O Dia que Sansão visitou Simão Dias
Nesta semana me lembrei do dia que um senhor conhecido por Sansão apresentou-se em minha terra natal.
A lembrança aconteceu em decorrência de uma conversa recente que tive com minha filha Carla, quando ele sugeriu cortar meus raros e compridos cabelos, que eu deixara arrepiados e esvoaçantes, imitando o personagem Ravengar, interpretado por Antônio Abujamra na novela “Que Rei Sou Eu?”.
Ao ouvir minha resposta desfavorável ao corte, D. Lena fez a seguinte observação: “Certamente Beto quer deixar crescer pra fazer tranças...”
Então eu complementei que realmente faria uma grande trança, igual a do forte Sansão que visitou Simão Dias na segunda metade dos anos 50, época que eu era garoto. E para que os mais novos conheçam os detalhes do aparecimento de Sansão em nossa terra, passo a narrar como tudo aconteceu.
A notícia da visita foi divulgada por um circo que estava armado no largo do Bonfim de Baixo, no local que hoje é um anfiteatro (praça de eventos), na antiga Praça Nicanor Leal. A divulgação foi feita pelas ruas da cidade por um palhaço, com pernas de pau, usando um grande funil para ampliar o som. Dizia o anunciante que o Sansão estaria se apresentando no circo na noite de domingo e que para demonstrar sua força e poder, faria uma ligeira apresentação gratuita na Praça Barão de Santa Rosa, local em que puxaria um caminhão usando a força de seus cabelos.
Como sempre fui muito curioso e não queria perder detalhes do acontecimento, fui para a praça no início da tarde daquele domingo. O local escolhido para apresentação foi em frente ao consultório de Dr. Salustino, ou seja, no trecho entre o casarão do Hotel de Seu Liminha (que depois passou a ser o hotel de D. Miné e hoje é a casa da Professora Virgilinha) e, na outra esquina, a casa onde morava Seu Libério Fonseca, que depois foi do pai de Floriano Nascimento. Tudo já estava sendo preparado: o caminhão de Dão Rodrigues – marido de D. Matilde Dortas, que era diretora do Grupo Escolar Fausto Cardoso – já estava ali estacionado e o popular Zé Súia cuidava de varrer o local, a pedido do Sansão, de modo a evitar que a areia sobre o paralelepípedo provocasse o deslizamento de seus pés no esforço para puxar o caminhão.
Passei a ouvir com atenção os comentários do grupo de adultos que se juntou em frente ao caminhão, alguns crédulos e outros duvidando da possibilidade do tal Sansão mover o pesado caminhão. E diversas foram as opiniões, muitas delas seguidas de alegres risadas...
Pouco depois, quando já havia um razoável número de curiosos, apareceu o Sansão. Era um homem realmente forte, alto, moreno, cabelos longos dispostos em uma grossa trança; usava um traje típico, numa imitação desengonçada do artista Victor Mature, no filme Sansão e Dalila, dirigido por Cecil B. DeMille.
Tudo foi cuidadosamente preparado. Uma forte corda foi amarada na frente do caminhão e foi o próprio Dão que ajudou a fazer a amarração dos cordões dispostos no final do cabo à trança de cabelos do musculoso artista. Ecoaram gritos de vários lugares e o coordenador do evento pediu silêncio, para o atleta se concentrar.
Após um ligeiro silêncio, foi dado o sinal e o Sansão, com grande esforço, começou a puxar o pesado caminhão, vagarosamente, até alcançar a marca de cinco metros, marcados no piso de paralelepípedo. Em seguida ouviu-se os aplausos, inicialmente tímidos que se transformaram em grande aclamação. E o artista agradeceu curvando-se diante da plateia.
Naquela noite, o circo esgotou os ingressos. O grande astro foi Sansão, que fez várias apresentações, entre as quais lembro-me da quebra de vários tijolos com um simples soco, e da parte em que o forte simãodiense Braúna (que cuidava do balanço de seu Raimundo nas festas natalinas) foi convidado a manejar uma pesada marreta e quebrar uma enorme pedra colocada em cima do busto do artista. E o Braúna caprichou. Essa foi a cena mais aplaudida.
No meu pensar de garoto, acreditei na veracidade do espetáculo. Mas o acontecimento foi motivo de várias discussões no correr da semana e não faltaram comentários adversos, dos inconformados, sugerindo que tudo não passava de uma grande fraude. Seria?
Não! Para mim não houve truque, nem magia! Não mudei meu ponto de vista do tempo de garoto. Os saudosos Dão Rodrigues e Braúna jamais participariam de uma falsidade.
Ainda hoje tive a alegria de perceber que não foi ilusória minha convicção. Pesquisei via internet e notei que tais proezas acontecem em várias partes do mundo. Como exemplo, constatei que na Inglaterra um indiano conseguiu puxar pelos cabelos um ônibus duplo, daqueles usados em Londres, pesando 8 toneladas, num percurso de 20 metros e seu nome ficou registrado na lista de recordes do Guinness Book. A façanha do Sansão que esteve em Simão Dias também acontecia e acontece em outras partes do mundo.
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Diante do que narrei é de se perceber que se trata de coisa de idoso, que relembra de velhos acontecimentos partindo de uma simples discussão sobre o desalinhamento de seus poucos e quase esbranquiçados cabelos.
Mas é melhor me entreter com meu prolixos textos sobre os bons tempos de criança do que se preocupar com as ameaças de guerra que atualmente ocorrem entre os dirigentes de grandes nações.
É o que queria transmitir aos meus amigos e conterrâneos.
Aracaju, 04/02/2025
Beto Déda