Os relatórios de um inspetor escolar
Tomei conhecimento que, durante esta semana, em Simão Dias,
a Escola Estadual José de Carvalho Déda está comemorando 50 anos de sua
inauguração.
Na data de hoje, são transcorridos exatamente 54 anos que o patrono daquela escola faleceu. Carvalho Déda foi um defensor cuidadoso da
melhoria do ensino em nosso estado. Ele também foi Diretor do Grupo Escolar
Fausto Cardoso e Inspetor Escolar Estadual, classificado em primeiro lugar em
concurso realizado pelo Estado de Sergipe. Como responsável pela 2ª Inspetoria Escolar
do Estado, ele supervisionava as escolas dos municípios de Simão Dias, Lagarto,
Riachão do Dantas e Tobias Barreto.
Também realizou inspeção em escolas de Itabaianinha, Propriá, Boquim, Salgado e
outros municípios.
A Professora Amanda Santos, que faz o curso de
doutorado na Universidade da Bahia, é uma perspicaz e eficiente pesquisadora.
Ela leu nas últimas páginas do livro Simão Dias – Fragmentos de sua História,
2ª Edição-2008, o discurso pronunciado pelo Senador José Rollemberg Leite em homenagem póstuma a Carvalho Déda, cujo requerimento foi aprovado por unanimidade de votos no Senado da República, em setembro de 1968.
Em seu discurso, Dr. José Rollemberg Leite, que além
de Senador também foi Governador do Estado de Sergipe, disse o seguinte:
“Conhecemo-nos em 1941, quando dirigindo o setor
educacional do meu estado, foi ele um dos meus auxiliares, ocupando as funções
de Inspetor Escolar. Recordo-me de seus Relatórios minuciosos, cheios de
observações sobre as escolas que inspecionava e o meio social em que se
encontravam, apontando providências que a administração deveria tomar para
melhorar o ensino e a educação das crianças, reclamando o não atendimento de
outras já pedidas, reclamações que fazia com veemência”.
Pois bem. A doutoranda Amanda foi ao Arquivo Público
de Sergipe e conseguiu a cópia de vários Relatórios escritos pelo Inspetor
Carvalho Déda, comprovando o que dissera o Senador no discurso em homenagem
póstuma.
Transcrevo alguns desses relatórios, devendo
esclarecer que após consignar em documento suas impressões sobre as escolas
visitadas, era praxe o inspetor deixar o original no estabelecimento
inspecionado e recomendar que a professora ou o professor responsável pela
escola tirasse cópias, remetendo-as para: a Secretaria de Educação do Estado, o
Distrito de Inspeção e, se fosse o caso de escola municipal, para o Prefeito do
Município.
Vale lembrar que naquela época não existia a facilidade dos atuais aparelhos de duplicação (xerox), de modo que os relatórios originais assinados pelo inspetor eram copiados à pena (manuscritos) pela professora da escola. Informo isto para esclarecer um fato importante em que, diante da falta de condições físicas de uma professora, o próprio inspetor efetivou a cópia do relatório, remetendo-a à Secretaria de Educação, pedindo providências para amparar a professora que estava gravemente enferma. No último parágrafo do relatório, ele fez o seguinte registro:
"Dado o estado de saúde da docente, dispenso a mesma da obrigação de extrair cópias deste termo, prontificando-me desde já a extrai-las e remeter uma delas ao Inspetor Geral de Ensino Primário. Assinado: José de Carvalho Déda - Inspetor Escolar do 2º Distrito".
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Relatório em que Carvalho Déda informa problema de saúde da Professora da escola inspecionada.. |
Os relatórios eram realmente minuciosos e sempre
apresentavam soluções que deveriam ser adotadas pela administração pública. Assim
é que solicitou providências para: mudança de local de escola, justificava a
necessidade de móveis, carteiras, mesas para os professores e fazia recomendações
especiais para o melhor aproveitamento do ensino. Não faltavam também o reconhecimento aos
trabalhos de dedicadas professoras. Veja, abaixo, cópia do relatório sobre o
Grupo Escolar Fausto Cardoso de nossa cidade.
As inspeções não eram exclusivas das sedes dos
municípios. A maioria delas estavam localizadas em povoados. E o deslocamento
para esses lugares era feito utilizando animais de montaria. No inverno, a
situação ficava difícil devido ao estado das estradas, alagadas e com lamas escorregadias.
O jornalista João Oliva nos contava que acompanhou Carvalho Déda em uma inspeção no povoado Volta, do interior de Riachão do Dantas, nos ido de 1943, e ficou impressionado com as impressões que lhe foram transmitidas sobre lembranças que o inspetor guardava do tempo que residia na sede daquele município (páginas 147 a 149 do livro Formigas de Assas).
É de se notar a justa homenagem que a Secretaria de Educação, em 1968, fez ao denominar aquela escola como o nome de José de Carvalho Déda, um defensor ardoroso da melhoria do ensino em nossa Sergipe.
Aracaju, 02\09\22
Beto Déda