segunda-feira, 25 de julho de 2016


Recordações do Bar de Abel.

Esta semana minha memória foi ativada pelo conterrâneo Claudiano Guimarães Santos, que postou em sua página no facebook uma fotografia de seu pai, Abel Jacó dos Santos, no IX-Congresso Nacional de Municípios, realizado no Paraná, em 1979. O saudoso amigo Abel era um comerciante muito querido pelo povo de Simão Dias. Inicialmente ele tinha uma alfaiataria, depois foi proprietário de uma movimentada lanchonete/bar situada na Rua Joviniano Carvalho, entre as lojas “As Três Américas”, de Cícero Guerra, e a ”A Predileta” de Elísia Montalvão. Era uma pessoa simples que, com muita simpatia, sabia conquistar amizades e cuidar de pessoas humildes, qualidades que facilitaram sua eleição como prefeito de nossa terra (1978) e, em seguida, deputado estadual. 


Nos bons tempos de minha juventude,  acompanhávamos os jogos de futebol carioca no Bar do Abel . Ele tinha um potente rádio do tamanho de uma televisão de 20 polegadas, que funcionava à bataria de carro. Nas tardes de domingo, ele colocava o rádio em uma mesa na calçada, em frente ao seu bar, e sintonizava na Rádio Nacional para que os fregueses ouvissem as narrações dos grandes embates do campeonato carioca. As mesas espalhadas na calçada ficavam lotadas. Foi lá que ouvi as transmissões dos jogos em que o Flamengo foi campeão em 1955(aliás, conquistou o tricampeonato).

Já nos anos 60, quando a cidade não contava com clube social, era no Bar do Abel que a turma se reunia para grandes comemorações, na base de cervejas geladíssimas e saborosos tira-gostos. Dos meus arquivos implacáveis e desorganizados pesquei três fotografias de acontecimento no famoso bar. Não estou
lembrado se foi uma reunião de aniversário ou despedida de um bancário. As fotos (tiradas pelo meu saudoso vizinho e amigo Barbosa Guimarães) nos lembram de vários amigos e, de modo especial, do Abel e de seu filho Claudiano (na época um garotinho).


Quando falo no bar de Abel, sempre me lembro do causo que aconteceu com o amigo Adelmo quando era garoto. Em uma tarde de domingo, quando eu ia ao Cine Ipiranga vender gibis na sessão de matinê, passei pelo bar e lá encontrei os amigos Adelmo e Joaquim. Estávamos conversando quando apareceu o Raimundo, um homenzarrão que gostava de uns pileques e era conhecido como Vitor Mature, por se parecer com o astro do cinema. Ele estava bebendo e quando bebia saía do seu comportamento normal e educado: passava a meter medo, se tornava enjoado, fazia e acontecia, encarava quem o desapontasse. Era bom de briga e naquele tarde ele estava querendo testar seus músculos. Depois de tomar mais alguns tragos, começou a provocar. Não encontrando adversários de sua idade e tamanho, cismou que os garotos Adelmo e Joaquim teriam de cantar. Diante da negativa dos meninos, ele pegou o Adelmo pelo braço e disse: “Agora você vai cantar uma canção de Nelson Gonçalves”. O garoto balançou a cabeça como negativa e falou que não sabia cantar. Mas o bebum não aceitou tal justificativa e determinou raivoso: “Vai cantar, sim! Comece a dar o tom. Vai, pirralho, dê o tom!”.
Mesmo meio assustado, o Adelmo fez um ar zombeteiro para atender a ordem do valentão e soltou o ar dos pulmões, cantarolando com inflexão nasalada:
“Tommmmmmmmmmmmmmmmm”
As gargalhadas dos que estavam no bar desviaram a atenção do implicante e Adelmo aproveitou esse descuido: livrou-se das mãos do agressor e se mandou...
Aracaju, 25/07/2016
BETO DÉDA