quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Alexandre Caroso, tio João e a lamparina.
No último sábado, na feirinha do bairro Grageru, comentando com Wellington Aragão sobre os amigos da velha guarda de Simão Dias e Jequié, lembrei-me do Alexandre Caroso, outro jequieense que também partilhava da amizade do tio João, Dr. Salustino e Lapa.
Foto capturada do Google Map. Rua Alvares Cabral, Jequié- BA
Alexandre Caroso era um pecuarista que residia em Salvador, mas sempre estava em Jequié onde possuía sua propriedade rural. Na cidade sol, ele pernoitava em uma casa que tinha na Rua Álvares Cabral, próximo a minha residência. Foi lá que o conheci.

Ficamos amigos quando eu soube que ele conhecera minha terra e o tio João Déda, ao visitar Dr. Salustino, em companhia do Sr. Lapa.


Tio João Déda
Lembro-me das boas risadas do Alexandre ao me contar como conhecera meu tio. Repasso o causo aos amigos, procurando ser fiel ao que me foi relatado. Aliás, esse fato foi devidamente confirmado pelos demais participantes.
Dizia Alexandre que já conhecia, por ouvir dos amigos comuns, a paciência e os cuidados do tio João ao realizar os trabalhos de artesanato. Em companhia do Dr. Salustino e do Seu Lapa, fora conhecer meu tio em sua tenda. Os amigos ficaram observando ao longe, e sugeriram que o Alexandre fosse sozinho conhecê-lo e testar sua paciência.
O Alexandre foi mansamente entrando na tenda e observando os trabalhos em couro. Era tardinha e meu tio estava em frente ao seu balcão de trabalho, começando a acender uma placa (na época não existia energia elétrica em Simão Dias e se usavam as luminárias a querosene: placas ou lampiões, candeeiros e petromax).
O Alexandre aproximou-se, cumprimentou meu tio e indagou: “O senhor faz e vende jalecos como esse aí?”.
Meu tio virou-se para olhar o jaleco, então o Alexandre, sem o velho perceber, assoprou em direção à placa e apagou o pavio. Antes de responder, meu tio pegou o fósforo e voltou a acender a lamparina. O visitante continuou fazendo indagações para distraí-lo, aproveitou uma oportunidade e  mais uma vez apagou a luminária. Pacientemente meu tio pegou, em baixo do balcão, a caixa de fósforos e novamente acendeu o pavio.
Alexandre encompridou a conversa e, pela terceira vez, apagou o pavio da placa. Aí já dava pra notar que estava acontecendo alguma coisa errada. Meu tio franziu a testa, balançou levemente a cabeça de lado, então pegou em baixo do balcão, não o fósforo, mais o seu inseparável revólver 38, Smith & Wesson, conhecido na terra do Caiçá como “simite-oeste 38”, apontou para o assustado interlocutor, e lançou a enérgica advertência:
“Apague de novo seu peste, pra vê se eu também não lhe apago!...
Nesse instante, Dr. Salustino e Lapa entraram rapidamente na tenda e acalmaram tio João, esclarecendo a brincadeira.
E riram muito, lembrando a expressão de susto do Alexandre.
A paciência do meu tio tinha limites.
Aracaju, 11/11/2015

BETO DÉDA