quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O TEATRO EM SIMÃO DIAS

Indagou-me uma conterrânea, estudante de história, se eu tinha alguma informação sobre o teatro e cinema em Simão Dias. Remexi os velhos arquivos e encontrei alguns dados que talvez atenda a jovem patrícia no seu interesse pelos acontecimentos culturais de nossa cidade.

Sobre o teatro, relembrei as conversas de meu pai a respeito das companhias teatrais que passaram por nossa cidade e despertavam um grande interesse de nossa gente, por ser o principal meio de diversão até o advento do cinema.

Os grupos de atores ficavam hospedados na cidade por vários dias, apresentando as diversas peças do seu repertório. Dizia meu pai que a passagem por nossa terra de importantes trupes – que os jornais da época denominavam troupes, no sentido de grupo de artistas e, por extensão, companhia teatral – despertou em nossos jovens o estímulo pela arte de representar. Formaram-se, então, os grupos de artistas amadores.

O auge do nosso teatro amador ocorreu depois que foi fundado um grêmio recreativo na cidade, na primeira década do século XX. Um dos principais objetivos do grêmio era a representação teatral, inclusive com a participação de moças da sociedade.

Dentre os artistas de renome que passaram pela cidade, destacaram-se dois que ali fixaram residência e deram uma formidável contribuição para os jovens amadores: primeiro, o ator espanhol Jayme Rovira e, depois, uma experiente senhora italiana, D. Irene, que antes era bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Estes dois artistas ensinaram os amadores simãodienses, resultando em melhoras consideráveis na técnica de representação. Dizia meu pai que os jovens artistas se esforçavam muito, submetendo-se com entusiasmo a rigorosos ensaios, e as apresentações se sucederam com aplausos e sucesso.

Os artistas amadores de nossa terra se apresentavam em palcos no Mercado Municipal. Depois, foi construindo um palco na Rua do Comércio Velho (atual Rua Cônego Andrade), local que anos depois (no final dos anos 40 até o início dos anos 50) funcionou as Escolas Reunidas Augusto Maynard, que foi dirigida por minha saudosa tia Lucila Macedo Déda.

O jornal A LUTA, edição de 03-11-1918. - 1ª Página
Consultando meus arquivos, encontrei no jornal “A Luta” várias notícias sobre as apresentações teatrais em nossa terra. O jornal “A Luta” foi editado em Simão Dias de 1917 a 1937, dirigido por Emilio Rocha. Na edição de 03-11-1918, A Luta publicou a notícia da inauguração do Teatro Sylvio Romero, construído pelo Cel. Felisberto Prata, na antiga Rua do Espinheiro. O prédio do teatro, anos depois, foi adaptado ao cinema, passando a ser denominado Cine Teatro Sylvio Romero e, posteriormente, teve a denominação mudada para Cine Ipiranga.

Com o advento do cinema e o sucesso na exibição de filmes a partir de 1925, o teatro amador começou a declinar.
No livro sobre a história de Simão Dias meu pai apresenta informações interessantes sobre o teatro em nossa terra (Carvalho Déda - Simão Dias –Fragmentos de sua história – 2ª ed. – Aracaju - Gráfica e Editora J. Andrade – 2008 – pag. 127/130).

Mas a semente lançada não se perdeu de vez. O interesse de nossa gente pelo teatro continuou por vários anos, com apresentações em épocas especiais, estimulando novos artistas.

Um exemplo importante: as peças de teatro infantil dirigidas por D. Carmem Dantas Amaral. Lembro-me que, ainda garoto, assistia a peças infantis no palco das Escolas Reunidas, quando eu era aluno da minha querida irmã Nancy. 

Notícia do jornal A Semana, de 20-02-1960.
As apresentações teatrais se transformavam em estímulos para os garotos dos velhos tempos. Lembro-me, agora, das brincadeiras de teatro que participei na casa de D. Tude, na Rua do Coité, no trecho próximo à Praça de São João, quase vizinho à casa do Seu Terto. Ela era uma senhora imensamente alegre, que tocava banjo e compartilhava as alegrias com seus filhos Manuel e Marilene, meus amigos e colegas do “teatro-mirim”. (Já escrevi sobre uma de minhas apresentações com D. Tude aqui no Facebook).

Em janeiro de 1954 aconteceu uma formidável apresentação de artistas amadores, no festival "Idílio de Verão", realizado  em benefício da Sociedade de Assistência aos Lázaros e divulgado pelo jornal A Semana, em edição de 09.01.54.

Tempos depois, em 1960, os alunos do Ginásio Carvalho Neto, sob a direção do Padre Mario Reis, apresentaram a peça “O Transviado”, no Cine e Teatro Ipiranga, com muito sucesso. Os jovens artistas amadores também se apresentaram na vizinha cidade de Lagarto. (Veja a notícia na seção “Acontecimentos Sociais” do jornal A Semana, edição de 20/02/1960).


O livro sobre o Mestre Harildo Déda
Vale registrar, aqui, que o rescaldo de todos esses encantos do nosso pequeno e simplório teatro resplandeceu em um simãodiense ilustre: HARILDO DÉDA, destacado artista do teatro baiano. 

Não foi à toa que sua formidável atuação como ator, diretor e professor da arte cênica em Salvador foi reconhecida pela Fundação Cultural do Estado da Bahia como um Mestre da Cena, conferindo-lhe, em 2011, uma merecida homenagem com a publicação do livro “Harildo Déda - a matéria dos sonhos”, escrito por Luiz Marfuz & Raimundo Matos de Leão.

Nestes meus ligeiros comentários sobre o teatro em nossa terra, não posso deixar de transmitir aos jovens estudantes de história a alegria que sentimos em notar que da efervescência cultural de nossa querida Simão Dias surgiu o talento de um dos “Mestres da Cena” na vida teatral da Bahia. Fato que orgulha a cultura simãodiense.

Aracaju, 11/10/2016

BETO DÉDA