segunda-feira, 27 de maio de 2019



JOGANDO BOLA NO CAMPINHO DO BONFIM DE BAIXO E PESCANDO NO CAIÇÁ.

Há poucos dias estive revivendo momentos da boa terra em animada conversa com dois conterrâneos: Dr. João Pinto e Agripino Santos. Eles são filhos de saudosos e conhecidos simãodienses.

O João é filho do Seu Nelson Pinto de Mendonça, que foi um honorável prefeito de nossa cidade, sempre lembrado por seu comedimento e probidade administrativa.

Agripino é filho do popular e benquisto Seu Manoel da Marinete – e aqui cabe uma explicação para os mais jovens, especialmente meus netos:  marinete não é nome de pessoa, era o termo  que antigamente dávamos aos ônibus.

Seu Manoel trabalhava, em companhia de Seu Jove, Seu Zequinha e depois Seu Didi, na marinete que fazia o trajeto Simão Dias-Aracaju.

Agora passemos ao que conversei com os meus amigos.

Encontrei-me por acaso com o João Pinto no Shopping Jardins, aqui em Aracaju. Conversamos bastante, lembrando momentos vividos com seus irmãos Jorge e Eduardo Pinto, e também com meus primos Zé Carlos e Washington Déda. 

E nessas lembranças, ocorreu-me o tempo que, aos domingos, jogávamos bola no campinho que ficava no local que hoje é o Posto de Gasolina de familiares de Seu Ferreirinha. O campinho começava embaixo de um pé de amêndoa, no início da Ladeira do mestre Roque, um conhecido ferreiro local. Aproveitávamos o tronco do pé de amêndoa como uma das laterais da pequena trave. Era um campo diminuto e gramado tipo “capim-de-burro”, próprio para pelada com cinco guris de cada lado; guardava uma ligeira semelhança, em tamanho, aos atuais campos de futebol de salão.

O local onde antigamente jogávamos pelada. Antiga Rua de Lagarto ou Ladeira de Roque (Simão Dias) - Foto Map.Google.

 O nosso time tinha como técnico e responsável o Seu Liminha, pai dos amigos Tonho Amaral e  Zé Neri, que era um bom “football player”, termos em inglês que usávamos naqueles idos para designarmos os bons jogadores e dribladores.  Jogavam no nosso time: eu, Zé Neri, Eduardo Pinto, Jorge Pinto, Adilson de Jason e o João Pinto, este último, como era mais novo, ficava como reserva do goleiro.  O time adversário era variável, formado com amigos residentes no Bonfim. 
Seu Liminha era funcionário dos Correios e Telégrafos, casado com Dona Corina que era proprietária do Hotel que ficava na Praça Barão de Santa Rosa, em uma casa grande, cuja frente era revestida com bonitos azulejos portugueses.

No final de cada jogo, independentemente do resultado, nosso time ia até o Hotel e Seu Liminha, depois de elogios ou conselhos, nos servia água fria, refrescos acompanhados de gostosos quitutes e, para os mais crescidos, um golezinho de um licor muito saboroso, feito de jenipapo.

Até hoje, quando estalo entre os beiços o gosto do gole de um bom licor, lembro-me do nosso grande e sempre alegre técnico.
...

Com Agripino Santos a nossa conversa foi mediante mensagens, via internet, no Facebook. Ele mora Rua Mário de Eliseu, a mesma que residia seu pai, o popular Manoel da Marinete.

Atualmente aquela rua é denominada de Rua Ana Andrade, que começa na ponte sobre o Riacho Caiçá, conhecida como Ponte Mario de Eliseu.

A Rua Ana Andrade, antiga Rua Mario de Eliseu, e a ponte sobre o Rio Caiçá - Simão Dias - Foto Map-Google.

Lembro-me que aconteceu ali, justo no local daquela ponte, uma grande enchente do Caiçá que derrubou várias casas e destruiu parte do antigo prédio onde  funcionou o vapor de descaroçar algodão de Seu Pedro Valadares.

Na conversa com Agripino, lembrei-me de amigos que ali também residiam. Lembramo-nos do saudoso João Jacó, que era conhecido como João do Cinema, porque ele trabalhava no Cine Brasil e fazia tudo: pintava os cartazes, era o locutor que anunciava a programação e também revisava e projetava as fitas.  Disse-me Agripino que João era seu vizinho e costumava contar histórias sobre os cinemas de nossa cidade.

Recordamos os filhos de Seu Pedro Coelho que também morava ali. Entre eles os amigos Luiz e Benedito que eram assíduos frequentadores do Cine Ipiranga. Soube então que Luiz era casado com uma prima de Agripino. Em uma de minhas filmagens da antiga feira, eu fiz uma ligeira entrevista com Luiz.

No riacho Caiçá, ali sob aquela ponte, eu costumava pescar uns peixinhos conhecidos como chupa-pedra para coloca-los em vasos imitando aquário. Diversão e criatividade não faltavam.

Lembrei-me também que ali perto tinha a malhada de Sr. Norzinho Andrade, um idoso comerciante da antiga Rua da Feira, que era pai de José Silva Andrade, proprietário da casa comercial "O Lavrador". 


Na malhada do Sr. Norzinho tinha um tanque que eu costumava pescar. Certa tarde eu estava distraído na pesca, quando fui surpreendido por Seu Norzinho. Notando que eu estava pálido em decorrência do susto, olhou-me compreensivo e exclamou: 

- “Como você está pescando com anzol, não tem problema”. E concluía: “Não permitiria se a pesca fosse com uma rede. Então fique á vontade!”.

Não fiquei. Quando ele deu as costas, não vacilei em passar sebo nas canelas e iniciar uma carreira sem precedentes. Depois desse susto, nunca mais pesquei naquele tanque.

São lembranças de Simão Dias nos anos cinquenta.

Os amigos João Pinto e Agripino Santos ativaram minha memória. Sou imensamente agradecido pelo bom diálogo e as boas lembranças que tivemos. 

Aracaju, 27/05/2019
BETO DÉDA