vim acabar com minha vida. Como eu tava torrando café e meu corpo tá muito quente, tou esperando esfriar pra pular no Caiçá e me afogar. Não quero mais viver... Mas prefiro morrer afogada e não estuporada...

Toma juízo, deixa de tuliça, muié, -  disse o velho Bão, que pegou no braço da frustrada suicida e cuidadosamente levou-a pra casa.

E ao passar, pelos curiosos, ele piscou o olho esquerdo e ditou: 

- Se afogá com o corpo quente faz má pra saúde, porque estupora...

ARACAJU, 11/08/2017


BETO DÉDA