Afinal, de qual Paracatu era
o lobisomem de Simão Dias?
Na atualidade, é comum os
meios de comunicação divulgarem notícias violentas, dentre as quais aquelas
envolvendo pessoas da mesma família, com destaque as notícias envolvendo
agressões e homicídios praticados por filhos contra a própria mãe ou o próprio
pai. A constância dos noticiários sobre tais crimes, que se repetem no desenrolar dos dias atuais, infelizmente, leva as pessoas menos sensíveis a se
acostumarem com a horripilante ocorrência.
Antigamente, os crimes
dessa espécie eram raros e os mais velhos tinham a preocupação de evitar
comentários e procuravam um meio próprio de condenar o criminoso. Era voz
corrente, em minha terra, informar que o filho que cometesse uma maldade contra a
própria mãe receberia um castigo sobrenatural: se tornaria um monstro, um diabo,
virava um lobisomem, popularmente conhecido como “labisone”, ou o “Cão do
Pracatu”, ou ainda o “Cachorro do Pracatu”.
Ao ouvir um noticiário
policial sobre um matricídio, lembrei-me de um causo que aconteceu no povoado Paracatu,
no município de Simão Dias. Era voz
corrente naquela região que um sujeito péssimo, malvado da pior qualidade, deu
uma surra na própria mãe. Mesmo continuando sendo maltratada, a infeliz
senhora, com pena do filho, não prestou queixa na polícia. Mas o celerado filho
não ficou impune. Diziam os moradores do lugarejo que, nas noites de sexta-feira
da quaresma, o perverso danava-se a rolar pelo chão, transfigurando-se em um furioso
cão, ou seja, uma horripilante mistura de homem e cachorro: um verdadeiro “labisone”.
Então, uivava mirando a lua; e ficava de tocaia, escondido embaixo de uma
quixabeira que sombreava a entrada do povoado, para atacar alguém que por ali
passasse.
Lembro-me, agora, de um moço
de fala mansa e compassada, que era daquelas bandas, e dizia ter enfrentado o tal
bicho, afirmando que nunca tinha visto um demônio tão feio. E no seu prosear vagaroso,
que nos dava arrepios de medo, informava como era o pinima do “Cachorro do
Pracatu”: tinha unhas que pareciam curvos punhais; os olhos eram duas lanternas
de fogo; as orelhas longas e pontiagudas; o focinho comprido, com a boca
arreganhada, descendo saliva sanguinolenta da língua em forma de espeto, mostrando
os dentes afiados. Além de tudo, tinha o pelo arrepiado, duro, que parecia
protegido por uma manta de aço. E finalizava dizendo que lutou e conseguiu ferir
o bicho, de tal sorte que o simples pingo de sangue fez com que acontecesse o
desencanto e o cão voltou a ser gente. E concluía categórico:
- O peste era realmente o filho que batera na mãe.
Soube desse causo quando
era garoto. Mas, ontem, ao relembrar o acontecimento para um jovem conterrâneo, este fez-me uma indagação que
eu não soube responder. O interlocutor perguntou-me em qual Paracatu ocorreu
esse fato. E a questão tinha pertinência, isto porque em nossa terra existem
três povoados com esse nome: Paracatu de
Cima, Paracatu do Meio e Paracatu de Baixo.
Afinal, em qual deles aconteceu
essa história?
Na verdade, essa é uma questão
a ser desvendada pelos estudiosos das lendas simãodienses.
Mas isso não é
importante. O que interessa mesmo é a lição que os antigos davam aos jovens. Diziam eles:
-Respeitem seus pais, senão serão transformados no “Cão do Pracatu" e uivarão para a lua cheia nas
noites de quaresma.
Aracaju,
12/12/2022
BETO
DÉDA