sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

 

Festas Natalinas


Nesta semana, meu bom primo Paulo César Déda me telefonou para desejar um Bom Natal e aproveitou a oportunidade para despertar  lembranças das festas natalinas em Simão Dias, sugerindo com muita graça:

Não deixe de passar pela Rua da Feira e rodar nos Cavalinhos de Seu Messias Cassimiro, balançar nos Barcos de Polito e sentir o cheiro forte do carbureto exalado pelos fifós das barracas de doces...”

A sugestão do primo me fez recordar do texto que postei aqui no Facebook, em dezembro de 2012. Transcrevo a seguir o que escrevi naquele ano, para despertar a imaginação dos que me seguem e também dos que viveram aqueles dias felizes.

Aracaju, 25/12/2021

Beto Déda



Natal em Simão Dias.


 (Texto escrito por Beto Déda em Dezembro de 2012)


O mês de dezembro é mágico, tem significados encantadores, despertando o amor e nos dando força para expandir alegrias. É o tempo de permitir que a imaginação tome conta da gente. E eu deixo a barba crescer e transformo o vovô/tio Beto em um desengonçado Papai Noel para levar um pouco de alegria aos meus netos, sobrinhos e a meninada da vizinhança do Lago Dourado. E isto me faz sentir feliz. Então, deixe-me contar essa: no último Natal, ouvi de uma criança dos arredores de meu sítio uma frase encantadora. Disse ela, apontando-me: - Olha, Papai Noel existe mesmo! Lá está ele! E rindo, externou uma alegria tão espontânea que me contagiou com sua linda emoção. São fatos que me estimulam a usar o mágico uniforme vermelho.


Papai Noel - Vovô Beto


Lá pelos anos cinquenta, em Simão Dias, a garotada conhecia que estávamos no mês de dezembro ao perceber o florido amarelado das acácias existentes no quintal do bangalô de Seu Pierre ou na Praça de São João. Era o tempo encantador do Natal e da crença em deixar os sapatos juntos, ao lado da cama, para o bom velhinho ali pôr o presente esperado. E eu acreditava nisso. Daí a minha grande decepção ao saber que aquilo era estória para enganar menino bobo. Então eu fui um bobão. Mas... Que se danem! Fui um bobo feliz acreditando no bom velhinho.

Os sete Déda: Celma, Cláudio, Aparecida,
Haroldina, Maria Eugênia, Beto e Carlos
Eugênio (Foto  do início dos anos 50).

Na tarde do dia de Natal, meu pai reunia os filhos, netos e sobrinhos lá em nossa casa. Ele tirava fotos e depois distribuía moedas novinhas, em partes iguais, para nos divertirmos na Rua da Feira. Naquela época a festa do Natal era comemorada no largo da feira, onde se concentravam os bazares de Seu Cícero e de Inês/Lélia, o carrossel de cavalinhos de Seu Messias, a Onda e o grande Balanço de Seu Raimundo, além das barracas de arroz-de-galinha, de confeitos de castanha em forma de barcos e sombrinhas em papel colorido, os jogos de roleta e barrufo. E tinha também o quebra-queixo de seu Antônio e a amorosa (uma espécie de refresco de maçã) do Zé Pretinho, que chamava os fregueses gritando: “
Ói a amorosa!” E apontando para a garrafinha, dizia: “É cheia... é cheia e é só quinhentos réis...”

Daquela festa de largo vem a lembrança inesquecível do som forte e fraco da sanfona e do pandeiro que ia e vinha, se distanciando e aproximando, de acordo com as voltas do carrossel e a posição do vento. E tinha o cheiro inconfundível dos fifós (candeeiros) de carbureto.



Outra lembrança marcante era o grande Balanço de Seu Raimundo. Cabiam mais de quinze crianças e o balançar era seguido de muito empurrão e gritos de alegria. O encarregado de balançar manualmente era um senhor moreno, muito forte, que pitava um engraçado cachimbo. Chamava-se Seu Braúna, era parecido com o ator hollywoodiano Woody Strode que atuava com John Wayne em faroestes dirigidos por John Ford ( O homem que matou o facínora).

Recordo-me que certa vez, logo ao chegar na Rua da Feira tive a curiosidade de jogar barrufo, pensando em aumentar meu cabedal. Apostei uma moeda e ganhei outra. Estimulado, joguei mais e também ganhei. Logo depois comecei a perder. E passei a jogar pensando em recuperar as moedas perdidas. Não restou nada, fiquei “quebrado”. Ainda era o começo da tarde e não me restara um só centavo para a festa que começava. Então, pensei em pedir mais moedas ao meu pai, que tinha uma sacolinha cheia de quinhentos réis. E lá fui eu ao escritório que, naquela época,  ficava na Rua dos Ribeiros em uma casa que era do Seu Hilário. Em resposta ao meu pedido, o velho fez outra indagação: onde gastara tão rápido as moedas que ele tinha me dado? Respondi:

- Pensando em ganhar mais, joguei no barrufo e perdi tudo!”

