quarta-feira, 8 de julho de 2015


O refresco de maçã da dupla Wellington & Carlos.

Recentemente, revendo um programa do Chaves, humorista mexicano, em cena que  ele vendia sucos em uma barraquinha, lembrei-me de dois fatos guardados nos labirintos de minha memória.

1.  Suco ou refresco?
 
Quando eu trabalhava no BNB, eu e um colega fomos à cidade de Estância fazer uma inspeção em uma indústria de sucos. No escritório da firma, foi-nos servida uma jarra de suco de laranja.  Agradecido, olhei para o companheiro de equipe e exclamei:

- Que bom, agora vamos saborear um refresco...

Fui interrompido pelo gerente da empresa, que me corrigiu:

- Isto não é “refresco” é suco da melhor qualidade.

Minha resposta não tardou:

- Ora, ora, meu amigo. É uma pena que seja suco, porque o que gosto mesmo é de refresco.

Ouvindo esse diálogo, o colega indagou:

- Mas qual é a diferença?

Então o posudo gerente esclareceu que o suco era de melhor qualidade porque mais consistente, mais grosso, processado com bastante polpa de frutas.  Enquanto o tal “REFRESCO” é ralo, feito com menos polpa e de qualidade e sabor inferiores.

Retruquei que tudo era questão de gosto. Afirmei que minha preferência era pelo refresco e justifiquei. Quando eu criança em Simão Dias, sempre gostei de saborear os refrescos de frutas feitos por seu João Fontes, na sorveteria do Seu Valério. Era aguado, porque se economizava não só na polpa de frutas como também na quantidade açúcar. Mas era bom danado...

Mesmo assim, nunca deixei de respeitar as opiniões divergentes.  Tanto que, ainda hoje, em minha casa, democraticamente, peço para fazerem refresco pra mim e suco para os filhos.

1.  O refresco de Wellington e Carlos

No início dos anos 50, em Simão Dias, os garotos primavam pela criatividade em suas brincadeiras, muitas vezes procurando meios de melhorar sua mesada.  Neste sentido, lembro-me que, certa vez, Wellington, meu primo, e Carlos, meu irmão, se associaram para vender refresco em frente à feira dos animais, que ficava vizinho ao “Aloque” de tio Paulo (Rua das sete casas).

Em um caldeirão improvisado (igual ao do Chaves) eles faziam o refresco de maçã, uma mistura de água, açúcar e um aromatizante que  adquiriam na Farmácia de Seu Manoel Dantas. O negócio ia de vento em popa. Porém... ai porém... Eis que faltou na farmácia o produto  que dava sabor de maçã e cor vermelha ao refresco.

A falta do aromatizante não inibiu os jovens sócios. A criatividade estava sempre ao lado deles. E a solução era um produto substituo. Foram à farmácia de seu Manoel Dantas e compraram um pacote de anilina vermelha, dessas que se usam na tintura de tecidos. E fizeram o refresco com muito limão, açúcar e o tal corante.

No domingo, ao sair do culto evangélico, seu Manoel Dantas indagou se tia Vina estava tingindo roupas, referindo-se à aquisição feita por Wellington.

Com a indagação do farmacêutico, tia Vina se lembrou da folia dos meninos e da venda do refresco. Resultado: proibiu de continuarem com o comércio e determinou resolução da sociedade mirim.

Mas o pior é que não se podia dar um jeito no que já fora realizado. E o efeito foi devastador. No sábado seguinte, alguns feirantes já estavam marcados: mostravam manchas da tintura vermelha do refresco nas calças.

O corante escorrera no mijo, respingando e marcando a braguilha dos desatentos fregueses.

Aracaju, 07/07/2015

Beto Déda