terça-feira, 16 de junho de 2015


O fanho e a soda

Nos velhos tempos, quando tio Paulo tinha a fábrica de calçados SIDON, em Simão Dias, ele construiu sete casas para os operários, em área vizinha à loja da fábrica. A rua passou a ser conhecida como Rua das Sete Casas. Quando ele veio para Aracaju, transferiu a fábrica para um prédio que construiu na Rua Basílio Rocha, no Bairro Siqueira Campos, conhecido como bairro Aribé. Ali ele também ele construiu casinhas e quitinetes, anexos à fábrica, para facilitar a vida dos operários que vinham de Simão Dias.

Recentemente, em conversa com o querido sobrinho Déda, filho do meu cunhado Haroldo, ele lembrava um fato contado por tio Paulo.

Dizia meu tio que em uma das casas da fábrica, aqui em Aracaju, morava um jovem aprendiz de sapateiro que era fanho ou “foên”, como se dizia em Simão Dias. Além de parecer falar pelo nariz, o rapaz era dislálico, ou seja, sofria de um distúrbio da fala, apresentando dificuldade na articulação das palavras. Em sua pronúncia “foên” também trocava as letras, em consequência da dislalia. Dizia que estava aprendendo a fazer  “fapatu”, que gostava de “Tota-Tola” e tinha medo de “fapu”.

Para testar a pronúncia do garoto, tio Paulo provocava:
- Olá, Madeirinha, diga rápido, três vezes seguida, a frase: “Lombo cru”.
 Prestimoso e conhecendo o efeito da pronúncia rápida, o moço não se fazia de rogado, repetia a frase, trocando e omitindo letras, alterando o sentido.

Uma tarde, um colega do fanho pediu que ele fosse comprar um refrigerante SODA em um bar próximo ao prédio da fábrica, em frente à estação ferroviária.
 Com timidez, o garoto chegou ao bar e falou baixinho para a garçonete:
 - “Moça, eu quero uma fo...fo...da”.

Surpresa e duvidando do estranho pedido, a garçonete encarou o pobre mancebo e indagou o que realmente ele tinha pedido.

- Ora - disse ele - pedi a você uma foda, ligeirinho...

Ao ouvir a resposta e sentido que sua suspeita estava confirma, a moça fez um escarcéu danado e não tardou chegar o dono do bar que queria surrar o moço, pensando se tratar de um malandro tarado.

E ele não apanhou porque correu até a fábrica onde foi socorrido pelos colegas, que explicaram ao irritado proprietário do bar o distúrbio da fala do inocente “foên” que, dislálico, trocava a letra “S” por “F”.
 
Aracaju, 28/05/2015.
Beto Déda

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