Saudades do meu
sobrinho...
A dor da saudade açoita
minha mente nestes últimos dias. Esta aflição descontrolada me atinge desde a
noite do dia 14 do mês em curso, quando ocorreu o passamento súbito do meu
querido sobrinho Déda, filho de Maura
e Haroldo.
Embora todos nós
sejamos conhecidos pelo sobrenome Déda, na intimidade de nossa família somente
duas pessoas têm o apelido de Déda. Um era meu sobrinho José de Carvalho Déda Neto, e o outro é meu primo José Albério Déda,
filho de tio João Déda/Pequena. Diferenciávamos pelo acréscimo do nome do pai.
O meu sobrinho era identificado com Déda de Haroldo e o primo é
conhecido como Déda de tio João.
Sempre tive um apego
forte com esse meu sobrinho Déda, desde o tempo em que ele era criança.
![]() |
Uma inesquecível lembrança: conversando com Déda |
Morei na casa de seus
pais quando era estudante. Maura e Haroldo tinham comigo o mesmo cuidado que
dedicavam aos pequeninos filhos. Tenho por todos eles um carinho muito grande. Mas,
entre eles, o mais apegado era o Déda.
Sem qualquer desmerecimento
aos demais, no último contato que mantivemos, ele repetiu o que sempre dizia
sem reservas: que eu era o seu tio preferido. E, sem dúvida, havia
reciprocidade no que dizia.
O fato é que sempre
estivemos juntos, participando os grandes momentos da família e alegrando as
conversas com fatos chistosos vividos por nossos ancestrais.
Não esqueço os tempos
em que ele, ainda jovem, passava as férias em minha casa, em Simão Dias. Foi
logo depois de uma dessas férias que eu presenteei-lhe com uma bicicleta, que
tinha uma particularidade: era dobrável e cabia no meu fusca azul (antigo carro Volkswagen) o que facilitava o
transporte.
Um ponto curioso que sempre me recordo é que, no dia que fui pegar
a bicicleta, o vendedor fez a propaganda da parte dobradiça, com uma fala mansa
e engraçada, dizendo: - Veja a qualidade especial
do ‘galfo’. O interessante da fala do comerciante é que a dobrável de Déda passou a ser chamada,
por ele mesmo, em tom de gozação, como a magrela do “galfo” torto.
Depois de sua formatura em Odontologia, ele foi servir à
Marinha como oficial dentista, esse foi seu tempo como o Tenente Déda. Serviu em Salvador e, embarcado, andou pelos mares em
volta ao mundo. Contou-me que em um determinado porto, animou-se para fazer uma
tatuagem. Foi aconselhado pelo capitão do navio a não fazer. Os argumentos do
comandante lhe convenceram, mas sempre estava a lembrar de seu interesse pela
tatuagem.
![]() |
Déda quando era marinheiro (Tenente Déda) |
Realizado seu período na Marinha, voltou à sua atividade como
odontólogo em Aracaju.
Déda era um liberal, gostava muito de ler e costumava me
presentear com bons livros, quer no meu aniversário ou nas festas de Natal. Os
seus mimos sempre vinham com dedicatórias carinhosas. Há poucos meses me deu um presente singular:
um DVD com o filme “AMARCORD”, de
Federico Fellini. O título do filme corresponde à expressão italiana “io me recordo” (eu me lembro). Na capa
do DVD, ele escreveu: “Para tio Beto,
nosso contador de história. Déda, Edvane
e filhos”.
Meu sobrinho adorava a
vida e pouco antes de sua partida eterna, ele dizia com amargura que não queria
nos deixar; ainda tinha muito a fazer.
Não obstante a dor da
saudade, o importante é lembrar os momentos felizes que participamos juntos.
Mas o problema é que as lembranças aceleram meu coração e as incontroláveis
lágrimas ao fluírem em meus olhos, embargam os pensamentos.
Que o nosso querido
Déda descanse em paz, mas que sua lembrança continue alegre e imortal em nossos
corações.
Aracaju,
20/12/2012
BETO
DÉDA
Linda e merecida homenagem! Eu sou testemunha deste amor recíproco de vocês.
ResponderExcluirDéda também foi o primo mais ligado comigo, tinha a minha idade e, apesar de não termos tido uma convivência cotidiana, tínhamos uma afinidade imensa, batíamos longos papos e nos gostávamos muito. Era comum as pessoas me acharem parecido com ele e parecíamos mesmo, e não apenas fisicamente, mas também no jeito de pensar e nas ironias que transformavam as nossas conversas em uma terapia repleta de gostosas gargalhadas provocadas mutuamente. Até mesmo no hospital e com o incômodo dele diante da situação em que se encontrava nós demos boas risadas.
Também senti muito a sua partida. Sonhei com ele na primeira noite após a sua partida e fiz este comentário respondendo a uma postagem de Francisca no whatsapp:
Déda era bonito, simpático, comunicativo, brincalhão e uma pessoa que agradava e prendia todo mundo que desfrutava do seu papo.
Déda era culto, inteligente, tinha bom gosto. Gostava de artes, de livros, de filmes, de música, de história, de piadas inteligentes e dos prazeres das boas companhias.
Déda era cheio de vida e por isso ele tinha pânico da morte.
Ele disse-me uma vez que nunca se conformaria com a partida dos pais e dos parentes mais próximos porque não teria estrutura psicológica para suportar essa dor. Por várias vezes eu tentei levá-lo ao Centro Espírita na tentativa de fazê-lo encarar a morte como um fenômeno natural, que mesmo causando o sofrimento da saudade pode ser encarada sem pânico, mas Déda tinha muito medo de almas e sempre fugiu desse assunto.
Eu achava que ele venceria a quimioterapia com facilidade, mas ontem eu pensei diferente, quando lembrei do pânico que ele tinha da doença, dos hospitais e, principalmente, da velhice. Assim, acho que Deus olhou a situação dele, viu nele tanto merecimento que resolveu poupá-lo dos grandes constrangimentos humanos e o levou em paz e carinhosamente para prados celestes, onde ele deve estar recompondo suas forças com muita serenidade.
Essa noite eu sonhei que todos vocês haviam se tranquilizado depois de ver num jornal as fotos dos pés dele, onde estava escrito: COMPLETEI A MINHA PASSAGEM EM PAZ.
Maravilha de palavras, meu querido Marco. Um abraço.
Excluir