segunda-feira, 3 de abril de 2017

OS CURRAIS DE BOIS DE BARRO, A VILA SIDON E AS XILOGRAVURAS.

Nesta semana, para espantar a solidão, procurei abrigo em minha tenda de armengues e comecei a fazer um mini curral para bois de barro, encomendado por minha querida irmã Maura para presentear seu bisneto Guilherme.



A fazendinha de meu neto
Os encantos das brincadeiras com bois de barro nunca abandonaram minhas alegres lembranças de quando era criança. Tanto é assim que sempre passei essa tradição para meus filhos e netos. As fazendinhas de bois de barro de meus filhos eram denominadas “Vila Carlitos”, uma lembrança do nome da malhada que meu pai tinha lá pelas bandas do povoado Guiguiu, em Simão Dias. Para o curral de meu neto, usei o nome de nosso sítio: Lago Dourado. Agora, ao iniciar os trabalhos da encomenda feita por minha irmã, estou denominando a nova fazendinha de brinquedo como Vila Sidon, em homenagem ao sítio do meu sempre lembrado tio Paulo Déda, trisavô do garoto Guilherme.


Anúncio da Sidon no jornal A Semana - 29-10-1946


Vila Sidon era o sítio de propriedade do meu tio Paulo, local de sua residência, de sua fábrica de artefatos de couro e do aloque ou curtume (estabelecimento em que se curtia e tingia couros para fabricação de calçados, selas, malas e arreios).  O terreno ficava ao lado da Feira dos Cavalos, na rua que passou a ser conhecida como Rua das Sete Casas (todas sete casinhas construídas por meu tio para os funcionários do curtume).


Minha mesa de diversão, iniciando o curral de Guilherme

Pois bem. Estava eu na minha oficina de armengues, construindo a fazendinha de brinquedos e enquanto entalhava o nome Vila Sidon no travessão da mini cancela, passei a me lembrar de meu pai fazendo as xilogravuras para o jornal “A Semana”.


Com meu pai aprendi muitas coisas, dentre elas as primeiras noções do uso do estilete no entalhe de madeiras. Naquele tempo eu ficava ao seu lado, absorto, observando o seu cuidado e maestria ao esculpir na madeira as charges que publicava na seção “Piada da Semana” do jornal. Ele fez mais de quatrocentas xilogravuras.



Foi com o estímulo do meu pai e mestre que me aventurei a entalhar algumas de suas charges. Tempos depois, quando ele nos deixou e passou para outra dimensão da vida, no glorioso mundo celeste, me aventurei a fazer algumas gravuras – diga-se de passagem: armengues, tal como são minhas obras de artesanato. Com o pseudônimo “Júnior” ousei publicá-las, no final de 1968, dando continuidade à seção “Piada da Semana. (Na charge ao lado uma crítica à água salgada fornecida pela CAENE à população de Simão Dias).




São fatos alegres da vida que voltam à memória em consequência de um leve toque. E esta minha insistência em lembrá-los me distancia das amarguras dos dias atuais e me conduz a uma realidade mais amena da que se vive na atualidade de nosso Brasil.

Abarco com carinho tais lembranças e, feliz com elas, realizo, agora, o sonho de uma fazendinha de bois de barro para Guilherme, o trineto do meu querido tio Paulo. 

E narro essas lembranças, aqui e agora, sem acanhamento, para os amados parentes e amigos, especialmente os mais jovens, para que sejam preservadas como memória dos bons tempos.

Aracaju, 03/04/2017


BETO DÉDA