sexta-feira, 4 de julho de 2025

Uma homenagem a Castro Alves.


Nesta primeira semana de julho, mês de Senhora Santana, minha memória foi direcionada ao meu querido e saudoso irmão, Artur Oscar de Oliveira Déda. E a lembrança ocorreu ao examinar meus implacáveis arquivos e reler a Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Sergipe, edição número 15, ano 1971. Nessa revista, às páginas 173/180, foi publicado o texto da palestra pronunciada por Artur Oscar, no Auditório da Faculdade de Direito, em cerimônia comemorativa ao centenário da morte do poeta Castro Alves.


Naquela época , o nome de simãodienses abrilhantavam o corpo docente de nossa Faculdade de Direito. Lá estavam o Dr. Belmiro Silveira Gois, que lecionava Direito Civil I; e Artur Oscar, que ensinava Direito Civil II. Na cadeira de Direito Internacional Público estava o Dr. Joviniano de Carvalho Neto, filho do renomado jurista simãodiense Dr. Carvalho Neto, que fora professor emérito daquela Faculdade.


Segundo divulga o citado exemplar da Revista da UFS, a conferência proferida pelo Prof. Artur Oscar “contou com a presença de Professores e grande assistência de alunos”. O palestrante apresentou um estudo sobre o poeta baiano Castro Alves, evidenciando seu ideal libertário e sua luta contra a escravidão, com poemas que tocavam a alma do povo, destacando-se: “Navio Negreiro” e “Vozes d’África”.


Não fui aluno escolar ou universitário do meu saudoso irmão, embora tenha feito o curso de Direito, mas ele e meu pai foram meus excepcionais mestres. Como eu era curioso, ficava boquiaberto acompanhando os bate-papos culturais entre eles, e fazia perguntas e recebia lições formidáveis, com orientações para ler bons livros. Quando eu era jovem, não tínhamos televisão, nem telefones celulares, mas tínhamos todo o tempo disponível para leitura, e aproveitei muito isto, lendo livros clássicos da pequena biblioteca de meu pai. Foi por orientação deles que me interessei pela poesia de Castro Alves. E decorei estrofes de poemas que me impressionaram e algumas delas são citadas na palestra de Artur.


Quando meu pai (Carvalho Déda) publicou os livros “Simão Dias – fragmentos de sua história” e “Brefácias e Burundangas do Folclore Sergipano”, presenteei exemplares a colegas do Banco do Nordeste e, invariavelmente, reproduzia na dedicatória o seguinte trecho pinçado de uma estrofe tirada do poema “O Livro e a América”, em que o magistral Castro Alves dedicava ao Grêmio Literário”,

Oh! Bendito o que semeia

Livros… livros à mão cheia…

E manda o povo pensar!

O livro caindo n’alma

É germe – que faz a palma,

É chuva – que faz o mar.”

 Do poema “Navio Negreiros”, nunca esqueci a estrofe em que o poeta percebe a bandeira que “imprudente na gávea tripudiava”, transformando-se em manto impuro, para cobrir tanta infâmia e covardia. Eis a estrofe:

Auriverde pendão de minha terra,

      Que a brisa do Brasil beija e balança,

 Estandarte que a luz do sol encerra

   E promessas divinas da esperança…

Tu que, da liberdade após a guerra

Foste hasteado dos heróis na lança

Antes te houvessem roto na batalha,

      Que servires a um povo de mortalha!…”

Sobre esta estrofe, fico a pensar o que escreveria o grande poeta, se vivesse conosco na atualidade, e notasse que o nosso estandarte fora indignamente raptado para transformar-se em manto de extremistas, que estimulam o ódio e o preconceito.  

...

Acredito que as recordações que tive não sugiram do nada. É possível que tenha sido impulsionado pelo inconsciente coletivo ou a sincronicidade, tudo despertado pela proximidade da data em que o “Poeta dos Escravos”, em  06 de julho de 1871, com apenas 24 anos de vida produtiva, passou para o mundo celestial. No próximo domingo perfaz 153 anos que nos deixou.


Pensando também em homenagear o grande poeta do Brasil, transcrevo, a seguir, o texto escrito por meu saudoso irmão Artur Oscar, e que serviu para sua palestra em solenidade realizada na UFS, em julho de 1971:








E para encerrar, expresso aqui minha alegria em relembrar esses acontecimentos para homenagear um baiano moço e genial, que usando a poesia, lutou bravamente contra a escravidão e na defesa da liberdade. Viva Castro Alves!

Aracaju, 04/07/2025

Beto Déda