O popular Chico Bina
No correr desta semana, tomei conhecimento, com pesar, que o conterrâneo Francisco de Pádua Santos, conhecido popularmente como Chico Bina, faleceu no dia 17 de junho.
Chico Bina era um amigo simãodiense que conheci quando eu ainda era rapazola e ele figurava como um dos dirigentes do futebol simãodiense. Ele e Benedito Araújo foram diretores do Vasco da Gama, que foi vencedor de uma campeonato realizado em Simão Dias, em 1956, no estádio José Barreto, situado no Bairro Bonfim. Na verdade não era um estádio, mas um gramado circundado por uma empanada branca, igual as laterais de pano que protegem os circos. Participaram do certame quatro times da cidade: Vasco, Flamengo, Vitória e Lira Santana.
Ao comemorar o título, os jogadores vascaínos pousaram para uma foto, com a faixa de campeões. E lá também estavam Chico Bina e Benedito Araújo, envergando suas respectivas faixas como dirigentes do time (V. foto abaixo).
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O time do Vasco campeão do torneio realizado em Simão Dias, em 1956 (Chico Bina está à direita). |
Eu
era torcedor do Flamengo e, é claro, não me alegrei com a festa,
muito embora tenha participado de um coquetel e lanche oferecidos
pelo casal Benedito/Miralda na residência deles, onde saboreei um
delicioso creme de chocolate. Naquela ocasião, percebendo minha
tristeza, Chico me contentou, dizendo que o meu Flamengo, embora
vencido, era um bom time, formado por jovens craques, entre os quais os irmãos
Dié e Cessa.
Ele tinha uma Lanchonete e Bar na esquina da antiga Rua da Palha com a Rua Mulungu, atualmente denominadas Rua Marechal Deodoro e Rua Manoel de Carvalho. A lanchonete ficava ao lado do Açougue Municipal. Quando eu era adolescente, nos dias de sábado, após a distribuição do jornal “A Semana”, era ali que eu tomava café e ouvia o pilheriar de negociantes e magarefes sobre o preço da carne no açougue e as discussões sobre assuntos palpitantes da cidade. As mesas estavam sempre cheias e ouvia-se o barulho de muitas vozes em simultâneo. Mas o ambiente era bom e agradável.
Nas noites de verão, era costume de Chico se reunir com os amigos Demerval Guerra e Filadelfo Oliveira na Praça Barão de Santa Rosa, em frente a Igreja, para discutir assuntos de nossa sociedade. Muitas vezes éramos surpreendidos com a risada do simpático trio ao comentar um fato hilário acontecido na cidade.
Chico Bina era um homem cívico, idôneo, que gostava de ajudar as pessoas. Era conhecido por fazer um chá especial para curar hepatite, a doença do amarelão. Pessoas acometidas do mal, residentes na cidade e circunvizinhança, procuravam o chá de Seu Chico para combater a doença. Ele atendia com presteza.
Cidadão benquisto por todos, foi vereador do município, sempre defendendo os interesses dos menos favorecidos, com importantes atuações no legislativo municipal. Lembro-me agora de um projeto de lei de sua lavra, para beneficiar a pobreza, através do abastecimento de água. Para isto previa a construção de quatro chafarizes na cidade: no Bairro Bonfim e nas ruas Santa Cruz, Louceiras e Alambique. Não obstante se tratar de um plano de cunho humanitário, o projeto não foi aprovado. Em seu lugar, a maioria dos vereadores aprovou o aumento dos subsídios do Prefeito, um ato inconstitucional, vez que tal aumento somente seria admissível no final de legislatura. Interrogado sobre o assunto, o Chico me disse que ficou frustrado, mas assegurou que não perdera o ânimo para continuar na luta pelos menos favorecidos.
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Jornal "A Semana" e a notícia sobre o projeto dos chafarizes |
Francisco de Pádua Santos – ou melhor: meu amigo Chico Bina – faleceu aos 90 anos de idade. Ele foi um simãodiense que não esqueço e que continua vivo em meus pensamentos.
Para os familiares, especialmente para a amiga Débora Silva, transmito meu abraço solidário, com saudade.
Aracaju, 01 de julho de 2022.
Beto Déda