sexta-feira, 8 de abril de 2016



LEMBRANÇAS DO CIRCO NERINO E OUTROS ACONTECIMENTOS CIRCENSES EM SIMÃO DIAS.

Na última semana, quando escrevi sobre o serviço de alto-falantes de nossa cidade, dois fatos levaram-me a recordar de espetáculos circenses que aconteceram em nossa terra. Primeiro foi a lembrança de um vídeo com o saudoso Floriano Nascimento (fita em VHS que infelizmente ainda não consegui recuperar); depois foi um comentário do primo Heraldo Déda sobre o Circo Nerino.

Na entrevista que fiz com o Floriano, conversarmos sobre os serviços de alto-falantes existentes em de Simão Dias nos anos 50 e, de modo especial a TUPY, que tinha um horário dedicado ao programa “A Crônica do Dia”. Eram lidos artigos escritos sobre a cidade, muitos deles de autoria de meu pai e de tio Sininho.

Conservo em meus arquivos o original de um dos artigos escritos por meu pai e lido pelos locutores da Tupy: “Simão Dias e o Circo Nerino”. Ao escrevê-la meu pai usou o pseudônimo: Tio João.

O Nerino foi o maior circo que se apresentou em nossa cidade. Não só pelo tamanho, como pela variedade e qualidade do espetáculo, quer no picadeiro ou nas peças teatrais. Daquele tempo, recordo-me de alguns pontos marcantes: o palhaço Figurinha, a apresentação dos cavalos amestrados e uma peça teatral denominada “A louca do jardim”. Em um dos atos dessa peça aparecia uma das artistas, interpretando a louca, com os cabelos desgrenhados e que, a um só tempo, chorava e dava longas gargalhadas. Durante algum tempo, quando deparávamos com uma garota em exagerado choro, apelidávamos de “louca do jardim”, lembrando a personagem bipolar da peça circense.

Outra lembrança era a cestinha de vime, que bonitas garotas do circo portavam para vender guloseimas entre os espectadores. Foi a primeira vez que presenciei a venda de maçãs em Simão Dias: maçãs vermelhas, “in natura”, que irradiavam um perfume inconfundível (as frutas de hoje não exalam o cheiro como as de antigamente), e maçãs embebecidas em caldas de açúcar com anilina vermelha, espetadas em palitos de picolé, conhecidas como maçãs do amor. Tudo, mas tudo mesmo era uma novidade maravilhosa para os meninos, como eu, tabaréus do interior.

Depois do Nerino, muitos circos de menor tamanho se apresentaram na cidade. Cada estreia era motivo de contentamento para a gurizada. Geralmente os circos menores anunciavam os espetáculos por meio de seus palhaços, que percorriam as ruas da cidade, no alto de pernas de pau, empunhando um megafone artesanal (um cone de zinco parecendo um funil) para ampliar o som. O palhaço era seguido pela meninada, batendo pedras entre as mãos e cantando em coro. Lembro-me que eu também participei da turma que acompanhava o palhaço.

Certa vez, juntei-me aos colegas de futebol da Praça de São João: Tonho e João de Seu Manequinha, Miraldo de dona Zifinha, Sorrindo, Rosalvo, Zelito e outros. Fomos todos ao bairro Bonfim, onde o circo estava armado, para acompanhar o palhaço pelas ruas da cidade, batendo pedrinhas e respondendo suas chamadas em canto uníssono:
Oh, raia o sol, suspende a lua:
Olha o palhaço no meio da rua.

 Hoje tem espetáculo?
Tem sim, senhor!

Começa às oito horas de noite?
Começa sim, senhor!

Tem goiabada?
Tem sim, senhor!

 Tem marmelada?
Tem sim, senhor!

E o palhaço o que é?
Ladrão de mulher!

Arrocha meninada!

Ihhhhhhhhh (gritava a garotada). E ouvia-se o incentivo do palhaço: “Mais um pouquinho, turma...”, “Mas um bocadinho... E nossos gritos e o som da batida de pedras ecoavam pelas ruas de Simão Dias.

 Depois, o palhaço pintava o pulso de cada garoto com uma marca de tinta preta, de modo a permitir a entrada grátis no circo.

Naquele dia, eu fiz um esforço medonho enquanto tomava banho, de modo a não molhar o pulso e evitar que a marca desaparecesse.
Mas à noite, quando me preparava para o café com o delicioso cuscuz de milho ralado, minha mãe notou que meu pulso estava sujo. Olhou com cuidado e uma de minhas irmãs exclamou:

- É a marca dos meninos que batem pedra e gritam acompanhando o palhaço. Com essa marca entram no circo sem pagar.
Minha mãe desaprovou meu comportamento, levou-me ao lavatório próximo à sala de jantar, lavou meu pulso, apagou a bendita marca e passou-me um sermão.

