O
TEATRO EM SIMÃO DIAS
Indagou-me uma conterrânea,
estudante de história, se eu tinha alguma informação sobre o teatro e cinema em
Simão Dias. Remexi os velhos arquivos e encontrei alguns dados que talvez atenda
a jovem patrícia no seu interesse pelos acontecimentos culturais de nossa
cidade.
Sobre o teatro, relembrei
as conversas de meu pai a respeito das companhias teatrais que passaram por
nossa cidade e despertavam um grande interesse de nossa gente, por ser o
principal meio de diversão até o advento do cinema.
Os grupos de atores
ficavam hospedados na cidade por vários dias, apresentando as diversas peças do
seu repertório. Dizia meu pai que a passagem por nossa terra de importantes
trupes – que os jornais da época denominavam troupes, no sentido de grupo de artistas e, por extensão, companhia
teatral – despertou em nossos jovens o estímulo pela arte de representar.
Formaram-se, então, os grupos de artistas amadores.
O auge do nosso teatro amador ocorreu depois que foi fundado um grêmio recreativo na cidade, na primeira década do século XX. Um dos principais objetivos do grêmio era a representação teatral, inclusive com a participação de moças da sociedade.
O auge do nosso teatro amador ocorreu depois que foi fundado um grêmio recreativo na cidade, na primeira década do século XX. Um dos principais objetivos do grêmio era a representação teatral, inclusive com a participação de moças da sociedade.
Dentre os artistas de
renome que passaram pela cidade, destacaram-se dois que ali fixaram residência e
deram uma formidável contribuição para os jovens amadores: primeiro, o ator
espanhol Jayme Rovira e, depois, uma experiente senhora italiana, D. Irene, que
antes era bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Estes dois artistas
ensinaram os amadores simãodienses, resultando em melhoras consideráveis na
técnica de representação. Dizia meu pai que os jovens artistas se esforçavam
muito, submetendo-se com entusiasmo a rigorosos ensaios, e as apresentações se
sucederam com aplausos e sucesso.
Os artistas amadores de
nossa terra se apresentavam em palcos no Mercado Municipal. Depois, foi
construindo um palco na Rua do Comércio Velho (atual Rua Cônego Andrade), local
que anos depois (no final dos anos 40 até o início dos anos 50) funcionou as
Escolas Reunidas Augusto Maynard, que foi dirigida por minha saudosa tia Lucila
Macedo Déda.
O jornal A LUTA, edição de 03-11-1918. - 1ª Página |
Com o advento do cinema
e o sucesso na exibição de filmes a partir de 1925, o teatro amador começou a
declinar.
No
livro sobre a história de Simão Dias meu pai apresenta informações interessantes
sobre o teatro em nossa terra (Carvalho Déda - Simão Dias –Fragmentos de sua história – 2ª ed. – Aracaju - Gráfica
e Editora J. Andrade – 2008 – pag. 127/130).
Mas a semente lançada
não se perdeu de vez. O interesse de nossa gente pelo teatro continuou por
vários anos, com apresentações em épocas especiais, estimulando novos artistas.
Um exemplo importante:
as peças de teatro infantil dirigidas por D. Carmem Dantas Amaral. Lembro-me
que, ainda garoto, assistia a peças infantis no palco das Escolas Reunidas,
quando eu era aluno da minha querida irmã Nancy.
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Notícia do jornal A Semana, de 20-02-1960. |
Em janeiro de 1954 aconteceu uma formidável apresentação de artistas amadores, no festival "Idílio de Verão", realizado em benefício da Sociedade de Assistência aos Lázaros e divulgado pelo jornal A Semana, em edição de 09.01.54.
Tempos depois, em 1960,
os alunos do Ginásio Carvalho Neto, sob a direção do Padre Mario Reis, apresentaram
a peça “O Transviado”, no Cine e Teatro Ipiranga, com muito sucesso. Os jovens artistas
amadores também se apresentaram na vizinha cidade de Lagarto. (Veja a notícia na
seção “Acontecimentos Sociais” do jornal A
Semana, edição de 20/02/1960).
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O livro sobre o Mestre Harildo Déda |
Não foi à toa que sua formidável atuação como ator, diretor e professor da arte cênica em Salvador foi reconhecida pela Fundação Cultural do Estado da Bahia como um Mestre da Cena, conferindo-lhe, em 2011, uma merecida homenagem com a publicação do livro “Harildo Déda - a matéria dos sonhos”, escrito por Luiz Marfuz & Raimundo Matos de Leão.
Nestes meus ligeiros
comentários sobre o teatro em nossa terra, não posso deixar de transmitir aos
jovens estudantes de história a alegria que sentimos em notar que da
efervescência cultural de nossa querida Simão Dias surgiu o
talento de um dos “Mestres da Cena”
na vida teatral da Bahia. Fato que orgulha a cultura simãodiense.
Aracaju, 11/10/2016
BETO DÉDA