Festas Natalinas
Nesta semana, meu bom primo Paulo César Déda me telefonou para desejar um Bom Natal e aproveitou a oportunidade para despertar lembranças das festas natalinas em Simão Dias, sugerindo com muita graça:
“Não deixe de passar pela Rua da Feira e rodar nos Cavalinhos de Seu Messias Cassimiro, balançar nos Barcos de Polito e sentir o cheiro forte do carbureto exalado pelos fifós das barracas de doces...”
A sugestão do primo me fez recordar do texto que postei aqui no Facebook, em dezembro de 2012. Transcrevo a seguir o que escrevi naquele ano, para despertar a imaginação dos que me seguem e também dos que viveram aqueles dias felizes.
Aracaju, 25/12/2021
Beto Déda
Natal em Simão Dias.
(Texto escrito por Beto Déda em Dezembro de 2012)
O
mês de dezembro é mágico, tem significados encantadores,
despertando o amor e nos dando força para expandir alegrias. É o
tempo de permitir que a imaginação tome conta da gente. E eu deixo
a barba crescer e transformo o vovô/tio Beto em um desengonçado
Papai Noel para levar um pouco de alegria aos meus netos, sobrinhos e
a meninada da vizinhança do Lago Dourado. E isto me faz sentir
feliz. Então, deixe-me contar essa: no último Natal, ouvi de uma
criança dos arredores de meu sítio uma frase encantadora. Disse
ela, apontando-me: - Olha, Papai Noel existe mesmo! Lá está
ele! E rindo, externou uma alegria tão espontânea que me
contagiou com sua linda emoção. São fatos que me estimulam a usar
o mágico uniforme vermelho.
Papai Noel - Vovô Beto |
Os sete Déda: Celma, Cláudio, Aparecida, Haroldina, Maria Eugênia, Beto e Carlos Eugênio (Foto do início dos anos 50). |
Na tarde do dia de Natal, meu pai reunia os filhos, netos e sobrinhos lá em nossa casa. Ele tirava fotos e depois distribuía moedas novinhas, em partes iguais, para nos divertirmos na Rua da Feira. Naquela época a festa do Natal era comemorada no largo da feira, onde se concentravam os bazares de Seu Cícero e de Inês/Lélia, o carrossel de cavalinhos de Seu Messias, a Onda e o grande Balanço de Seu Raimundo, além das barracas de arroz-de-galinha, de confeitos de castanha em forma de barcos e sombrinhas em papel colorido, os jogos de roleta e barrufo. E tinha também o quebra-queixo de seu Antônio e a amorosa (uma espécie de refresco de maçã) do Zé Pretinho, que chamava os fregueses gritando: “Ói a amorosa!” E apontando para a garrafinha, dizia: “É cheia... é cheia e é só quinhentos réis...”
Daquela festa de largo vem a lembrança inesquecível do som forte e fraco da sanfona e do pandeiro que ia e vinha, se distanciando e aproximando, de acordo com as voltas do carrossel e a posição do vento. E tinha o cheiro inconfundível dos fifós (candeeiros) de carbureto.
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Outra lembrança marcante era o grande Balanço de Seu Raimundo. Cabiam mais de quinze crianças e o balançar era seguido de muito empurrão e gritos de alegria. O encarregado de balançar manualmente era um senhor moreno, muito forte, que pitava um engraçado cachimbo. Chamava-se Seu Braúna, era parecido com o ator hollywoodiano Woody Strode que atuava com John Wayne em faroestes dirigidos por John Ford ( O homem que matou o facínora).
Recordo-me que certa vez, logo ao chegar na Rua da Feira tive a curiosidade de jogar barrufo, pensando em aumentar meu cabedal. Apostei uma moeda e ganhei outra. Estimulado, joguei mais e também ganhei. Logo depois comecei a perder. E passei a jogar pensando em recuperar as moedas perdidas. Não restou nada, fiquei “quebrado”. Ainda era o começo da tarde e não me restara um só centavo para a festa que começava. Então, pensei em pedir mais moedas ao meu pai, que tinha uma sacolinha cheia de quinhentos réis. E lá fui eu ao escritório que, naquela época, ficava na Rua dos Ribeiros em uma casa que era do Seu Hilário. Em resposta ao meu pedido, o velho fez outra indagação: onde gastara tão rápido as moedas que ele tinha me dado? Respondi:
“- Pensando em ganhar mais, joguei no barrufo e perdi tudo!”
Então recebi uma lição inesquecível:
"- Nada de outras moedas e aprenda: jogo nunca mais!"
Naquele Natal minha salvação foi o tio Sissi. Fui até a Prefeitura, onde ele trabalhava, e exclamei com a mão estirada, de pedinte:“-Minha bênção, tio Sissi”. Ele rindo, olhando para minha mão pidona, me abençoou e me deu moedas suficientes para andar no balanço de Braúna, comer arroz de galinha, tomar amorosa e comer confeitos de castanha. E passar ao largo das bancas de barrufo, lembrando a lição importante do meu bom pai:
Jogar apostado, nem pensar!
Aracaju, 11/12/2012
Beto Déda