Passeando no caminhão “Luxinho”
Minhas peraltices
quando era garoto aconteciam de modo especial na Praça de São João ou na antiga
Rua dos Ribeiros, em Simão Dias. As casas de meus pais e a de minha avó Olívia
ficavam situadas naquela rua, que passou a ser denominada Rua Júlio Manoel de
Oliveira.
Ali era o local onde
eu, meu irmão Carlos e os nossos primos realizávamos as aventuras e
brincadeiras próprias dos garotos dos anos 40/50.
Conhecíamos todos os
moradores daqueles logradouros e poucas não foram vezes que fizemos estripulias
que resultavam em justas reclamações e, consequentemente, sentíamos em nossas
mãos o uso do tamanco de meu pai ou da chinela de minha mãe.
No final da Rua dos
Ribeiros ficava a casa de Seu Joaquim
Sotero, um senhor baixinho, rosto redondo, simpático, com uma risada estridente e o olho direito ligeiramente fechado. Ele costumava, aos domingos, brincar de dominó e de gamão na casa de meu pai,
juntamente com outros seus amigos, entre eles: Dr. Fraga Matos, Antoninho
Farofa e Mário Amaral. Eu admirava e respeitava todos eles, e na presença deles
me sentia seguro. Eram amigos de meu pai e me transmitiam proteção.
Seu
Joaquim era proprietário de um caminhão que ele dava o nome de “Luxinho” e que cuidava com muito zelo.
Não é demais acrescentar que o caminhão era alvo de frequentes anedotas, contadas alegremente por ele
próprio e por seus amigos.
A diversão da meninada
era pongar no caminhão “Luxinho”
quando passava vagarosamente, guiado por Seu
Joaquim, que segurava o volante tentando desviar os pneus dos buracos da rua,
irregularmente calçada com pedras brutas.
Certa manhã eu notei
que Seu Joaquim preparava o “Luxinho” para levar algumas mercadorias aos
comerciantes em Paripiranga, cidade baiana onde nasceu meu pai, e que dista
apenas sete quilômetros de Simão Dias. Como
era cedo acreditei que dava tempo de ir com Seu Joaquim e voltar antes do
meio-dia, horário certo do almoço em minha casa. Assim pensando, ponguei na
carroceria do Luxinho e fui passear
na cidade vizinha.
Acontece que seu
Joaquim era cauteloso no uso da velocidade do caminhão, ou seja, costumava
andar vagarosamente, acredito que não passava dos 30 km/hora. Voltamos no começo
da tarde, já passada a hora de almoço em minha casa. Não tive desculpas a
oferecer pelo atraso e recebi merecidos bolos, sentindo o ardor do liso tamanco
de meu pai e a advertência: para aprender a não me atrasar na hora da refeição e
deixar de pongar na carroceria do Luxinho.
Tempos depois, já no
final dos anos 80, em uma ensolarada manhã de domingo, revivi boas lembranças
conversando com Seu Joaquim, em frente à sua casa, no mesmo local, na Rua dos
Ribeiros.

Filmei esse nosso encontro
e reproduzo em minha página do Facebook para lembrança dos que viveram aqueles felizes anos.
E faço isto prestando
minhas homenagens ao saudoso conterrâneo.
Aracaju, 06/10/2016
BETO DÉDA