O besouro serrador dos tamarindeiros da Praça São João.
Para que minha memória esteja
sempre ativada, lembrando coisas de minha terra nos velhos e bons tempos,
plantei no sítio Lago Dourado árvores semelhantes as que ornamentavam a Praça
Zacarias de Carvalho, em Simão Dias, local conhecido pela gurizada daquela
época como Parque ou Praça São João, que tinha uma variedade de frondosas
e bonitas árvores.
Lá no sítio, plantei eucaliptos,
acácias, alguns tamarindeiros e um pé de olho-de-boi. Crescem entre mangueiras,
cajueiros, coqueiros e angelim pedra.
Essas árvores
enriquecem meus dias com lembranças de uma época em que as coisas simples nos
cativavam e estimulavam nossas curiosidades. Hoje mesmo, ao realizar um
artesanato com um pedaço de tamarindeiro, lembrei-me de um besouro que serrava
os galhos daquela árvore na Praça São João.
Se a memória não falha,
era um besouro pequeno, quase do tamanho de uma cigarra, com fortes mandíbulas
e duas longas antenas na cabeça. Esses besouros abraçavam o galho de
tamarindeiro e faziam um movimento cadenciado ao cortarem a madeira, emitindo o
som que lembrava o vai e vem do serrote. Depois as fêmeas do serrador usavam a
parte cortada da árvore como casulo para depositarem ovos esverdeados.
![]() |
O besouro que serrava os tamarindeiros do Parque São João, em Simão Dias, no traço e na lembrança de Beto Déda |
Apreciar o trabalho do
besouro serrador era um deleite para a curiosa meninada daquela época.
Para mim, sempre foi um
prazer imenso descobrir a beleza e os encantos que a natureza apresentava
naquele Parque. Não esqueço o dia que Rosalvo, irmão do garoto apelidado como
Sorrindo, pegou um palito de açucarado (resto de um pirulito) e o colocou na
trilha das formigas, chamando-nos em
seguida para observarmos o formidável movimento delas ao levarem o palito para
o formigueiro. Curiosos, assistimos ao espetáculo das formiguinhas empinando com
precisão o palito para colocarem no pequeno orifício de entrada e levarem para
dentro dos canais do formigueiro. Um formidável exemplo de união das
formiguinhas na realização de trabalho.
Jamais esqueceremos as
tardes de verão marcadas pela sonoridade de uma boa variedade de pássaros. E
agora me ocorre um deles: o João de Barro. Esse passarinho nos
enchia de curiosidade por ser um sábio construtor de ninho, usando argila e
talos de capim. O barro era igual ao que o pessoal usava na construção de casas
de taipa. Observávamos com atenção o movimento dos pássaros construindo suas
casinhas, como também percebíamos o desalento deles ao perderem seus ninhos
para os periquitos de velame. (Recentemente, em uma visita com meu neto ao
Parque da Cidade, aqui em Aracaju, avistei em uma mesma árvore: uma casa de
João de Barro e, em galho próximo, outra invadida por um periquito verde. Meu
neto também ficou curioso ao conhecer o pássaro construtor e o grileiro
periquito verde).
Mas, ao me lembrar das
tardes de verão no Parque de Simão Dias, tem um fato que é emblemático daquela
época: a sonoridade do canto estridente das cigarras. Elas estavam em todas as
árvores, como a anunciar o fim da tarde. Um encanto que até hoje me causa agradável
nostalgia.
Coisas simples da minha
terra, que nos maravilharam quando éramos crianças e que, ainda hoje, nos
encantam aos relembrá-las.
Aracaju, 17-02-2020
Beto Déda