Então recebi uma lição inesquecível:

 "- Nada de outras moedas e aprenda: jogo nunca mais!"


Naquele Natal minha salvação foi o tio Sissi. Fui até a Prefeitura, onde ele trabalhava, e exclamei com a mão estirada, de pedinte:“-Minha bênção, tio Sissi”. Ele rindo, olhando para minha mão pidona, me abençoou e me deu moedas suficientes para andar no balanço de Braúna, comer arroz de galinha, tomar amorosa e comer confeitos de castanha. E passar ao largo das bancas de barrufo, lembrando a lição importante do meu bom pai:

Jogar apostado, nem pensar!


Aracaju, 11/12/2012

Beto Déda

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

 

Um tempinho para você...


Como ninguém é de ferro – nem eu, que sou sentimental – hoje volto a pensar em você. E quando isto acontece, a saudade dos velhos tempos bate em meu ombro e não ouso olvidá-la.

Nesse instante, curtindo essa saudade dos bons tempos de nossa juventude em Simão Dias, vejo-me flertando e sorrindo de felicidade ao trocarmos frases românticas tiradas de almanaques da época. Curtíamos a simplicidade e inocência de adolescentes do interior.

Assim, envolto no manto das recordações, revejo as tardes de verão, quando sentávamos em cadeiras cobertas com almofadas coloridas e, fascinados, ouvíamos o cantar das cigarras e a beleza da revoada das andorinhas.

Como eram maravilhosos e esperados os encontros nos dias de domingo: matinês nos cinemas Ipiranga e Brasil; tardes dançantes no Caiçara Clube; as missas aos domingos e os passeios em volta da Igreja Matriz...

E não faltavam também as festinhas de aniversário em casas de família, com encontros nas salas de visitas, reservadas nessas ocasiões para rapazes e moças dançarem ao som de canções da Jovem Guarda – sem esquecer os embalos do Twist e do Rock and Holl de Tony e Cely Capello, e também as músicas românticas de Altemar Dutra –, tudo em discos Long Play tocados em radiolas embutidas em bonitos móveis da época.

No Cayçara Clube participávamos dos tradicionais bailes de Carnaval, de São João e da Festa da Padroeira Santana; além de apresentações de importantes orquestras em turnê pela região e, também, de festas beneficentes, das quais lembro-me agora de duas, organizadas por D. Carmem Dantas: “Uma noite no Havaí” e “Festa da Primavera”.

Os encontros culturais eram realizados quase que semanalmente, em uma casa vizinha ao sobrado de Seu Janjão, em reuniões promovidas pela AJIS (ASSOCIAÇÃO DE JOVENS IDEALISTAS SIMÃODIENSES), que contava com a participação ativa de moços intelectuais da terra, e que promovia Semanas Culturais no Cayçara Clube.

As lembranças embalam minha mente e me fazem matutar: porque você fica entediada ao ouvir tão alegres recordações?

Ah, como gostaria que me escutasse! E se alegrasse com as repetidas histórias que insisto em contar. Ficaria imensamente feliz ao ouvir com atenção suas observações e compartilharmos as lembranças de pessoas queridas, que participaram de nossas travessuras em acontecimentos alegres e marcantes da vida em nossa terra berço. Assim, eu saberia como você tem resistido a ausência do cantar das cigarras e o desaparecimento das esvoaçantes andorinhas.

Você sabia que as lembranças nos ajudam a enfrentar as marcas do tempo?

Não podemos esquecer a expressão latina “Tempus fugit”, que tem o sentido de que o tempo irreversivelmente passa, foge, voa. E ao passar, deixa muitas marcas, enfraquecendo-nos, realizando mudanças sem, contudo, alterar os sentimentos fortes que permanecem em nosso interior.

Então, pensando em você, vejo que o passar do tempo deixou marcas – mesmo que levemente – em seu lindo e querido rosto, mas tenho absoluta certeza que continuam em seu coração, incólumes: a bondade e a meiguice.

O exercício de felizes recordações nos dão força para enfrentar a insuportável amargura dos dias atuais. As notícias tristes são cumulativas e recorrentes: a pandemia, a perda de familiares e amigos; a perversidade de um presidente que fomenta o ódio e o uso de armas; a violência escancarada divulgada nos noticiários; e a amargura do nosso povo que voltou a sofrer com o desemprego e a fome.