Naquela noite não saí de casa. No entanto, embora fosse fã de espetáculos circenses, não fiquei chateado. O melhor já tinha acontecido, quando juntamente com meus colegas da Praça de São João acompanhei o palhaço, cantando alegremente e batendo pedrinhas na palma da mão.
Foram momentos de imensa alegria e que ainda hoje permanecem indeléveis em minha memória.

(PS – Estas lembranças eu dedico aos amigos e companheiros dos velhos tempos e, de modo especial, ao saudoso Floriano Nascimento).

ARACAJU, 08/04/2016
BETO DÉDA

A seguir cópia do artigo escrito meu pai. Vejam que beleza de artigo:


 
Primeira página da crônica escrita por Carvalho Déda: Simão Dias e o Circo Nerino.
 


Página 2 da crônica escrita por Carvalho Déda: Simão Dias e o Circo Nerino.

Página 3 da crônica  escrikto por Carvalho Déda: Simão Dias e o Circo Nerino.

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 7 de abril de 2016


AS PIRUETAS DE MEU NETO E AS LEMBRANÇAS DA CANÇÃO "MEU PRIMEIRO AMOR" TOCADA NO SERVIÇO DE ALTO-FALANTES TUPY.
 
Domingo passado, meu neto brincava sozinho e – fingindo que não estava me vendo – fazia caretas e gestos para que eu percebesse e risse.
 
 
Lembrei-me, então, que nos velhos tempos, eu fazia também minhas palhaçadas para admiração dos outros, sem demonstrar que os via, embora de soslaio me certificasse de que era percebido.
 
 Recordo-me, agora, das piruetas esquisitas que fiz para impressionar minha primeira namorada. Eu devia ter 12 anos de idade e a garotinha morava próximo a minha casa, na Rua dos Ribeiros. Era o tempo em que o namoro acontecia através da troca de discretos olhares. Somente depois de muita conversa e aproveitando-se de um descuido, conseguia-se um ligeiro e roubado beijo. Coisas dos meninos daquela época.
 
As lembranças de minhas peripécias como iniciante galanteador fizeram vir à memória dois pontos interessantes dos bons tempos: a canção “Meu Primeiro Amor”, cantada por Cascatinha e Inhana, e o serviço de alto-falantes denominado “TUPY”, que nos anos 50 funcionava em Simão Dias e tocava aquela saudosa música.
 
 A sede da Tupy ficava na Rua do Coité, em uma sala estreita, com um batente alto, próximo à casa de Dr. Belmiro Gois. O serviço de som era transmitido por diversos alto-falantes, distribuídos em pontos estratégicos da cidade: na Rua do Coité (em frente ao Bar de Valério), no Bonfim (em frente à casa de Dão Rodrigues), na Rua do Pastinho (em frente à tenda de Seu Caboclo), na Rua da Feira (entre a Prefeitura e a Loja de Elísia Montalvão) e outros lugares. Os principais locutores eram Floriano Nascimento e Demerval Guerra.
 
As pessoas iam à sede da Tupy, pagavam uma pequena taxa e faziam bilhetes parabenizando os aniversariantes e dedicando músicas de cantores de sucesso (Emilinha Borba, Orlando Silva, Marlene, Elizeth Cardoso, Dalva de Oliveira, Sílvio Caldas, Carlos Galhardo, Ângela Maria, Ataulfo Alves e outros não menos apreciados). Os rapazes trocavam delicadezas com as moças, oferecendo músicas e enviando mensagens codificadas.
 
Não obstante minha pouca idade, lembro-me que mais de uma vez fui até a sede da Tupy e, sorrateiramente, deixava sobre o balcão, próximo ao locutor, um bilhete dedicando uma música para minha primeira namorada. E ficava atento, esperando que transmitissem a minha mensagem e tocassem a música escolhida.
Com um sorriso largo, olhando a garota a pouca distância, ouvíamos o inesquecível timbre de voz do Floriano Nascimento, ao anunciar minha mensagem:
- Para a garota de olhos meigos da Rua dos Ribeiros vai esta canção que lhe dedica um jovem admirador...
 
E rolavam o disco de Sílvio Caldas: “A Deusa da minha rua”.
 
 Acontecia, então, a apoteose do meu devaneio ao perceber o leve sorriso dos olhos meigos aprovando meu galanteio...
 
Aracaju, 02/04/2016
BETO DÉDA