domingo, 14 de agosto de 2016

Presidenta ou Presidente? Gafe ou questão ideológica?
Recentemente a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, foi indagada por um de seus pares se preferia ser  chamada de “presidente” ou “presidenta” daquela corte de justiça. Com o um sorriso irônico, ela justificou primeiramente seu entendimento para depois externar sua opção, afirmando:
“Eu fui estudante e EU SOU AMANTE DA LÍNGUA PORTUGUESA. Acho que o cargo é de presidente, não é não?”
 
Ministra Cármen Lúcia quando ocorreu o fato polêmico
 A preferência por ser chamada de presidente não é passível de crítica. Porque ambas as formas estão corretas. Mas a justificativa da ministra foi um lamentável erro ou um “ato falho”, como diria o saudoso amigo Átila Lisa, ou seja, uma gafe, verdadeira mancada. Na verdade foi uma indiscrição que não se admite em pessoa que ocupará a direção de um dos poderes da república brasileira.
A forma como justificou sua resposta gerou uma série de interpretações: a) deselegância e maldade perante a Presidenta Dilma; b) ignorância do sentido do verbete “presidenta” em nossa língua; e c) agradar aos partidários do impeachment e revelar sua ideologia.
Não resta dúvida de que o vocábulo “PRESIDENTA” está presente em dicionários da língua portuguesa e enciclopédias, como substantivo feminino. A preferência de Dilma em ser chamada de presidenta expressa sua vontade de evidenciar o fato de que foi a primeira mulher a ser eleita como presidenta do Brasil. E o importante é que o vocábulo está absolutamente de acordo com lexicólogos de nossa língua. Neste sentido, vale lembrar que o verbete “Presidenta” consta em dicionários e enciclopédias, como substantivo feminino, com significado de: mulher que se elege presidente de um país (Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa); mulher que preside (Novo Dicionário da Língua Portuguesa-Aurélio), e mulher que exerce função de presidente (Nova Enciclopédia Delta Larousse).
De notar-se que a resposta da ministra repercutiu como uma maldade ou, no mínimo, uma deselegância com a Presidenta Dilma. E não foi pouco o vexame que a declaração causou nos meios sociais, especialmente agora, quando a população brasileira se acha dividida por atos de políticos e da mídia que tentam de todos os meios tomar o poder. O fato alcançou uma dimensão ainda maior diante da fase negativa e de incredulidade porque passa o Poder Judiciário, em grande parte decorrente de fatos e declarações equivocadas de alguns magistrados e ministros togados.
Nos bancos da faculdade e no exemplo de bons aplicadores do direito, aprendemos que o magistrado deve ser comedido no seu falar, especialmente diante de órgãos de divulgação.  A falta de prudência de um juiz, em seus atos e declarações, pode transparecer parcialidade e dar azo à interpretação de que estaria concedendo favorecimentos indevidos ou de ter ideologia preconceituosa. Lamentavelmente se tem conhecimento de que essa atitude vem acontecendo com frequência e o pior, servem de péssimo exemplo.
Para mim, no meu modo simples de pensar, acredito que a ministra cometeu um lamentável equívoco e que, doravante, certamente pensará duas vezes antes de soltar o verbo.
Por outro lado, diante desta polêmica, não posso negar que me lembrei do saudoso tio Paulo que, se vivo estivesse, aproveitaria para transformar a criticada justificativa em uma história “penosa”, transbordando humor.  E, não tenham dúvida,  eu escreveria tal "penosa" aqui, observando a devida cautela em trocar os nomes dos personagens...

Aracaju, 14/08/2016

BETO DÉDA