Diante de um quadro tão horrendo – mesmo sem ignorá-lo e apoiando os que tentam nos livrar de tão danosa realidade – acredito que as lembranças de momentos felizes amenizarão tais dissabores, aproveitando cada dia, despreocupando-nos com o passar implacável do tempo em nossa descida na ladeira da vida.

Por fim, para não esquecer os momentos que trocávamos frases tiradas de velhos almanaques, veja esse pensamento de Mario Quintana:

Viver é acalentar sonhos e esperanças, fazendo da fé a nossa inspiração maior. É buscar nas pequenas coisas, um grande motivo para ser feliz!”


Aracaju, 17/12/2021

BETO DÉDA





quarta-feira, 1 de dezembro de 2021


 

Carvalho Déda – lembrando a data do seu nascimento.





O dia primeiro de dezembro é muito especial para nossa família. É o dia que relembramos o nascimento do meu saudoso pai e mestre: José de Carvalho Déda, conhecido em Simão Dias e Paripiranga como Seu Zeca Déda.



Sempre nesta data, voltamos nossos pensamentos para ele, relembrando sua prodigiosa passagem por esta vida. Em Paripiranga-BA, em Simão Dias e no Estado de Sergipe ele marcou sua existência com muito estudo, trabalho, dedicação e civismo.



Sinto-me feliz em relembrá-lo. Hoje, são decorridos 123 anos do seu nascimento. Ele nasceu em 1º de dezembro de 1898, na cidade de Paripiranga-BA, filho de José Antônio de Carvalho Déda e D. Olívia Silveira Déda. 


Acostumei-me a ouvi-lo falar com entusiasmo sobre fases de sua juventude e dos amigos de lá. Quando eu era garoto, ele me levava em suas idas à terra natal e, recordo-me muito bem,  das visitas que fazíamos ao casarão do velho Sodré e à Livraria do Sr. Sebastião, que sempre me brindava com um livro de leitura para criança.




Carvalho Déda (Foto acervo Beto Déda)

Sem nunca esquecer sua origem, assim que ficou viúvo, passou a residir em Simão Dias, onde se casou com minha querida mãe, Maria Accyole Oliveira Déda. Passou a maior parte de sua vida nesta cidade, foram quase cinquenta anos, onde criou seus filhos, participou ativamente dos acontecimentos e criou grande vínculo de amizade. 


Iniciou seus trabalhos como sapateiro e, depois,  dono de pequena sapataria e loja. Trabalhava e estudava. Sua dedicação à leitura e ao estudo das causas públicas, como autodidata, facilitou o exercício de várias atividades: foi Delegado de Polícia, Prefeito da cidade, Vereador, Advogado Provisionado, Diretor do Grupo Escolar Fausto Cardoso, Inspetor Escolar Estadual, Deputado Estadual, eleito e com ativa participação em três legislaturas (1947-1950, 1951-1954, 1955-1958).



Dedicado à cultura, escreveu poesias, história e romance. Desde jovem seus textos foram publicados em diversos jornais. Como escritor, foram publicados os livros “Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano”, “Simão Dias -Fragmentos de sua História” e “Formigas de Asas”. Deixou inédito rascunho de um projeto de livro: “Memórias de Caduda”.



Tinha um apreço muito grande pela cidade de Simão Dias e fazia questão de dizer que era a “Cidade catita de meu coração”, onde tivera a felicidade de criar os filhos. Em seus textos publicados no jornal A SEMANA, por ele editado, percebe-se o cuidado e amor que tinha pela cidade que o acolheu.



Lembrar de Carvalho Déda me deixa maravilhado por sua vida exemplar de trabalhador, estudioso, autodidata, pesquisador, escritor, jornalista, advogado e de político  (com "P" maiúsculo), de sentimento cívico verdadeiro, que soube defender com honra o interesse dos menos favorecidos.



É bom relembrar, hoje, o dia 01 de dezembro de 1898, data que nasceu o meu querido mestre e pai.



Aracaju, 01/12/2021

BETO DÉDA




domingo, 21 de novembro de 2021

 

Relembrando o primo Wellington e tia Vina Déda.

 

Nesta semana minhas recordações se voltaram para meu querido primo Wellington, que há poucos dias passou para morada eterna, deixando-nos saudosos.

Ele era um bom amigo desde quando éramos  crianças. Realizamos muitas peraltices nos arredores da casa de sua mãe, minha tia Vina Déda, na Rua Jairo do Prado Dantas, antigamente conhecida como Rua da Lama, em Simão Dias. 

