A GANÂNCIA
INSACIÁVEL DOS DONOS DO CAPITAL.
Desde que o mundo é mundo o desejo insaciável
de acumular riqueza é realizado pelos donos do capital explorando os minguados
bolsos dos trabalhadores.
É uma triste realidade que nos dias atuais se
torna mais agressiva em consequência da ação dos gananciosos que ilegitimamente
comandam os poderes do nosso país.
Recentemente aprovaram uma Medida Provisória
que determina ao trabalhador que adquiriu uma casa ou apartamento financiado,
em caso de atraso nos pagamentos, a devolver o imóvel ao credor e continuar
pagando o empréstimo, caso o banco considere que a dívida é maior que o valor
da propriedade.
Em época de crise econômica, o valor dos bens
sofre uma desvalorização considerável e a taxa de desemprego é altíssima. É a
fase em que o trabalhador é atingido impiedosamente em sua capacidade de
pagamento. E é justamente diante desta situação desfavorável que o ilegítimo governo
e seus comparsas procuram beneficiar os bancos e causar mais estragos aos menos
favorecidos.
O trabalhador desempregado e sem condições de honrar os
compromissos é obrigado a entregar a casa financiada e continuar com a obrigação
de pagar o empréstimo quando o banco considerar a dívida maior que o valor do
imóvel garantidor. Em outros termos isto significa: tudo para os donos do
capital e taca nas costas do trabalhador.
Foi matutando sobre este absurdo, que me
lembrei do tempo em que trabalhava no Banco do Nordeste, comandando a carteira
de crédito rural. Naquela época cuidava o Banco de inspecionar os trabalhos
realizados nas agências através do Departamento de Auditorias. Era o tempo em
que as agências eram inspecionadas anualmente por dois auditores – geralmente
um auditor experiente acompanhado de um novato. Em alguns casos era fácil
identificar os novatos pela sua postura: empolgados, parecendo donos da verdade
e, alguns, pedantes mesmo.
Pois bem. Lá pelo início dos anos oitenta,
quando uma seca devastadora atingiu nossa região, o valor dos imóveis rurais
sofreu uma forte desvalorização. Justo nesta ocasião a agência estava sendo
inspecionada e um dos auditores era novato, arrotando absurdos.
Analisando as pastas de empréstimos
selecionadas, o novato estranhou que avaliações atualizadas de imóveis
oferecidos em garantia evidenciavam valor inferior ao percentual exigindo pelo
banco. Mesmo sabendo que na época da formalização do empréstimo o valor do bem
dado em garantia correspondia ao exigido pelo banco, o inexperiente auditor – fazendo
pose e olhando para o alto com ar professoral – determinou que a agência exigisse
dos clientes a apresentação de garantias adicionais e promovesse aditivos às
cédulas que formalizaram os empréstimos. Sem conter o riso, informei ao
inspetor que sua orientação era inviável, porque atingiria a quase totalidade
dos financiamentos rurais. Era o problema sazonal e que passados os efeitos da
seca os imóveis voltariam ao valor normal. Além disto, seria uma medida
contrária à máxima adotada pelos bancos: os contratos devem ser honrados.
As exigências do novato não encontraram apoio
do seu colega auditor, que percebendo o absurdo não vacilou em
desaprová-las. E o novato ganhou experiência...
...
Voltando à atualidade de nosso país e ao comentário acima sobre a
tal Medida Provisória: fácil é notar que infelizmente não contamos com uma
autoridade maior que, tal qual o auditor sênior de nosso causo, desaprove tamanho
absurdo.
O pior é que, atualmente, o ‘temeroso mor’ é quem edita e comanda as medidas que defendem os
interesses dos donos do capital e penaliza os trabalhadores.
Neste caso, também cabe nossa indignação e
faço isto usando a expressão latina de repugnância: “Vade retro, Satana!” – que tem o mesmo significado da frase muito
em voga nestes tempos sombrios: FORA
TEMER!
Aracaju, 24/09/2017
BETO DÉDA