quinta-feira, 7 de abril de 2016


AS PIRUETAS DE MEU NETO E AS LEMBRANÇAS DA CANÇÃO "MEU PRIMEIRO AMOR" TOCADA NO SERVIÇO DE ALTO-FALANTES TUPY.
 
Domingo passado, meu neto brincava sozinho e – fingindo que não estava me vendo – fazia caretas e gestos para que eu percebesse e risse.
 
 
Lembrei-me, então, que nos velhos tempos, eu fazia também minhas palhaçadas para admiração dos outros, sem demonstrar que os via, embora de soslaio me certificasse de que era percebido.
 
 Recordo-me, agora, das piruetas esquisitas que fiz para impressionar minha primeira namorada. Eu devia ter 12 anos de idade e a garotinha morava próximo a minha casa, na Rua dos Ribeiros. Era o tempo em que o namoro acontecia através da troca de discretos olhares. Somente depois de muita conversa e aproveitando-se de um descuido, conseguia-se um ligeiro e roubado beijo. Coisas dos meninos daquela época.
 
As lembranças de minhas peripécias como iniciante galanteador fizeram vir à memória dois pontos interessantes dos bons tempos: a canção “Meu Primeiro Amor”, cantada por Cascatinha e Inhana, e o serviço de alto-falantes denominado “TUPY”, que nos anos 50 funcionava em Simão Dias e tocava aquela saudosa música.
 
 A sede da Tupy ficava na Rua do Coité, em uma sala estreita, com um batente alto, próximo à casa de Dr. Belmiro Gois. O serviço de som era transmitido por diversos alto-falantes, distribuídos em pontos estratégicos da cidade: na Rua do Coité (em frente ao Bar de Valério), no Bonfim (em frente à casa de Dão Rodrigues), na Rua do Pastinho (em frente à tenda de Seu Caboclo), na Rua da Feira (entre a Prefeitura e a Loja de Elísia Montalvão) e outros lugares. Os principais locutores eram Floriano Nascimento e Demerval Guerra.
 
As pessoas iam à sede da Tupy, pagavam uma pequena taxa e faziam bilhetes parabenizando os aniversariantes e dedicando músicas de cantores de sucesso (Emilinha Borba, Orlando Silva, Marlene, Elizeth Cardoso, Dalva de Oliveira, Sílvio Caldas, Carlos Galhardo, Ângela Maria, Ataulfo Alves e outros não menos apreciados). Os rapazes trocavam delicadezas com as moças, oferecendo músicas e enviando mensagens codificadas.
 
Não obstante minha pouca idade, lembro-me que mais de uma vez fui até a sede da Tupy e, sorrateiramente, deixava sobre o balcão, próximo ao locutor, um bilhete dedicando uma música para minha primeira namorada. E ficava atento, esperando que transmitissem a minha mensagem e tocassem a música escolhida.
Com um sorriso largo, olhando a garota a pouca distância, ouvíamos o inesquecível timbre de voz do Floriano Nascimento, ao anunciar minha mensagem:
- Para a garota de olhos meigos da Rua dos Ribeiros vai esta canção que lhe dedica um jovem admirador...
 
E rolavam o disco de Sílvio Caldas: “A Deusa da minha rua”.
 
 Acontecia, então, a apoteose do meu devaneio ao perceber o leve sorriso dos olhos meigos aprovando meu galanteio...
 
Aracaju, 02/04/2016
BETO DÉDA

Nenhum comentário:

Postar um comentário