Falar sobre Wellington sem mencionar sua querida mãe era uma ofensa para ele.

Nos anos cinquenta, tia Vina Déda morava naquela rua, nas proximidades da Igreja Presbiteriana. Lá, com muita dignidade e trabalho, ela educou e cuidou de seus filhos: Alfeu, Dalva, Wellington e Sininho. Era viúva, funcionária estadual, trabalhava no Grupo Escolar Fausto Cardoso, não tinha posses mas, mesmo assim, nunca lhe faltou uma exemplar riqueza espiritual expressa em ações de bondade.

Recordo-me muito bem da expressão de humildade e solidariedade de minha tia, ao cuidar dos filhos sem nunca negar a partilha do pão de cada dia com pessoas carentes. Dentre os que receberam abrigo em sua modesta casa, lembro-me agora de três deles. A primeira era uma senhora idosa, de pele branca e sardenta, um pouco corcunda e gorda, ouvia pouco e balbuciava as palavras com dificuldade, tinha cabelos ralos, aloirados, quase brancos, e atendia pelo apelido de “Comadre”. Outro era um garoto gordinho de cabeça grande, prestativo, olhos grandes e espertos: possuía uma caixa de lustrar sapatos e era chamado “Jaconias". E, por fim, lembro-me de um moço feioso e engraçado, franzino, baixinho, com nariz grande e empinado, que usava um paletó de farda cáqui e na cabeça um quepe azul; com tal indumentária passou a ser conhecido como “Sargentinho”. O fato é que minha tia se sentia bem ajudando aos menos favorecidos.

Confesso que sempre conservei em minha mente a casa de tia Vina como verdadeiro símbolo de humildade e solidariedade cristã.

Foi com os exemplos dados por sua mãe que Wellington aprendeu a ser um homem solidário e justo. Ele era um cara que a gente tem a alegria de dizer que era um grande amigo.

Com ele brinquei fazendo cinema com uma caixinha, uma vela, lente e quadros de celulose de filmes de Durango Kit, que nos eram dados pelo projetista João Jacó, do Cine Ipiranga. Tomamos banho na caixa d’água do Grupo Escolar Fausto Cardoso, nadamos nos barreiros do sítio de Seu Hilário e no poço do riacho Caiçá. Pegávamos caju e manga nas chácaras próximas à Praça de São João, compartilhávamos das brincadeiras da meninada da Rua dos Ribeiros e participávamos de passeios na escola do povoado Ilhota, em que a professora era D. Zefinha, amiga de minha tia Nice, conhecida como Nice enfermeira.

Wellington tinha um humor formidável, sabia fazer gozação e sempre demonstrava seu estado espiritual com um tique inesquecível, fechando um dos olhos.

Wellington no 5º Encontro da Família Déda(Foto acervo Beto Déda)
Sempre estava atento aos parentes e foi dele a ideia dos encontros da família.

Era ele quem planejava e dirigia as reuniões, desde a primeira, realizada no BNB-Clube de Simão Dias, em fevereiro de 2006, e nos anos seguintes realizadas aqui em Aracaju, no sítio de meu irmão Artur Oscar, até 12/03/2010. Para isto sempre contou com ajuda de sua esposa, seus filhos e  principalmente de Hilton Déda.

Nos trabalhos para realização dos encontros da família, ele não media sacrifícios, nem dava bolas para seus problemas de saúde. Quando se aproximava a data da realização, desdobrava-se em trabalhar para que a reunião ocorresse com êxito. E todas foram um sucesso. Fazia questão de esclarecer a importância do evento e repetia como se fosse um slogan:

- Essa é a melhor oportunidade de se rever e conversar com os parentes espalhados por esse imenso Brasil.

Não fosse a perseverança e o espírito associativo dele, dificilmente aconteceriam tão badalados e inesquecíveis encontros.

Wellington - ou Seu Déda, como era conhecido pelos clientes de sua fábrica de toldos - foi um guerreiro vitorioso, que enfrentou com êxito as dificuldades da vida sem perder o bom humor. De sua mãe - tia Vina Déda - herdou o sentimento de solidariedade e amor.

Nos orgulhamos de ter sido seu amigo e primo.

E essa é a nossa homenagem ao grande e saudoso parente.

