sexta-feira, 20 de dezembro de 2019


Saudades do meu sobrinho...

A dor da saudade açoita minha mente nestes últimos dias. Esta aflição descontrolada me atinge desde a noite do dia 14 do mês em curso, quando ocorreu o passamento súbito do meu querido sobrinho Déda, filho de Maura e Haroldo.

Embora todos nós sejamos conhecidos pelo sobrenome Déda, na intimidade de nossa família somente duas pessoas têm o apelido de Déda. Um era meu sobrinho José de Carvalho Déda Neto, e o outro é meu primo José Albério Déda, filho de tio João Déda/Pequena. Diferenciávamos pelo acréscimo do nome do pai. O meu sobrinho era identificado com Déda de Haroldo e o primo é conhecido como Déda de tio João.

Sempre tive um apego forte com esse meu sobrinho Déda, desde o tempo em que ele era criança.

Uma inesquecível  lembrança: conversando com Déda 
Morei na casa de seus pais quando era estudante. Maura e Haroldo tinham comigo o mesmo cuidado que dedicavam aos pequeninos filhos. Tenho por todos eles um carinho muito grande. Mas, entre eles, o mais apegado era o Déda.

Sem qualquer desmerecimento aos demais, no último contato que mantivemos, ele repetiu o que sempre dizia sem reservas: que eu era o seu tio preferido. E, sem dúvida, havia reciprocidade no que dizia.

O fato é que sempre estivemos juntos, participando os grandes momentos da família e alegrando as conversas com fatos chistosos vividos por nossos ancestrais.

Não esqueço os tempos em que ele, ainda jovem, passava as férias em minha casa, em Simão Dias. Foi logo depois de uma dessas férias que eu presenteei-lhe com uma bicicleta, que tinha uma particularidade: era dobrável e cabia no meu fusca azul (antigo carro Volkswagen) o que facilitava o transporte. 

Um ponto curioso que sempre me recordo é que, no dia que fui pegar a bicicleta, o vendedor fez a propaganda da parte dobradiça, com uma fala mansa e engraçada, dizendo: - Veja a qualidade especial do ‘galfo’.  O interessante da fala do comerciante  é que a dobrável de Déda passou a ser chamada, por ele mesmo, em tom de gozação, como a magrela do “galfo” torto.

Depois de sua formatura em Odontologia, ele foi servir à Marinha como oficial dentista, esse foi seu tempo como o Tenente Déda. Serviu em Salvador e, embarcado, andou pelos mares em volta ao mundo. Contou-me que em um determinado porto, animou-se para fazer uma tatuagem. Foi aconselhado pelo capitão do navio a não fazer. Os argumentos do comandante lhe convenceram, mas sempre estava a lembrar de seu interesse pela tatuagem.
Déda quando era marinheiro (Tenente Déda)

Realizado seu período na Marinha, voltou à sua atividade como odontólogo em Aracaju.

Déda era um liberal, gostava muito de ler e costumava me presentear com bons livros, quer no meu aniversário ou nas festas de Natal. Os seus mimos sempre vinham com dedicatórias carinhosas.  Há poucos meses me deu um presente singular: um DVD com o filme “AMARCORD”, de Federico Fellini. O título do filme corresponde à expressão italiana “io me recordo” (eu me lembro). Na capa do DVD, ele escreveu: “Para tio Beto, nosso contador de história.  Déda, Edvane e filhos”.

Meu sobrinho adorava a vida e pouco antes de sua partida eterna, ele dizia com amargura que não queria nos deixar; ainda tinha muito a fazer.

Não obstante a dor da saudade, o importante é lembrar os momentos felizes que participamos juntos. Mas o problema é que as lembranças aceleram meu coração e as incontroláveis lágrimas ao fluírem em meus olhos, embargam os pensamentos. 



Que o nosso querido Déda descanse em paz, mas que sua lembrança continue alegre e imortal em nossos corações.

Aracaju, 20/12/2012
BETO DÉDA