Mas afinal, quem
era o intelectual “Simeon de Sá Bazu”?
Nesta semana
andei lá pelo centro da cidade e, passando pela Praça Fausto Cardoso,
lembrei-me do tempo que fui redator da Secretaria de Imprensa no Governo do Dr.
Celso Carvalho, que era meu conterrâneo e padrinho. A Secretaria ficava no
Palácio Olímpio Campos, em uma sala em frente ao Gabinete do Governador. Os trabalhos de redação e divulgação eram
comandados por um funcionário público que redigia bem, sabia discursar e, como
era versado em ritos cerimoniais dos governos, também organizava os atos
públicos em que o governador participava.

A verdade é que
ao redator-chefe tinha uma verve fantástica e sabia muito bem usá-la nos atos
em que lhe permitiam a palavra. Gostava de discursar e, muitas vezes, mesmo
estando sozinho em seu gabinete, ouvíamos seus brados inflamados, algumas vezes
a verberar contra pessoas que fugiam de seu agrado, usando impropérios,
acusando-os de comunistas.
Certa vez tive
um desentendimento forte com o chefe de redação. Tudo porque eu usava as horas
vagas para escrever artigos que eram publicados no jornal “A Semana”, editado
por meu pai em Simão Dias. Eram artigos simples, que escrevia
sob o pseudônimo “Berto”, em que sempre focalizava um personagem de minha terra.
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O artigo que escrevia e que deu origem à discussão com o redator-chefe. |
Em uma manhã
monótona em que nada se tinha a fazer, eu estava no meu birô, datilografando um
artigo sobre o vendedor de quebra-queixo, quando se aproximou o chefe e,
acintosamente, bisbilhotando o que eu fazia, iniciou uma discussão que culminou
com ofensas mútuas. No mínimo fui chamado de comunista e, no vigor da minha
juventude, respondi com firmeza e no mesmo tom de voz, usando os apelidos
inconvenientes. Foi um bafafá que
repercutiu nas demais repartições do Paço Olímpio Campos. Saí da sala da
imprensa dizendo que não mais trabalharia ali.
Fui socorrido por vários amigos, que me deram razão e se mostraram
solidários, entre eles: o Secretário da Casa Civil e o Coronel Chefe da Guarda
do Palácio.
O fato é que larguei o ofício de redator do Diário Oficial e fui promovido à Oficial de Gabinete
do Governador. E a promoção não foi exclusivamente porque a razão estava ao meu
lado. Eu era um simples garoto e o que realmente pesou foi nome do meu pai, que me deu irrestrito apoio, e o
poder de decisão do meu conterrâneo e padrinho.
Passado o
entrevero, mesmo desconfiados, tivemos que manter o diálogo e continuarmos a
conversar por força do trabalho.
Pois bem. Como
disse alhures, o redator-chefe adorava discursar e era considerado por muitos
como um grande orador. Sabia dosar as palavras e gostava de citar grandes
pensadores, dentre os quais um que sempre
me deixou curioso: Simeon de Sá Bazu
(ele fazia um biquinho para realçar a pronúncia francesa do “U” como se fosse
um “i”).
Em seus
discursos ele exclamava com ênfase:
- “Como dizia o grande filósofo e pensador
francês ‘Simeon de Sá Bazu’, a vida nos apresenta momentos de grandes
emoções...”
E por aí seguia
seus inflamados discursos.
Em determinada
tarde, impressionado ao ouvir a repetição do nome do ilustre pensador francês,
minha curiosidade espanou o receito e, com esforço, ousei perguntar ao celebrado
orador quem era realmente o filósofo Simeão
de Sá Bazu.
Ele olhou-me
sorridente, mostrando seus dentes frontais separados, e me surpreendeu com um
resposta clara, simpática e sincera:
- Ora, ora, caro jovem. No mundo dos grandes
oradores tudo é possível. Quando a memória falha, o improviso preenche a lacuna.
Na verdade, o Simeon de Sá Bazii não é ninguém mais, nem menos, que o moleque
SIMÃO, FILHO DE DONA BAZU, a baiana morena que vende acarajé e cocada
ali na Rua de Pacatuba...
Aracaju, 08/12/2015
Beto Déda