Aracaju, 21/11/2021
Beto Déda



terça-feira, 9 de novembro de 2021

 

O rodopio da casa sede e o vaso sanitário bonitinho…



Ao ouvir o prosear de um amigo que cuidava de mudar um vaso sanitário em uma casa na vizinhança do Lago Dourado, despertei minha lembrança para um fato que ocorreu quando trabalhava no Banco do Nordeste. O acontecido foi pitoresco, ficou gravado em minha mente e ao relembrá-lo resolvi repassar para os amigos.

Minha memória guardou recordações do tempo em que as agências do BNB tinham um número considerável de funcionários, isto porque os trabalhos de escrituração e cálculos de encargos bancários eram realizados manualmente e demandavam tempo. As máquinas de calcular elétricas e os computadores só surgiram anos depois.

Mas naquela época o quadro de funcionários não contava com técnicos agrícolas em número suficiente. Então o banco selecionava e credenciava, em suas agências, pessoas bem conceituadas e com bom conhecimento de agropecuária para avaliar os imóveis e apreciar “in loco” as pretensões dos interessados em financiamento.

Trabalhei em algumas agências que  mantinham bons avaliadores credenciados. Lembro-me bem de um deles, que tinha excelente noção das atividades agropecuárias e grande responsabilidade no seu trabalho, no entanto enfrentava certa dificuldade no trato do idioma pátrio ao redigir os relatórios, conhecidos como Laudos de Avaliação. Mas, apesar disto, dava conta de sua tarefa com zelo e cuidado.

Certa vez, o dito avaliador apresentou um Laudo sobre proposta de um cliente que pretendia financiamento para realizar diversos melhoramentos em sua propriedade, inclusive uma reforma na casa sede. No referido relatório, além de avaliar o imóvel e o plano a ser do financiado, o avaliador apresentou um detalhado orçamento da pretensa reforma da casa e fez o seguinte comentário:

Concordo com o plano proposto. No tocante à casa sede, o proponente quer fazer uma reforma, de modos que a frente fique para trás e a trás fique na frente e no final tudo fique vilse e velsa.”

Ao analisar o pedido de empréstimo e deparar-se com o referido comentário do avaliador, um colega benebeano que além de analista de crédito era finório gozador, deu uma boa risada, aproximou-se de minha mesa e exclamou:

“– Pera aí, Beto, veja isto: o avaliador tá dizendo que o cliente quer mudar a posição da casa... Mas ao acrescentar o tal ‘vilse e velsa, ele quis evidenciar que a casa não mudaria de lugar, mas dará um rodopio da gota...”

E sua gargalhada ecoou em todo o prédio e foi ouvida por toda a vizinhança.


Não obstante a gozação do finório analista, o empréstimo foi aprovado. No plano da reforma da casa sede estava detalhado um banheiro completo, com chuveiro, lavatório e vaso sanitário. Dias após receber o valor do empréstimo, o fazendeiro informou que tinha efetivado os melhoramentos financiados e um técnico do banco foi realizar a vistoria. Constatou-se então que fora realizado parcialmente o plano, e o detalhe é que na reforma do banheiro faltava o vaso sanitário. No seu lugar estava um buraco com contornos de cimento imitando um solado de pés. O técnico considerou a operação como ANORMAL e recomendou ao cliente a compra e fixação de um vaso sanitário, regularizando assim o financiamento.

Passados trinta dias, volta o funcionário do banco ao local e verifica que a situação permanecia inalterada. Indagado, o cliente informara que a latrina foi construída seguindo a tradição de sua família, considerando que o costume deles era fazer cocô de cócoras. Mesmo assim, esclareceu de forma respeitosa e sincera que atendera a orientação do banco, pois tinha comprado um vistoso vaso sanitário que o mantinha em sua despensa ao lado da cozinha, cheio de grãos de feijão. E justificou, exclamando, com seu pronunciar inconfundível apontando para o vaso:

- Veja, moço, vasim tão alvim e bunitim dimais, que tem sirvido pra guardar o feijão de cada dia. Proveito mior que a ordenada pur vasmicês!...

O vaso que se tornou pote de feijão



E o funcionário registrou o referido  comentário em seu parecer e concluiu com a seguinte indagação:

- Diante de tão sincera justificativa só resta uma pergunta: fazer o quê?

Aracaju, 09/11/21

BETO DÉDA



...


PS -Pena que não estejam entre nós bons amigos e colegas benebeanos que acompanhavam meus escritos e partiram para outra dimensão neste triste e lamentável período que vivemos. Assim é que dedico este texto em saudosa homenagem a José Amâncio Neto, José Raimundo Araújo, Ailton Cardoso Santos, Ulpiano Costa Amaral Guimarães, João Batista Santos, Nícolas Almeida e a todos os colegas que já se foram mas revivem em nossas lembranças.

