sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Manequinha, o ferreiro que deu nome a um astro de Hollywood.

Recentemente no Facebook entrei em contato com uma descendente de velhos amigos de Simão Dias. E então relembrei de seu avô, o Sr. Manuel Moura, um admirável ferreiro que morava na Praça de São João ou Parque Zacarias de Carvalho, local de minhas travessuras quando era garoto.
Seu Manequinha 
O Manoel Moura era conhecido como Manequinha. De estatura média, gordo, com avantajada barriga, sempre com um sorriso espontâneo em seu rosto redondo. Foi um renomado ferreiro em nossa cidade. Ele cuidava com esmero de sua arte de fabricar diversas ferramentas de uso comum na agricultura e na construção civil: pás, picaretas, enxadas, estrovengas, cavadores, peças para carros de bois, etc.
Com destreza, amoldava o ferro batendo com ritmo a marreta na bigorna. E aquele som me encantava e eu corria para sua tenda, para admirar os trabalhos do artesão e ouvi-lo contar seus causos. Pacientemente, ele deixava que eu batesse com um pequeno martelo na bigorna e que ativasse o fogo, puxando o fole de assopro. Era um encanto pra minha mente de garoto.
O desempenho do seu ritmo da batida na bigorna foi o ponto chave para ele se tornar músico. Sua barriga avantajada era na medida para portar o bombo das famosas bandas simãodienses. Desde a filarmônica “Lambe-Tudo” do Mestre Lúcio até a “Lira Santana” comandada por Raimundo Macedo.
Manequinha era natural de Paripiranga. Quando jovem foi morar no Rio de Janeiro, servir ao Exército Brasileiro. Não gostou do Sul e voltou. Veio morar em Simão Dias. Casou-se duas vezes. A primeira com D. Maria, com a qual teve dois filhos: Altamiro e Zelito. Com o falecimento de sua esposa, contraiu a segunda núpcias com D. Francisquinha e dessa união nasceram vários filhos, dentre os quais lembro bem de Raimundo, João, Tonho, Mário e Manuel.  Todos eles meus amigos e companheiros de brincadeiras ali no Parque. E todos eram conhecidos por um mesmo sobrenome: de Manequinha. Parece-me que somente dois deles seguiram a arte do pai: Altamiro (que também era músico e fazia parte do regional de Barbosa Guimarães) e Antônio.
A neta, filha de Antônio, prestou uma grande homenagem ao seu pai e ao seu avô, acrescentando seus nomes ao se identificar no Facebook: Vaninha de Antônio de Manequinha. .
E não foi só para a família que o Manequinha deu o nome. Em nossa cidade a sua popularidade entre os garotos era de tal dimensão que, no meu entendimento, ele foi o único brasileiro que legou seu nome a um astro do cinema americano. Enquanto o normal era o sujeito da terra receber o nome de um astro, com o Manequinha aconteceu o contrário: ele passou seu nome para o artista.
Manequinha (Smiley Burnette) e Durango Kid
Naquela época a grande diversão da cidade era o Cine Ypiranga, de Seu Pierre Freitas. E os filmes mais concorridos eram os caubóis com Durango Kid, interpretado por Charles Starrett, e seu inseparável e engraçado coadjuvante que tinha o nome artístico de Smiley Burnette. Mas tinha um detalhe: em nossa cidade o nome do companheiro de Durango era Manequinha. Isto porque o Smiley Burnette era parecido com o nosso ferreiro.  A meninada não sabia quem era o Smiley Burnette, mas se perguntassem quem era o engraçado amigo de Durango Kid, não pestanejavam: é o Manequinha. Em minha Simão Dias o artista americano mudou de nome: em vez de Smiley quem contracenava com o Durango Kid era o MANEQUINHA...
Lembro-me do último contato que tive com o admirável ferreiro. Aconteceu  no final dos anos sessenta, quando escrevi um artigo sobre ele no jornal “A Semana”. Ele estava magro, quase cego, mas sempre com um humor formidável. Ao responder minha indagação sobre sua saúde ele informou que gostava muito dos picolés do Bar de Valério e, depois de saboreá-los, tomava dois grandes copos d’água do açude. E dava sua versão do que lhe explicara o Dr. Aguiar:
- A água dissolvia o açúcar dos picolés em meu sangue, que ficou doce demais, então, eu contraí a ‘desgroja’ da diabetes.
 E abria o rosto em um largo sorriso...
São lembranças de bons amigos da boa terra. E agradeço isto a Vaninha de Tonho de Manequinha, que prestou uma belíssima homenagem ao pai e ao avô.
E aqui pra nós: eu fico imensamente alegre quando algum conterrâneo me identifica como Beto de Zeca Déda, porque aviva a lembrança do meu inesquecível pai e mestre.
Aracaju, 16/10/2015

Beto Déda ou Beto de Zeca Déda.