segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A PROFESSORA OLDA DANTAS SOLFEJANDO COM OS ANJOS.


Na última semana, partiu para dimensão celestial a professora do curso primário do Grupo Escolar Fausto Cardoso, D. Olda do Prado Dantas. Não obstante sua ausência física, a ilustre mestra renasce no coração dos simãodienses, continuando presente na memória de todos aqueles que tiveram a felicidade do seu convívio.

Tenho recordações maravilhosas dos meus tempos de criança, quando estudava no Grupo Escolar de minha terra e aprendia as primeiras lições com a Professora Olda. Além de cuidar do conjunto de disciplinas dos primeiros anos do curso, ela também se dedicava, com maestria, a despertar entre os estudantes mirins o gosto pelo canto orfeônico. Naquela época a direção da escola incentivava às crianças a cantarem hinos pátrios e músicas folclóricas, para despertar o sentimento cívico, a disciplina e o desenvolvimento intelectual. E neste ponto a Professora Olda Dantas teve um papel importantíssimo.

Não esqueço seu corpo pequeno gesticulando com exímia maestria o meu canto favorito de menino, de refrão inesquecível:

“Havia um pastorzinho,
 Que vivia a cantar:
 Dó, ré, mi, fá... fá...fá
 Dó, ré...ré...ré
 Dó, fá, sol, mi... mi...
 Dó, ré mi, fá...fá...fá.”

Diariamente, no início das aulas, tia Vina ou D. Rosália tocava o sino e todos os alunos perfilavam-se no grande corredor da escola para cantar o hino escolhido para dia (Hino Nacional, da Independência, da Bandeira etc.), culminando sempre com o hino do próprio grupo, de letra do meu saudoso pai, que além de outras atividades foi inspetor escolar e diretor daquele Grupo. Relembro aqui os versos de nosso hino, que cantávamos garbosos, sob a regência da querida Professora Olda:
"Somos do Grupo Fausto Cardoso/
Disciplinados estudantes.
Cada estudante, um corajoso
E cada mestre, um bandeirante.

A escola chama, a pátria quer
Que a juventude venha aprender/
Os nossos livros são os instrutores
Que nos ensinam a combater.

A pátria quer que o juvenil,
Estudioso e varonil,
Seja a defesa do Brasil."

Ao ensinar as lições de história ela tinha um método importante para envolver os estudantes nos temas abordados. E para isto estimulava a participação dos alunos, que pronunciavam, em coro, a última sílaba de cada ensinamento repetido. Lembro-me bem quando ela discorria sobre o descobrimento do Brasil e, ao final, solicitava a participação da classe. Dizia ela: 
“O Brasil foi descoberto pelos portugueses no ano de hum mil e quinhen...” E a turma respondia em coro a última sílaba: “...tos!” 

Ou então “Quem descobriu o Brasil foi Pedro Alvares Ca...” E a meninada gritava: “...bral”.

Prof. Olda, ao 100 anos,  na Igreja Presbiteriana
A atuação de D. Olda não se limitou ao ensino. Ela teve um desempenho formidável em nosso meio, partilhando e dividindo com a comunidade o admirável aprendizado recebido de seus pais: Manoel Fraga Dantas e D. Grigória do Prado Dantas. Sua dedicação à Igreja Presbiteriana de nossa cidade repercute ainda hoje e sua atuação representa um paradigma para todos os que acreditam em Deus e na bondade das pessoas, independentemente do credo professado. A solidariedade de D. Olda para com os aflitos é um exemplo a ser seguido.

Uma pessoa tão grata aos conterrâneos não desaparece de nossas lembranças.  Acredito que, ao desencarnar, nosso espírito passa para outra dimensão e que lá, nos jardins celestiais, a querida professora já esteja reunindo as criancinhas de Simão Dias que cedo passaram para o Reino dos Céus. Creio que ali, com a bondade de sempre, a Professora Olda estará orientando com maestria um coro de anjos de nossa terra a cantar o hino do “Pastorzinho que solfejava o dó-ré-mi-fá...fá...fá...”.

Aracaju, 07/11/2016

BETO DÉDA