Beto Déda



quarta-feira, 15 de setembro de 2021

"Memórias de Caduda": o livro inédito de Carvalho Déda. 


Meu pai, José de Carvalho Déda, planejava publicar um novo livro e começou a escrevê-lo lá pelos meados de 1966. Infelizmente não conseguiu porque faleceu em 02 de setembro de 1968, antes de completar seu projeto.

Em meus arquivos mantenho os rascunhos dos textos que ele escreveu e os colecionou em uma pasta especial com a inscrição em letras graúdas: “Memórias de Caduda”. Certamente ele utilizaria este título para o novo livro.

No seu trabalho diário como jornalista, Carvalho Déda gostava de usar pseudônimos em seus escritos. E realmente usou muitos deles, destacando-se os de: João Sem Terra, Leonardo da Vinci, Carlos Eugênio, Cadeda, Pakéso, Lynce, Carlos Eugênio, Marco Aurélio, Lynce, Trajano, Zélis, ZD, Caduda e Seu Ambrósio. 

Tantos pseudônimos despertaram minha curiosidade. Assim é que em uma tarde, ao final de um dia de trabalho, quando ele aproveitava uma hora de descanso em sua cadeira de balanço na redação do jornal A Semana, indaguei-lhe sobre o sentido do uso de tantos apelidos. Então, ele esclareceu que usava para evitar a repetição de seu nome nas páginas dos jornais que publicavam seus textos.

Sonhei com meu pai no início deste mês e me lembrei do seu livro inédito. Não perdi tempo e passei a reler alguns rascunhos. Sempre me encanto com seu modo simples de escrever. Começo a ler e não penso em parar. Nas páginas iniciais do livro inédito ele cria seu personagem, batizando-o com o nome de Seu José Ambrósio, e o descreve como uma pessoa popular, que morava no sítio denominado Cutiaonde era conhecido pelo alcunha de Caduda. Depois, em páginas soltas, ele apresenta uma série de artigos, poesias e trovas sobre fatos de nossa região. 



Qualquer dia desses tentarei organizar os escritos daquela pasta,  ordenando os textos com o propósito de realizar o intento de meu pai, publicando seu “Memórias de Caduda”.

Enquanto isto, repasso para os parentes e amigos alguns tópicos das primeiras páginas, para que tenham ideia daquela pretensão.



MEMÓRIAS DE CADUDA

(Breves tópicos da parte inicial do livro inédito de Carvalho Déda)


Caduda é uma alcunha dada pelos sertanejos aos indivíduos chamados José, desde que tenham outros irmãos … É, como parece, uma corruptela de caçula.

Conheci, por estes sertões dos meus pecados, muitos Cadudas; entre todos, porém, guardo a lembrança de um “da rede rasgada”, que viveu seus últimos dias num sítio denominado “Cutia”. O seu nome próprio era José Ambrósio... mas todos o chamavam de Seu Caduda...

Já o conhecia por suas façanhas. Aliás, seu nome era referido pelos sertanejos, a propósito de tudo: assim pensa Caduda... é o que diz Caduda.. isso é o que acha Caduda...

Não havia, numa grande redondeza, quem não conhecesse o sitiante de Cutia. De nosso primeiro encontro, fiquei sabendo tratar-se de um homem prático, inteligente, observador, dono de relativa cultura, e, talvez, com algum parafuso aluído na sua máquina de pensar.

Até os vinte anos de idade era completamente analfabeto. Olhando para uma cartilha do ABC, era como um burro olhando para um palácio.

Um dia, ainda moço, viu-se envolvido em uma briga de feira, quando desfechou mortífero golpe de facão na cabeça de um soldado arrelienta. Processado e preso, foi conduzido ao Engenho da Conceição, um presídio com fama de moderno, existente na capital do Estado, onde aprendeu um pouco de leitura e escrita, e, ainda, uma arte.

Ao cabo de seis anos de reclusão... Cumprida a pena, Caduda empregou-se como artesão, num convento... Nas horas de descanso lia. Lia com avidez o que encontrava pra ler: jornais velhos, almanaques, versos de João Ataíde, trapos de papel etc.

Deixando o serviço do convento, empregou-se como contínuo numa repartição pública, onde tomou ojeriza ao funcionalismo. Ali, conheceu os segredos da burocracia brasileira e conseguiu amealhar algumas patacas, com as quais compraria, mais tarde, o sítio Cutia, no qual viveu sua vida de celibatário e onde recebia os amigos e admiradores, que iam ouvir a sua agradável prosa, seus conselhos e seu particular modo de filosofar.

