LEMBRANÇAS DO CIRCO NERINO E
OUTROS ACONTECIMENTOS CIRCENSES EM SIMÃO DIAS.
Na última semana,
quando escrevi sobre o serviço de alto-falantes de nossa cidade, dois fatos
levaram-me a recordar de espetáculos circenses que aconteceram em nossa terra.
Primeiro foi a lembrança de um vídeo com o saudoso Floriano Nascimento (fita em
VHS que infelizmente ainda não consegui recuperar); depois foi um comentário do
primo Heraldo Déda sobre o Circo Nerino.
Na entrevista
que fiz com o Floriano, conversarmos sobre os serviços de alto-falantes
existentes em de Simão Dias nos anos 50 e, de modo especial a TUPY, que tinha
um horário dedicado ao programa “A Crônica do Dia”. Eram lidos artigos
escritos sobre a cidade, muitos deles de autoria de meu pai e de tio Sininho.
Conservo em meus
arquivos o original de um dos artigos escritos por meu pai e lido pelos locutores
da Tupy: “Simão Dias e o Circo Nerino”. Ao escrevê-la meu pai usou o
pseudônimo: Tio João.
O Nerino foi o
maior circo que se apresentou em nossa cidade. Não só pelo tamanho, como pela
variedade e qualidade do espetáculo, quer no picadeiro ou nas peças teatrais.
Daquele tempo, recordo-me de alguns pontos marcantes: o palhaço Figurinha, a
apresentação dos cavalos amestrados e uma peça teatral denominada “A louca do
jardim”. Em um dos atos dessa peça aparecia uma das artistas, interpretando a
louca, com os cabelos desgrenhados e que, a um só tempo, chorava e dava longas
gargalhadas. Durante algum tempo, quando deparávamos com uma garota em
exagerado choro, apelidávamos de “louca do jardim”, lembrando a personagem
bipolar da peça circense.
Outra lembrança
era a cestinha de vime, que bonitas garotas do circo portavam para vender
guloseimas entre os espectadores. Foi a primeira vez que presenciei a venda de
maçãs em Simão Dias: maçãs vermelhas, “in natura”, que irradiavam um perfume
inconfundível (as frutas de hoje não exalam o cheiro como as de antigamente), e
maçãs embebecidas em caldas de açúcar com anilina vermelha, espetadas em
palitos de picolé, conhecidas como maçãs do amor. Tudo, mas tudo mesmo era uma
novidade maravilhosa para os meninos, como eu, tabaréus do interior.
Depois do
Nerino, muitos circos de menor tamanho se apresentaram na cidade. Cada estreia
era motivo de contentamento para a gurizada. Geralmente os circos menores
anunciavam os espetáculos por meio de seus palhaços, que percorriam as ruas da
cidade, no alto de pernas de pau, empunhando um megafone artesanal (um cone de
zinco parecendo um funil) para ampliar o som. O palhaço era seguido pela
meninada, batendo pedras entre as mãos e cantando em coro. Lembro-me que eu
também participei da turma que acompanhava o palhaço.
Certa vez,
juntei-me aos colegas de futebol da Praça de São João: Tonho e João de Seu
Manequinha, Miraldo de dona Zifinha, Sorrindo, Rosalvo, Zelito e outros. Fomos
todos ao bairro Bonfim, onde o circo estava armado, para acompanhar o palhaço pelas
ruas da cidade, batendo pedrinhas e respondendo suas chamadas em canto
uníssono:
Oh, raia o sol, suspende a lua:Olha o palhaço no meio da rua.
Começa às oito horas de noite?
Começa sim, senhor!
Tem goiabada?
Tem sim, senhor!
E o palhaço o que é?
Ladrão de mulher!
Arrocha meninada!
Ihhhhhhhhh (gritava a
garotada). E ouvia-se o incentivo do palhaço:
“Mais um pouquinho, turma...”, “Mas um bocadinho... E nossos gritos e o som
da batida de pedras ecoavam pelas ruas de Simão Dias.
Naquele dia, eu fiz
um esforço medonho enquanto tomava banho, de modo a não molhar o pulso e evitar
que a marca desaparecesse.
Mas à noite,
quando me preparava para o café com o delicioso cuscuz de milho ralado, minha
mãe notou que meu pulso estava sujo. Olhou com cuidado e uma de minhas irmãs
exclamou:
- É a marca dos meninos que batem pedra e gritam
acompanhando o palhaço. Com essa marca entram no circo sem pagar.
Minha mãe desaprovou
meu comportamento, levou-me ao lavatório próximo à sala de jantar, lavou meu pulso, apagou a
bendita marca e passou-me um sermão.
Naquela noite
não saí de casa. No entanto, embora fosse fã de espetáculos circenses, não
fiquei chateado. O melhor já tinha acontecido, quando juntamente com meus
colegas da Praça de São João acompanhei o palhaço, cantando alegremente e
batendo pedrinhas na palma da mão.
Foram momentos
de imensa alegria e que ainda hoje permanecem indeléveis em minha memória.
(PS – Estas lembranças eu dedico aos amigos e
companheiros dos velhos tempos e, de modo especial, ao saudoso Floriano
Nascimento).
ARACAJU,
08/04/2016
BETO
DÉDAA seguir cópia do artigo escrito meu pai. Vejam que beleza de artigo:
Primeira página da crônica escrita por Carvalho Déda: Simão Dias e o Circo Nerino. |
Página 2 da crônica escrita por Carvalho Déda: Simão Dias e o Circo Nerino. Página 3 da crônica escrikto por Carvalho Déda: Simão Dias e o Circo Nerino. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário