quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A RUA DOS RIBEIROS EM SIMÃO DIAS

Na semana passada, o colega Paulo Afonso, que reside em Fortaleza, ao ler o meu último texto sobre as lembranças de artesãos simãodienses, enviou mensagem dizendo que os personagens ali mencionados eram quase idênticos aos que atuaram em sua terra natal, SOUSA-PB. Acrescentou, ainda, que gostou de saber que havia em Simão Dias uma Rua dos Ribeiros e, em tom de brincadeira, indagou: “Quem sabe se essa família homenageada não tinha raízes em meu torrão natal?”.

A mensagem do meu amigo foi o sinal para rever meus implacáveis arquivos, para procurar alguma informação sobre os membros da família RIBEIRO, que na época deram o nome popular à rua que eu nasci.

Primeiramente, lembrei-me que tinha lido uma notícia sobre um jovem Ribeiro em jornais antigos que me foram remetidos pelos Professores e Historiadores Jorge Bastos e Amanda Santos. Como não localizei as cópias que eles me enviaram, consultei o site da Hemeroteca Digital na Biblioteca Nacional Virtual e ali encontrei um arquivo com dois exemplares do jornal “A Ideia”, editado em nossa terra, edições de 25-03-1883 e de 06-05-1883, nos quais constam notícias sobre Tibúrcio RIBEIRO, que o jornal diz se tratar de moço esperançoso, inteligente e probo que prestou provas e foi aprovado e nomeado para exercer cargo no Tesouro Provincial.



Depois, realizei uma minuciosa pesquisa no livro “Simão Dias – Fragmentos de sua história”, escrito por meu pai, e constatei que a denominação popular daquela rua teve como origem as diversas residências naquele local de membros da tradicional família Ribeiro. Nas páginas daquele livro encontrei registros de pessoas daquela família que participaram efetivamente de nossa história, conforme transmito a seguir.

Nos arquivos da Câmara Municipal foi encontrada uma lista de vereadores, encimada com a seguinte legenda: “Relação dos cidadãos que foram vereadores neste município durante a extinta monarquia”. Entre os relacionados estavam Domingos José RIBEIRO e Manuel José RIBEIRO.

O jornal “A Ideia”, edição nº 295, de 19-04-1882, registra que Maximiliano RIBEIRO foi um dos oradores no enterro do Major Manuel de Carvalho Carregosa, na Capelinha do Engenho Mercador.

No período de 1862 a 1872, o Sr. José de Matos RIBEIRO cuidou das rendas da Igreja e fazia a devida aplicação, apresentando, periodicamente, rigorosa prestação de contas perante a justiça civil. Naquela época a Igreja era ligada ao Estado e os negócios da Freguesia eram administrados por cidadãos católicos praticantes, de reputação ilibada. Em nossa terra, naquela época, os administradores dos negócios da Igreja eram conhecidos como “Fabriqueiros de Santana”.

Em 1882, o Matadouro Municipal foi construído e administrado por um particular, o Sr. Domingos José RIBEIRO, conforme concessão e obrigações estabelecidas na Resolução nº 1.164, de 04-05-1880, do Governo Provincial.

Em 1889, Manuel José RIBEIRO era o Presidente da Câmara Municipal. Dez anos depois, em 1899, a Câmara de Vereadores foi presidida por outro membro da família Ribeiro: o Vereador Antônio RIBEIRO.

O Alferes Vicente José RIBEIRO era um austero juiz da cidade que, em 1888, julgou um litígio envolvendo o agricultor Galdino Conceição e que despertou o interesse popular pelo ridículo de que se revestiu. Esse caso chistoso foi por muito tempo comentado pelos mais velhos. Repasso o fato, tal e qual nos conta meu pai em seu livro:

O agricultor Galdino Conceição recebera em seus pastos, de um vizinho, uma égua russa esquadrinhada, isto é, aleijada dos quadris. E uma poldra ‘melada’, filha da mesma égua. Convencionado o preço do aluguel, o dono dos animais pagou adiantadamente.

Antes de findar o prazo do aluguel, Galdino Conceição entendeu ter direito sobre os animais, em face de a égua haver cruzado com um jumento reprodutor de sua propriedade, e que, para ele, estava ‘pejada’.

Terminado prazo convencionado, não quis devolver os animais ao dono, alegando direito à futura “cria”, decidindo não entregá-los até que a égua parisse e criasse o produto nos seus pastos, para, depois, saber quanto restava ao outro.

O dono legítimo esgotou todos os meios suasórios.

O certo é que Galdino Conceição foi levado à Pretoria pelo advogado José Leopoldino da Silveira Collête, sendo o Juiz o austero Alferes Vicente José Ribeiro.

A audiência atraiu muita gente, que sentia imenso prazer em ouvir Galdino Conceição expender o seu direito nos mínimos detalhes, inclusive representando o ato sexual dos animais, de que proveio seu direito à futura “cria”.

O advogado José Collête contestou as alegações do réu, o fazendo com refinada ironia, ressaltando o estado valetudinário da égua “esquadrinhada”, imprópria para atos daquela natureza.

Passando aos meios conciliatórios determinados por lei, o austero juiz houve o caso como conciliado, como consta da ata, ficando o réu Galdino Conceição obrigado a entregar os animais ao seu dono, e este obrigado a pagar 10 mil réis ao réu, “caso a dita égua venha a parir burro vivo”. (Carvalho Déda - Simão Dias – Fragmentos de sua história – – 2ª Edição-2008 - Gráfica Editora J. Andrade – pag. 117/118).

 

 

Com esta pesquisa, é de se reconhecer as razões porque antigamente a rua que nasci era denominada popularmente de Rua dos Ribeiros.

 Entretanto, neste meu procurar, nada encontrei que informasse que a origem daquela família tenha sido a cidade de Sousa-PB, torrão natal do meu colega Paulo Afonso. Mas não posso descartar sua dúvida. 

De igual modo não é de se desprezar a possibilidade de que um RIBEIRO simãodiense tenha fixado residência na cidade paraibana do "Vale dos Dinossauros".


ARACAJU, 05/08/2020.

BETO DÉDA.

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