Quando atribuíam sua relativa cultura ao fato de ser homem viajado, respondia, contraditando:

- Não são as viagens que ensinam, mas a leitura constante, com interesse de aprender. Vejam vocês que não há mais viajado do que cavalo de cigano, mas nunca passa de um simples cavalo de cigano...

Fui um assíduo ouvinte de Caduda, lá no seu sítio Cutia. A última vez que o visitei, encontrei-o no leito da morte.

Fazendo esforço, retirou debaixo do travesseiro um maço de manuscritos que me entregou dizendo: leve isto...houve um tempo que andei querendo publicar um pequeno caderno, não direi que seria minhas memórias, porque são notas esparsas, desconexas, escrita ao léu; recordações, diários, bobagens, enfim...

Guardei os manuscritos com interesse. Alguns anos depois da morte do esquisito personagem de Cutia, pensei em publicar os seus baralhados escritos num pequeno caderno, que dei o pitoresco título de “Memórias de Caduda”... "


O que transcrevo acima, são apenas alguns trechos do início das anotações, que são seguidas de crônicas e trovas que descrevem fatos e personagens dos anos 50/60 em nossa região.

Não é demais repetir que me empolgo relendo os textos do meu saudoso pai, o que me motiva a debruçar-me sobre referidos rascunhos para ordená-los e publicá-los. Para isto, rogo ao bom bom Deus que não me falte um pouquinho de engenho e arte para concretizar o que ele planejou.



Aracaju, 06/09/2021

Beto Déda



domingo, 1 de agosto de 2021

 

Recordando com saudade e  encantamento.


Sempre tive uma admiração muito grande por minha querida irmã Maria Eugênia, que era conhecida intimamente como Malô. Ela exercia uma grata influência sobre mim, não obstante ser um ano e poucos meses mais nova. Sabia me aconselhar e me orientava quando percebia minhas inquietações.

Minha saudosa irmã Malô

No início do mês passado, senti a dor da saudade ao tomar conhecimento de sua passagem para a vida eterna. De lá até esta data, meus pensamentos, sonhos e orações voltaram-se para ela. Relembro os momentos simples que ficaram gravados em minha memória e que, juntos, comentávamos repetidas vezes com alegres risadas. Então, dentre muitas lembranças, escolho algumas e as transcrevo aqui, para conhecimentos dos familiares, de modo a fazê-la reviver em nossas recordações.


Relembro-me agora um acontecimento ocorrido quando éramos criança, no início dos anos 50. Era um dia de sábado e minha querida Malô tinha programado um cozinhado de bonecas com garotas da vizinhança.

Malô e Beto

A brincadeira era realizada no quintal da casa de nossos pais, local onde as meninas fizeram o fogo, usaram pequenas panelas de barro, adquiridas do artesão conhecido como Saco do Pia, e realmente cozinharam arroz e pedaços miúdos de carne de galinha.  

O cozinhado era só para meninas. Como eu não participava, então, resolvi apelar para criatividade, de modo a não ficar longe de minha irmã. Naquele mesmo sábado resolvi usar a fornalha que tinha em minha fazendinha de bois de barro para fazer mel-cabaú. Comprei raspaduras na feira, acendi os gravetos sob a mini fornalha, formada com uma lata vazia de Marmelada Colombo (doce muito apreciado por papai), e depois de muita paciência com o pequeno fogo, as duas raspaduras se transformaram em um melaço aguado. Foi um sucesso. E o cozinhado de Malô teve como sobremesa o mel de minha fazendinha, naturalmente com gosto de fumaça.

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Naquela ocasião, estudávamos no Grupo Escolar Fausto Cardoso. Em determinada manhã, na hora do recreio, um colega ousou fazer mangação da farda de minha irmã. Não conversei, entrei em briga corporal com o gaiato, dei e recebi murros, mas em compensação o menino nunca mais ousou perturbá-la. Fiquei todo concho quando Malô contou para mamãe o motivo de minha briga...

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Eu tinha um casal de carneirinhos, peludos e brancos, que recebi de presente do meu bom e saudoso irmão Artur. Diariamente, antes e depois das aulas, eu cuidava dos carneiros que pastavam em nosso quintal e também na praça de São João. Um dia os carneirinhos atacaram Malô, que passou a chorar com medo quando os avistava. Isto me induziu a desfazer dos animais, que foram vendidos ao irmão da Prof.ª Zefinha, amiga de minha tia Nice.

Há cerca de dois meses, Malô  me disse que riu muito ao saber que nossa irmã Maura se lembrara do causo dos carneirinhos.

