sábado, 4 de junho de 2016

LENDO “NAVIOS ILUMINADOS”, O ROMANCE DE RANULFO PRATA.
Recentemente, quando repousava no sítio Lago Dourado, divertindo-me com os netos nos trabalhos da pequena horta, ou mesmo “armengando” em minha bagunçada oficina de artesanato, aproveitei as horas vagas para ler o romance “Navios Iluminados”, do sergipano Ranulfo Prata. O livro foi um presente do amigo e colega Gilberto Duarte, que reside em São Paulo.
Foto de Ranulfo Prata - exposta na 5ª Edição do romance
Navios Iluminados - (Com Arte e Edusp)
 

O romancista Ranulfo Prata nasceu em Lagarto (SE), em 1896, e faleceu com apenas 46 anos, na cidade de Santos (SP), em 1942. Iniciou seus estudos em Sergipe e deu continuidade em Salvador, transferindo-se depois para o Rio de Janeiro, onde se formou em medicina. Exerceu atividade médica aqui em Aracaju e foi o responsável pela organização do gabinete radiológico, no governo Graccho Cardoso.
Anos depois fixou residência em Santos, clinicando na Santa Casa de Beneficência Portuguesa daquela cidade paulista. Nas horas vagas de seu trabalho como médico dedicou-se à literatura, escrevendo contos, documentários e os romances “O triunfo”; Dentro da  Vida, “O lírio na torrente” e “Navios Iluminados”.  
Capa da 5ª Edição do livro de Ranulfo Prata
“Navios iluminados” é um romance social dos anos 30, em que o autor sergipano narra a história de Severino, principal personagem, que deixa a cidade baiana de Patrocínio do Coité (hoje Paripiranga), fugindo da miséria que imperava no nordeste brasileiro daquela época. Na narrativa, o Severino foi tentar a vida no sul, trabalhando nas Docas de Santos (SP), local onde a pobreza e o sofrimento continuaram marcando seu triste destino. Ali ele presencia fatos que nos fazem lembrar as mazelas das sociedades industrializadas denunciadas por Karl Marx e Friedrich Engels (por favor, não confundam nem troquem Engels por Hegel – Georg Wilhelm Friedrich Hegel –, como fizeram, “por açodamento e burrice”, três promotores públicos de São Paulo ao justificarem a ilegal e arbitrária prisão preventiva do ex-presidente Lula).
O exemplar que o Gilberto me enviou de “Navios Iluminados” é a 5ª Edição, publicada em 2015 pela Universidade de São Paulo-USP (Com-Arte/Edusp), e é apresentada pela Professora Marisa Midori Deaecto, docente do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP.
Em sua apresentação, a Professora Marisa Midori afirma, com categoria, que Ranulfo Prata - ao descrever as vicissitudes da vida de Severino e de tantos outros pobres sofredores vindos de todas as partes -  insere o romance “Navios Iluminados” em outra vertente da literatura social: aquela que concebe os fatos dentro da categoria da luta de classes, na oposição clássica entre o capital e o trabalho ou entre o burguês e o operariado. E faz uma  indagação, ao dizer que este fato “nos conduz a uma questão insolúvel, talvez o grande dilema da humanidade, certamente, de todo historiador: afinal, o que pode o homem diante das estruturas que a um só tempo o sustentam e o oprimem?”
Trata-se ou não de uma questão sem solução? Não sei.  Mas a situação vivida por nosso Brasil nestes últimos dias nos leva a lutar contra as “estruturas” que lideram o golpe e nos encorajam a encontrar uma resposta que proteja os menos favorecidos e oprimidos.
Após a leitura de “Navios Iluminados”, percebo “que já era o tempo de se redescobrir a obra de tão raro quilate”, tal e qual previu a Profª Marisa Midori Deaecto, no encerramento da apresentação do romance. E ela tem absoluta razão...
Meus agradecimentos ao Gilberto por esse importante livro.

Aracaju, 04/06/2016

BETO DÉDA

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