A Ladeira de Roque.
Na última postagem, apresentei uma foto atual da antiga Rua de Lagarto, que nos velhos tempos
era conhecida como a Ladeira de Roque. O Sr. Roque Macedo, que deu o nome
popular àquela rua, era um artesão que morava no final da ladeira, próximo ao
oitão da casa de Dr. Gervásio de Carvalho Prata, na Praça da Matriz.
Logo depois de postar
aquela fotografia, lembrei-me de uma tela pintada pelo artista sergipano Pedro Silva,
datado de 1984, em que mostra uma paisagem antiga de Simão Dias: o antigo muro da residência do Cel.
João Pinto, pai do Sr. Nelson Pinto de Mendonça, o início da Ladeira de
Roque e, ao fundo, as centenárias palmeiras ladeando a torre da Igreja Matriz.
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Quadro do pintor Pedro Silva - 1984 - Paisagem de Simão Dias:- início da Ladeira de Roque e a torre da Igreja Matriz. |
Referido quadro, que orna a sala de visitas de minha casa, foi-me presenteado pelo meu querido e saudoso irmão Artur Oscar. Assim, tenho uma admiração dupla desta bonita tela: o talento do artista sergipano na paisagem pintada e a lembrança de meu querido irmão.
Ainda sobre a Ladeira
de Roque, antiga Rua de Lagarto, transcrevo a seguir um artigo escrito por meu
pai no livro “SIMÃO DIAS - FRAGMENTOS DE SUA HISTÓRIA”-2ª Edição – página 175:
“O
PRIMEIRO AUTOMÓVEL
Escrito
por Carvalho Déda
Até o ano de 1920, o que
havia, em Simão Dias, de mais luxo e conforto em transporte, era a liteira, uma
espécie de camarinha de madeira leve, com portas laterais e pequenos postigos
de ventilação, sustentada por dois varais compridos, onde eram atrelados dois
burros, um adiante e outro atrás.
Por essa época apareceu o primeiro
automóvel na cidade, que foi, no Estado, a terceira a possuir esse gênero de
transporte. A primazia coube a Aracaju, seguida de Estância.
A primazia, em Simão Dias, coube ao
Cel. Felisberto Prata, rico e progressista comerciante da praça.
Um dia, a cidade alvoroçou-se,
repentinamente, com um estranho ruído de máquina e um fonfonar contínuo. Era um
automóvel “Ford”, preto, novo, de capota conversível, correndo, aos trancos e
barrancos, pelo calçamento irregular das ruas.
Uma surpresa! Poucos conheciam
aquela espécie de veículo. A população inteira saiu de suas casas para ver a
grande novidade.
Ao lado de um chofer empertigado e
enfatuado, o Cel. Felisberto Prata, eufórico, cumprimentava os curiosos com seu
chapéu duro, de palhinha. Era a sua entrada triunfal na cidade, depois de uma
excursão recreativa pelo sul do país.
Durante alguns meses a cidade não
comentava outra coisa. Surgiu o anedotário.
Conta-se que o ferreiro Roque
Feliciano Macedo, lunático, constantemente preocupado com almas do outro mundo,
lobisomem, mulas sem cabeça, e outras aparições sobrenaturais, havia deixado sua
produção de alhos, a secar, espalhada em frente de sua casa, na Rua de Lagarto.
Ao ouvir o estranho barulho do “Ford”,
correu para acudir a seus alhos. E qual não foi a sua surpresa ao deparar-se
com a máquina preta, correndo por cima dos paus e pedras, sem lenha nem água! O
“Ford” fez uma curva rápida, salvando os alhos do Mestre Roque, deixando este
estupefato, sem compreender a “visagem”. Olhou por cima dos óculos sujos,
persignou-se e gritou: –Tá bêba, porca dos óios de vrido! Tu
qué cumê meus áios?”
Estes são fatos de
minha terra, bons de recordar.
Aracaju,
05/06/2019
BETO
DÉDA