LENDO “NAVIOS
ILUMINADOS”, O ROMANCE DE RANULFO PRATA.
Recentemente, quando repousava no sítio
Lago Dourado, divertindo-me com os netos nos trabalhos da pequena horta, ou
mesmo “armengando” em minha bagunçada oficina de artesanato, aproveitei as
horas vagas para ler o romance “Navios Iluminados”, do sergipano
Ranulfo Prata. O livro foi um presente do amigo e colega Gilberto Duarte, que
reside em São Paulo.
![]() |
Foto de Ranulfo Prata - exposta na 5ª Edição do romance Navios Iluminados - (Com Arte e Edusp) |
O romancista Ranulfo Prata nasceu em Lagarto
(SE), em 1896, e faleceu com apenas 46 anos, na cidade de Santos (SP), em 1942.
Iniciou seus estudos em Sergipe e deu continuidade em Salvador, transferindo-se
depois para o Rio de Janeiro, onde se formou em medicina. Exerceu atividade médica
aqui em Aracaju e foi o responsável pela organização do gabinete radiológico,
no governo Graccho Cardoso.
Anos depois fixou residência em Santos,
clinicando na Santa Casa de Beneficência Portuguesa daquela cidade paulista.
Nas horas vagas de seu trabalho como médico dedicou-se à literatura, escrevendo
contos, documentários e os romances “O triunfo”; Dentro da Vida, “O lírio na
torrente” e “Navios Iluminados”.
![]() |
Capa da 5ª Edição do livro de Ranulfo Prata |
“Navios iluminados” é um romance social
dos anos 30, em que o autor sergipano narra a história de Severino, principal
personagem, que deixa a cidade baiana de Patrocínio do Coité (hoje
Paripiranga), fugindo da miséria que imperava no nordeste brasileiro daquela
época. Na narrativa, o Severino foi tentar a vida no sul, trabalhando nas Docas
de Santos (SP), local onde a pobreza e o sofrimento continuaram marcando seu
triste destino. Ali ele presencia fatos que nos fazem lembrar as mazelas das
sociedades industrializadas denunciadas por Karl Marx e Friedrich Engels (por
favor, não confundam nem troquem Engels por Hegel – Georg Wilhelm Friedrich
Hegel –, como fizeram, “por açodamento e burrice”, três promotores públicos de
São Paulo ao justificarem a ilegal e arbitrária prisão preventiva
do ex-presidente Lula).
O exemplar que o Gilberto me enviou de
“Navios Iluminados” é a 5ª Edição, publicada em 2015 pela Universidade de São
Paulo-USP (Com-Arte/Edusp), e é apresentada pela Professora Marisa Midori
Deaecto, docente do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de
Comunicações e Artes da USP.
Em sua apresentação, a Professora Marisa
Midori afirma, com categoria, que Ranulfo Prata - ao descrever as vicissitudes
da vida de Severino e de tantos outros pobres sofredores vindos de todas as
partes - insere o romance “Navios Iluminados” em outra vertente da literatura
social: aquela que concebe os fatos dentro da categoria da luta de classes, na
oposição clássica entre o capital e o trabalho ou entre o burguês e o
operariado. E faz uma indagação, ao
dizer que este fato “nos conduz a uma questão insolúvel, talvez o grande dilema
da humanidade, certamente, de todo historiador: afinal, o que pode o homem diante das estruturas que a um só tempo o
sustentam e o oprimem?”
Trata-se ou não de uma questão sem
solução? Não sei. Mas a situação vivida
por nosso Brasil nestes últimos dias nos leva a lutar contra as “estruturas” que
lideram o golpe e nos encorajam a encontrar uma resposta que proteja os menos
favorecidos e oprimidos.
Após a leitura de “Navios Iluminados”,
percebo “que já era o tempo de se redescobrir a obra de tão raro quilate”, tal
e qual previu a Profª Marisa Midori Deaecto, no encerramento da apresentação do
romance. E ela tem absoluta razão...
Meus agradecimentos ao Gilberto por esse
importante livro.
Aracaju,
04/06/2016
BETO DÉDA