Meu irmão Carlos Eugênio...
Os mais novos da
família não conheciam o meu querido irmão Carlos Eugênio. Em vista disso,
acredito que é importante registrar, aqui, instantes de nossa vida comum, que
sempre estiveram em minha memória e que se tornaram constantes nestes últimos
dias.
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Carlos e seu diploma do curso primário |
Nosso primeiro
nome era o mesmo: ele, CARLOS Eugênio; eu, Carlos ALBERTO.
Em nossa família ele era conhecido como CARLOS e, para diferenciar, meus
pais me chamavam de ALBERTO, especialmente o meu pai. Os meus
irmãos, pela lei do menor esforço, abreviaram e eu passei a ser conhecido na
família como BETO.
Ele concluiu o
curso primário em 1953, no Grupo Escolar Fausto Cardoso. Foi uma festa bonita
realizada no Cine Brasil, que fora inaugurado naquele ano. O jornal A Semana
divulgou a notícia da formatura (Ver foto abaixo).
Além da diversão, ele também partilhou comigo os trabalhos que fazia para reforçar sua mesada. Com ele fiz parcerias, tanto nas oficinas do jornal “A Semana”, como fazendo gaiolas de passarinhos ou ajudando no comércio de revistas. Ele foi o representante da Rio Gráfica Editora em nossa cidade e passou a comercializar as revistas e gibis daquela editora. Conseguiu um balcão com vidraças, colocou na sala da frente da redação do jornal e ali expunha as revistas em quadrinhos. Ele me incumbia de vender as revistas no cinema, pagava o ingresso e me dava gorjetas. Eu me encantava com esse trabalho porque via bons filmes e ainda tinha a primazia de ler, em primeira mão, todos os gibis. Foi folheando e lendo essas revistas que comecei a gostar de boas leituras e passei a desvendar os encantos dos livros da biblioteca de meu pai.
Naquela época, em
nossa cidade não existia escola do segundo grau e isso frustrou os planos de
estudo do meu irmão. Calado e introvertido, traçou sozinho e cuidadosamente
seu objetivo de vida e partiu para o sul do país; ele próprio cuidou de
programar seu futuro.
Recordo-me, agora daquele tempo, do anoitecer do dia que antecedeu sua inesperada viagem. Depois do banho, ele
passou a se barbear em frente a um espelho que ficava ao lado da cozinha da
casa de nossos pais. E eu olhava admirado, acompanhando curioso seu modo de
escanhoar os lisos pelos de seu rosto. Ele olhou-me com um sorriso bondoso que,
até esta data, não saiu de minha conservada memória. E as lágrimas novamente se
rebelam nessa pequena lembrança.
Ele devia ter 16
ou 17 anos quando, depois de uma viagem de trem cheia de padecimento e
aventura, chegou à casa de nossos parentes no Rio de Janeiro. Acolheram-no o
tio Gibson e o primo Sinito. Carlos passou a estudar e residir em um colégio
que era do sogro de Sinito. Serviu ao Exército e foi estudar
na ESA (Escola de Sargentos das Armas) na cidade mineira de Três Corações. Se
formou como Sargento Topógrafo.
Casou-se com a
querida Zélia Biss Déda, com quem compartilhou toda sua vida. Do casal nasceram
os filhos Júnior e Nuccia. O Júnior dedicou seus estudos à engenharia
topográfica e passou a dirigir a firma fundada por seu pai. Nuccia é
professora no Rio de Janeiro e herdou da família o gosto pela arte,
faz belíssimas pinturas.
Nos velhos tempos,
quando não havia a facilidade de comunicação dos dias atuais, mantínhamos
contato mediante cartas frequentes, em muitas laudas, com notícias de
familiares e comentando a realidade brasileira, especialmente do nosso
Nordeste. E, democraticamente, discutíamos nossos anseios e procurávamos pontos
convergentes nas diferenças ideológicas.
Estive no sul do
país algumas vezes, visitando meu irmão em Ponta Grossa-PR, onde ele residia.
Depois ele foi residir em São Paulo. Ele sempre vinha a Sergipe para rever os
parentes e amigos. A última vez que por aqui esteve foi em 2019, quando fomos
rever a nossa terra natal e abraçar os familiares. Agora percebo que foi uma
visita de despedida.
Recentemente, em
23/09/2022, o inesquecível Carlos Eugênio fez a viagem final. Partiu para o
lado da vida eterna. Seguiu o mesmo caminho da também amada irmã Zilda, que nos
deixou recentemente, em 09/08/2022. Amplia-se a dor da saudade quando
lembramos que em anos recentes também partiram para mundo celestial os
inesquecíveis Artur, Nancy e Malô. Ao lembrá-los, a saudade me faz
sentir o correr de mornas gotas de lágrimas em minha octogenária face.
Carlos Eugênio era
um homem íntegro, de pouco falar, mas de um coração imenso, com um
forte sentido de justiça e uma moral cívica encantadora.
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Carlos Eugênio: mais uma estrela no Céu. |
Neste instante,
repito o que faço no silêncio dessas últimas noites insones: peço ao bondoso
Deus que conforte a querida Zélia, a Júnior, a Nuccia e a todos os familiares.
E que o Pai Eterno acolha o sempre lembrado e amado Carlos no reino celestial.
Até breve, meu
irmão!
Aracaju, 09\10 \2022
Beto Déda