sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Passeando  no  caminhão  “Luxinho”


Minhas peraltices quando era garoto aconteciam de modo especial na Praça de São João ou na antiga Rua dos Ribeiros, em Simão Dias. As casas de meus pais e a de minha avó Olívia ficavam situadas naquela rua, que passou a ser denominada Rua Júlio Manoel de Oliveira.

Ali era o local onde eu, meu irmão Carlos e os nossos primos realizávamos as aventuras e brincadeiras próprias dos garotos dos anos 40/50.

Conhecíamos todos os moradores daqueles logradouros e poucas não foram vezes que fizemos estripulias que resultavam em justas reclamações e, consequentemente, sentíamos em nossas mãos o uso do tamanco de meu pai ou da chinela de minha mãe.

No final da Rua dos Ribeiros ficava a casa de Seu Joaquim Sotero, um senhor baixinho, rosto redondo, simpático, com uma risada estridente e o olho direito ligeiramente fechado. Ele costumava, aos domingos, brincar de dominó e de gamão na casa de meu pai, juntamente com outros seus amigos, entre eles: Dr. Fraga Matos, Antoninho Farofa e Mário Amaral. Eu admirava e respeitava todos eles, e na presença deles me sentia seguro. Eram amigos de meu pai e me transmitiam proteção.

Seu Joaquim era proprietário de um caminhão que ele dava o nome de “Luxinho” e que cuidava com muito zelo. Não é demais acrescentar que o caminhão era alvo de frequentes anedotas, contadas alegremente por ele próprio e por seus amigos.

A diversão da meninada era pongar no caminhão “Luxinho” quando passava vagarosamente, guiado por Seu Joaquim, que segurava o volante tentando desviar os pneus dos buracos da rua, irregularmente calçada com pedras brutas.

Certa manhã eu notei que Seu Joaquim preparava o “Luxinho” para levar algumas mercadorias aos comerciantes em Paripiranga, cidade baiana onde nasceu meu pai, e que dista apenas sete quilômetros de Simão Dias.  Como era cedo acreditei que dava tempo de ir com Seu Joaquim e voltar antes do meio-dia, horário certo do almoço em minha casa. Assim pensando, ponguei na carroceria do Luxinho e fui passear na cidade vizinha.

Acontece que seu Joaquim era cauteloso no uso da velocidade do caminhão, ou seja, costumava andar vagarosamente, acredito que não passava dos 30 km/hora. Voltamos no começo da tarde, já passada a hora de almoço em minha casa. Não tive desculpas a oferecer pelo atraso e recebi merecidos bolos, sentindo o ardor do liso tamanco de meu pai e a advertência: para aprender a não me atrasar na hora da refeição e deixar de pongar na carroceria do Luxinho.

Tempos depois, já no final dos anos 80, em uma ensolarada manhã de domingo, revivi boas lembranças conversando com Seu Joaquim, em frente à sua casa, no mesmo local, na Rua dos Ribeiros.

Foi nessa conversa que ele me contou o mal-estar que sofreu quando, pela primeira, resolveu fumar. Em um mesmo dia fumou três carteiras de cigarro “Astoria”. A indisposição física que sofreu foi o motivo de sua promessa de nunca mais fumar. Um espontâneo exemplo contra o fumo.



Filmei esse nosso encontro e reproduzo em minha página do Facebook para lembrança dos que viveram aqueles felizes anos.
 Seu Joaquim Sotero

E faço isto prestando minhas homenagens ao saudoso conterrâneo.

Aracaju, 06/10/2016
BETO DÉDA