segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020



O besouro serrador dos tamarindeiros da Praça São João.

Para que minha memória esteja sempre ativada, lembrando coisas de minha terra nos velhos e bons tempos, plantei no sítio Lago Dourado árvores semelhantes as que ornamentavam a Praça Zacarias de Carvalho, em Simão Dias, local conhecido pela gurizada daquela época como Parque ou Praça São João, que tinha uma variedade de frondosas e bonitas árvores.


Lá no sítio, plantei eucaliptos, acácias, alguns tamarindeiros e um pé de olho-de-boi. Crescem entre mangueiras, cajueiros, coqueiros e angelim pedra.


Essas árvores enriquecem meus dias com lembranças de uma época em que as coisas simples nos cativavam e estimulavam nossas curiosidades. Hoje mesmo, ao realizar um artesanato com um pedaço de tamarindeiro, lembrei-me de um besouro que serrava os galhos daquela árvore na Praça São João. 


Se a memória não falha, era um besouro pequeno, quase do tamanho de uma cigarra, com fortes mandíbulas e duas longas antenas na cabeça. Esses besouros abraçavam o galho de tamarindeiro e faziam um movimento cadenciado ao cortarem a madeira, emitindo o som que lembrava o vai e vem do serrote. Depois as fêmeas do serrador usavam a parte cortada da árvore como casulo para depositarem ovos esverdeados.

  O besouro que serrava os tamarindeiros do Parque São João, em Simão Dias, no traço e na lembrança de Beto Déda



Apreciar o trabalho do besouro serrador era um deleite para a curiosa meninada daquela época.


Para mim, sempre foi um prazer imenso descobrir a beleza e os encantos que a natureza apresentava naquele Parque. Não esqueço o dia que Rosalvo, irmão do garoto apelidado como Sorrindo, pegou um palito de açucarado (resto de um pirulito) e o colocou na trilha das formigas,  chamando-nos em seguida para observarmos o formidável movimento delas ao levarem o palito para o formigueiro. Curiosos, assistimos ao espetáculo das formiguinhas empinando com precisão o palito para colocarem no pequeno orifício de entrada e levarem para dentro dos canais do formigueiro. Um formidável exemplo de união das formiguinhas na realização de trabalho.


Jamais esqueceremos as tardes de verão marcadas pela sonoridade de uma boa variedade de pássaros. E agora me ocorre um deles: o João de Barro. Esse passarinho nos enchia de curiosidade por ser um sábio construtor de ninho, usando argila e talos de capim. O barro era igual ao que o pessoal usava na construção de casas de taipa. Observávamos com atenção o movimento dos pássaros construindo suas casinhas, como também percebíamos o desalento deles ao perderem seus ninhos para os periquitos de velame. (Recentemente, em uma visita com meu neto ao Parque da Cidade, aqui em Aracaju, avistei em uma mesma árvore: uma casa de João de Barro e, em galho próximo, outra invadida por um periquito verde. Meu neto também ficou curioso ao conhecer o pássaro construtor e o grileiro periquito verde).


Mas, ao me lembrar das tardes de verão no Parque de Simão Dias, tem um fato que é emblemático daquela época: a sonoridade do canto estridente das cigarras. Elas estavam em todas as árvores, como a anunciar o fim da tarde. Um encanto que até hoje me causa agradável nostalgia.


Coisas simples da minha terra, que nos maravilharam quando éramos crianças e que, ainda hoje, nos encantam aos relembrá-las.


Aracaju, 17-02-2020

Beto Déda

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Lembro demais! Lembro-me dos tamarindos das cigarras e das frondosas árvores cujas copas eu contemplava do quintal da minha casa. É impressionante a insensibilidade humana que troca árvores por cimento e asfalto.
    Resido há 30 anos em Aracaju e ao longo de todo este tempo consigo me revoltar diariamente com as podas horríveis e as retiradas das árvores. Sempre apresentam desculpas, nunca me convenci delas. Cortam árvores em avenidas e praças sem qualquer critério. Quando eu cheguei aqui achava as praças de Aracaju lindas, hoje elas ficaram feias. As avenidas são peladas e até as plantas de pequeno porte são transformadas em galhos secos assim que começam a brotar as flores.
    Senti bastante quando a Praça de São João teve as suas árvores derrubadas e lamento como sergipano barrista que sou este mau gosto do nosso povo e dos nossos prefeitos no que diz respeito à arborização das cidades sergipanas.

    ResponderExcluir