A RUA
DOS RIBEIROS EM SIMÃO DIAS
Na semana passada, o
colega Paulo Afonso, que reside em Fortaleza, ao ler o meu último texto sobre
as lembranças de artesãos simãodienses, enviou mensagem dizendo que os
personagens ali mencionados eram quase idênticos aos que atuaram em sua terra
natal, SOUSA-PB. Acrescentou, ainda, que gostou de saber que havia em Simão
Dias uma Rua dos Ribeiros e, em tom
de brincadeira, indagou: “Quem sabe se
essa família homenageada não tinha raízes em meu torrão natal?”.
A mensagem do meu amigo
foi o sinal para rever meus implacáveis arquivos, para procurar alguma informação sobre os membros da família RIBEIRO, que na época deram o nome popular à rua que eu
nasci.
Primeiramente, lembrei-me
que tinha lido uma notícia sobre um jovem Ribeiro em jornais antigos que me
foram remetidos pelos Professores e Historiadores Jorge Bastos e Amanda Santos.
Como não localizei as cópias que eles me enviaram, consultei o site da Hemeroteca Digital na Biblioteca Nacional Virtual e
ali encontrei um arquivo com dois exemplares do jornal “A Ideia”, editado em
nossa terra, edições de 25-03-1883 e de 06-05-1883, nos quais constam notícias
sobre Tibúrcio RIBEIRO, que o jornal diz se tratar de moço esperançoso, inteligente
e probo que prestou provas e foi aprovado e nomeado para exercer cargo no
Tesouro Provincial.
Nos arquivos da Câmara
Municipal foi encontrada uma lista de vereadores, encimada com a seguinte
legenda: “Relação dos cidadãos que foram vereadores neste município durante a
extinta monarquia”. Entre os relacionados estavam Domingos José RIBEIRO e
Manuel José RIBEIRO.
O jornal “A Ideia”, edição
nº 295, de 19-04-1882, registra que Maximiliano RIBEIRO foi um dos oradores no
enterro do Major Manuel de Carvalho Carregosa, na Capelinha do Engenho Mercador.
No período de 1862 a 1872,
o Sr. José de Matos RIBEIRO cuidou das rendas da Igreja e fazia a devida
aplicação, apresentando, periodicamente, rigorosa prestação de contas perante a
justiça civil. Naquela época a Igreja era ligada ao Estado e os negócios da
Freguesia eram administrados por cidadãos católicos praticantes, de reputação
ilibada. Em nossa terra, naquela época, os administradores dos negócios da
Igreja eram conhecidos como “Fabriqueiros de Santana”.
Em 1882, o Matadouro
Municipal foi construído e administrado por um particular, o Sr. Domingos José RIBEIRO,
conforme concessão e obrigações estabelecidas na Resolução nº 1.164, de
04-05-1880, do Governo Provincial.
Em 1889, Manuel José RIBEIRO era
o Presidente da Câmara Municipal. Dez anos depois, em 1899, a Câmara de
Vereadores foi presidida por outro membro da família Ribeiro: o Vereador
Antônio RIBEIRO.
O Alferes Vicente José
RIBEIRO era um austero juiz da cidade que, em 1888, julgou um litígio envolvendo
o agricultor Galdino Conceição e que despertou o interesse popular pelo
ridículo de que se revestiu. Esse caso chistoso foi por muito tempo comentado
pelos mais velhos. Repasso o fato, tal e qual nos conta meu pai em seu livro:
O agricultor Galdino
Conceição recebera em seus pastos, de um vizinho, uma égua russa esquadrinhada,
isto é, aleijada dos quadris. E uma poldra ‘melada’, filha da mesma égua.
Convencionado o preço do aluguel, o dono dos animais pagou adiantadamente.
Antes de findar o prazo do
aluguel, Galdino Conceição entendeu ter direito sobre os animais, em face de a
égua haver cruzado com um jumento reprodutor de sua propriedade, e que, para
ele, estava ‘pejada’.
Terminado prazo
convencionado, não quis devolver os animais ao dono, alegando direito à futura
“cria”, decidindo não entregá-los até que a égua parisse e criasse o produto
nos seus pastos, para, depois, saber quanto restava ao outro.
O dono legítimo esgotou
todos os meios suasórios.
O certo é que Galdino Conceição
foi levado à Pretoria pelo advogado José Leopoldino da Silveira Collête, sendo
o Juiz o austero Alferes Vicente José Ribeiro.
A audiência atraiu muita
gente, que sentia imenso prazer em ouvir Galdino Conceição expender o seu
direito nos mínimos detalhes, inclusive representando o ato sexual dos animais,
de que proveio seu direito à futura “cria”.
O advogado José Collête
contestou as alegações do réu, o fazendo com refinada ironia, ressaltando o
estado valetudinário da égua “esquadrinhada”, imprópria para atos daquela
natureza.
Passando aos meios
conciliatórios determinados por lei, o austero juiz houve o caso como
conciliado, como consta da ata, ficando o réu Galdino Conceição obrigado a
entregar os animais ao seu dono, e este obrigado a pagar 10 mil réis ao réu,
“caso a dita égua venha a parir burro vivo”. (Carvalho
Déda - Simão Dias – Fragmentos de sua história – – 2ª Edição-2008 - Gráfica
Editora J. Andrade – pag. 117/118).
Com esta pesquisa, é de se reconhecer as razões porque antigamente a rua que nasci era denominada popularmente de Rua dos Ribeiros.
Entretanto, neste meu procurar, nada encontrei que informasse que a origem daquela família tenha sido a cidade de Sousa-PB, torrão natal do meu colega Paulo Afonso. Mas não posso descartar sua dúvida.
De igual modo não é de se desprezar a possibilidade de que um RIBEIRO simãodiense tenha fixado residência na cidade paraibana do "Vale dos Dinossauros".
ARACAJU,
05/08/2020.
BETO
DÉDA.