A
entrevista de um simãodiense ilustre.
Na noite deste sábado tive a satisfação de assistir à
entrevista que Harildo Déda concedeu
a Denny Fingergut no programa Perfil & Opinião da TVE-BA, em 05.06.2019.
Harildo Déda é um simãodiense admirável. Ele faz parte
daquela selecionada turma dos que não fogem à luta. Embora beirando os 80 anos
de idade e já esteja aposentado como professor da Escola de Teatro da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), ele não se afastou das atividades
artísticas, continua se dedicando ao teatro, atuando como ator, diretor e
professor. Ele próprio confessa que sua atividade no
mundo da arte cênica não é um trabalho, mas, sim, um fortificante que
impulsiona sua vontade de viver.
Trata-se de um mestre em cena; um
grande nome do teatro da Bahia. Sua história na arte baiana carrega cerca de 70
peças como ator e mais de 20 como diretor, além de uma grande marca como professor
de artistas reconhecidos nacionalmente.
Há muito tempo que sou um fã de Harildo. A sua inteligência,
seu modo de encarar a vida e de interpretá-la sempre foram motivos de minha
admiração e respeito. E não era para menos, além do mais ele é simãodiense e é meu primo, filho dos
meus queridos tios Paulo e Francisquinha.
Acompanhei, mesmo à distância, seu desempenho. Lembro-me
agora de fatos que não fogem de minha memória. E repasso para os parentes e
amigos.
Quando Harildo estudava nos Estados Unidos, um jornal
americano mostrou sua fotografia ilustrando matéria que elogiava o seu
desempenho em uma peça que atuou no teatro da Universidade.
Quem me mostrou o
jornal foi tio Paulo. Ele estava em sua loja de sapatos (“Esquina da Economia”), na Rua João Pessoa, aqui em Aracaju.
Chamou-me até o balcão e irradiando orgulho disse: “Veja, Beto, os gringos estão elogiando o filho de um sapateiro
brasileiro”. E meu tio se esforçava em pronunciar a palavra sapateiro em
inglês (shoemaker), fazendo um
beicinho muito engraçado e apontando para o próprio peito.
Em 1963 eu estudava em
Salvador, fazia um curso pré-vestibular na Escola Politécnica da Bahia,
patrocinado pela SUDENE e, à noite, cursava o último ano do curso científico no
Colégio Duque de Caxias, no bairro Liberdade. Não tive contato com Harildo, mas
soube – através de um rapaz da família Marcelino de Lagarto – que ele atuava
com sucesso no teatro baiano. Fiquei empolgado com a notícia. Depois, em 1964,
fui para Simão Dias. Harildo tinha ideias progressistas, atuando no teatro
baiano. No início da ditadura, eu soube que ele passou um período no sítio de um
amigo da família em nossa terra. Era uma época de medo. Eu também tive medo,
porque fiz o curso patrocinado pela SUDENE e soube que um colega – que era filho
de Paripiranga – tinha sido preso em Salvador. Em companhia daquele colega eu participara
de movimentos pró reformas patrocinadas pelo Presidente João Goulart. Lembro-me
da grande passeata da Praça da Sé até o Campo Grande, quando vibrei com o
discurso de Seixas Dória, que era Governador de Sergipe.
Não esqueço também o
dia em que fui pedir a colaboração de Harildo para fazer uma ligeira revisão na
apostilha My English Book, que eu e o
primo José Carlos Déda redigimos e fizemos a impressão nas oficinas gráficas do Ginásio Industrial de
Simão Dias (eu também era tipógrafo). Fiquei admirado com sua atenção em
atender ao nosso pedido.
Quando tio Paulo morava na Rua de Estância, eu sempre
apreciava uma pequena estante que tinha os livros de Harildo. Foi ali que li
alguns livros de Júlio Verne e, pela primeira vez, li o livro Tom Sawyer, de
Mark Twain.
São muitas as
lembranças que gosto de rever. É por isto que dizem que tenho uma memória de
elefante (não sei se a memória do elefante é realmente boa ou se é pelo tamanho
da cabeça). A minha tem o tamanho limitado: uso chapéu nº 53 que é o tamanho próprio
para crianças. Minha avó Olívia, quando
afagava meus cabelos, comparava minha cabeça com a de um alfinete, e rimava: “Beto, seu cocuruto é diminuto!”
Com o avanço da idade, passei
a conversar demais relembrando o passado. Um exemplo está aqui e neste espaço,
onde muito disse para anunciar a entrevista de Harildo à TVE-BA.
Vejam o vídeo, a seguir, e
percebam a lembrança que ele teve dos locais de nossa terra, onde surgiu o
despertar de seu interesse pela arte cênica.
Harildo é um
simãodiense que nos orgulha.
Aracaju,
09.06.2019
Beto
Déda