Lembranças de um jornaleiro:
os populares nomes das ruas de Simão Dias e seus moradores.
No último texto que
postei neste espaço, ao mencionar as imagens da procissão em louvor a Nossa
Senhora Santana, padroeira de Simão Dias, informei que me lembrava do nome
antigo de cada rua da cidade e de seus moradores.
Pois bem, neste último
domingo, conversando com uma amiga conterrânea sobre o que escrevi, ela se mostrou
admirada e, também, demonstrando certa dúvida, me fez a seguinte
indagação:
- Seu Beto, sua memória
guarda realmente essas lembranças?
Respondi que sim, e apresentei
exemplos, associando as denominações atuais das ruas – expostas nas legendas
dos vídeos que mostravam o roteiro da procissão em homenagem à nossa padroeira – aos nomes populares que antigamente nosso povo adotava com base em algum acontecimento local. E a minha amiga, com espanto e sorriso, ouvia atentamente
quando eu mencionava o nome popular de cada logradouro.
Aqui estão alguns deles: Rua dos Buracos, Rua do Alambique, Rua da Ponta da Asa, Rua da
Lama, Rua dos Pinicos, Rua da Ilhota, Rua do Comércio Velho, Rua do Mulungu,
Rua da Tripa, Rua das Sete Casas, Rua das Louceiras, Rua da Calçada Alta, Rua
do Pastinho, Rua dos Ribeiros, Praça de São João, Rua do Curral, Rua da Palha, Rua da Santa Cruz, Rua do Coité, Rua
da Canafístula, Rua do Sobrado, Rua da Feira, e assim seguia...
Em sequência, também
informei que, ao observar a fachada de cada casa, lembrava o nome das famílias que ali moravam. Então mencionei o nome de saudosas pessoas que ali residiam
nos velhos tempos, e que aqui não caberia relacionar, devido ao grande número.
Diante da admiração de
minha interlocutora, fiz ver que esta minha lembrança é decorrente do tempo que
era o garoto jornaleiro da cidade, lá pelos anos 50, quando, nas primeiras horas das manhãs dos dias de
sábado, eu distribuía pelas ruas o jornal A Semana, editado por meu pai. Pela
quantidade dos assinantes do jornal, também não dá para mencionar todos aqui.
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O jornaleiro Beto Déda distribuindo o jornal "A Semana"(Montagem e traço do próprio Beto). |
Mas não deixei de mencionar alguns
leitores assíduos que, aos sábados, cedinho, já estavam na frente de suas casas,
aguardando-me para receber o semanário. Cito, a seguir, os que no momento me
lembro: na Praça da Matriz, o Dr. Fraga Matos, cirurgião-dentista (marido de D.
Celina e pai de Maria Auxiliadora e de Dr. Gilson e Dr. Gildo Fraga); na Rua de
Estância, Dr. Alceu Conceição, também dentista (irmão do empresário Durval
Conceição, que construiu o Cine Brasil); na Rua do Coité: invariavelmente dois
assinantes me aguardavam: D. Aldina Guimarães
(mãe de Barbosa Guimarães e avó de Clínio), e Seu Antônio Gomes, funcionário do
fisco estadual, (pai de meu amigo contemporâneo Simão Dias Gomes); na Rua
da Feira, Seu Inocêncio Nascimento, comerciante de tecidos (meu padrinho); na Rua
da Canafístula, Seu Zuzu, mecânico que cuidava da Usina Elétrica da cidade; na
Rua do Comércio Velho, o Mestre Raimundo Macedo Freitas, maestro da Lira Santana;
na Rua do Pastinho, seu Coelho (não lembro o nome completo, mas era um senhor
baixo, de cabelos grisalhos, olhos miúdos); na Rua dos Ribeiros: Seu Pierre Freitas,
dono do Cine Ypiranga (pai da Prof. Virgilinha Freitas); na Rua do Mulungu, o
Sr. Demétrio Oliveira, comerciante (que gostava de publicar charadas no
jornal); e, na Rua da Lama, Seu Gabino, comerciante. Mencionei aqui apenas os que me
aguardavam para receber pessoalmente o jornal. A entrega da maioria dos
assinantes era feita colocando o jornal por baixo da porta das respectivas casas.
De tal forma minha amiga ficou entusiasmada com minhas recordações que me fez ver a importância de preservar, por escrito, as informações que tenho em minha memória. Concordei e prometi relacionar por escrito.
Devo informar que, há alguns meses, tinha recebido uma sugestão semelhante de minha querida amiga Professora Amanda Santos, que faz o Curso de Doutorado na Universidade Federal da Bahia.
Como promessa é dívida, para fazer isto terei que viajar, oportunamente, até minha terra natal e lá, com ajuda da historiadora Amanda, percorrei o roteiro que eu usava quando era jornaleiro, anotando o nome atual e o antigo de cada rua da cidade e, também, observando a fachada de cada casa, para registrar o nome das famílias que ali residiam.
Mas isso não será imediato. Tudo será no tempo certo; sem pressa.
Então, minha amiga, é só
ter paciência e aguardar.
Aracaju,
15/08/2024
Beto
Déda