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No início dos anos 60 me formei no curso do Ginásio Jackson de Figueiredo, aqui em Aracaju. Naquele tempo esse tipo de formatura era muito festejada. Minha madrinha foi a querida irmã Malô, que comigo dançou a valsa dos formandos. Foi um acontecimento inesquecível.

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Nas eleições de 1962, meu pai tinha à disposição um jipe para realizar a campanha eleitoral como representante dos candidatos da UDN. O jipe ficava em uma garagem no fundo de nossa casa, que dava para a Praça de São João. Nunca tinha dirigido um carro. Mas eu era muito curioso e cuidava de prestar atenção aos movimentos dos motoristas. Lembro-me da tarde que disse para Malô que sabia dirigir e que poderia guiar o jipe. Ela acreditou, abriu imediatamente a porta da garagem, entrou no carro e saímos pela praça, tirando fino nos tamarindeiros, eucaliptos e pés de fícus. Foi uma aventura perigosa, fantástica e inesquecível. Depois, escondidos de nosso pai, passamos a usar o jipe em passeios pela cidade. Ainda hoje chorei  de alegria ao me lembrar..

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Em outra ocasião, já trabalhando no Banco do Nordeste, fui passar uma semana na “Fazenda Baixão”, nas matas de Paripiranga, e que pertencia ao meu querido cunhado Francisco Lima, marido de Malô. Passamos aqueles dias juntos, as duas famílias com as respectivas crianças. O dia era curto para tanta diversão. Não faltaram as saborosas comidas e sobremesas feitas por minha irmã. Acordávamos cedinho para ir ao curral, ver o vaqueiro Zé Branco tirar leite das vacas. O que me faz lembrar do leite puro e da gostosa coalhada. Nunca esquecemos o que aconteceu em uma alegre manhã, quando meu filho, ao avistar o vaqueiro que vinha para o curral, gritou:

– “Zé Branco! Hoje você não deve tirar leite das vacas. Meu pai já comeu coalhada demais e ninguém aguenta tanta bufa.” 


Eu morava em Simão Dias e Malô em Paripiranga. Depois, passamos a residir em Aracaju. Em nossos encontros sempre havia tempo para relembramos com muito riso dos muitos casos interessantes de nossa história. 

Desde março do ano passado, diante do horror da pandemia, nossos contatos eram por meio de telefone. Poucos dias antes do seu falecimento, conversei com ela e, como sempre, me deu orientações e, para não me preocupar, omitiu seu estado de saúde, como vítima de Covid-19.

Hoje, ao completar 30 dias do seu falecimento, amenizo  minha angústia com estas lembranças e, especialmente, por acreditar na continuidade da vida em outra dimensão. Nestes momentos, sofrendo a dor da morte de uma pessoa querida, sentimos que não resta dúvida na fé da espiritualidade e que, inexoravelmente, em qualquer momento estaremos juntos.

Enquanto isto, minha saudosa e querida irmã reviverá em nossas lembranças e orações.

Aracaju, 01/08/2021

BETO DÉDA



domingo, 13 de junho de 2021


As feiras livres em Simão Dias .


Recentemente tomei conhecimento de alterações no local da feira de Simão Dias. Dizem que o prédio do grande mercado foi interditado e o comércio que ali tinha abrigo (o talho da carne, a venda de farinha, de variados grãos etc.) passou a ser realizado ao ar livre, no largo da feira, em meio de barracas de frutas, verduras e outros produtos.

Também soube que, no primeiro sábado depois da interdição, ocorreu uma bagunça no largo da feira. Houve dificuldade dos fregueses encontrarem as barracas e a chuva comprometeu ainda mais as mudanças.

Este fato me fez lembrar de alguns momentos curiosos dos locais das feiras livres em minha terra. Em seu livro “Simão Dias – Fragmentos de sua história”, meu pai – Carvalho Déda – nos conta sobre a mudança da feira da cidade, que acontecia na Rua do Comércio Velho e que hoje é a Rua Cônego Andrade, e foi transferida para a Av. Coronel Loyola. A mudança causou os primeiros embates políticos da cidade e só terminou com a decisão de D. Pedro II, confirmando a alteração.

A feira ficou na Av. Coronel Loyola até os anos noventa, quando foi transferida para um local próximo ao bairro Bonfim, e que permanece até hoje.


Outro fato curioso, que também é narrado no livro de meu pai, foi sobre a primeira feira do interior do município, que ocorreu no povoado Curral dos Bois. A criação da referida feira causou uma disputa política violenta. No primeiro momento, a polícia derrubou casebres e barracas e acabou com comércio. Tempos depois a feira foi reinstalada e, com o passar de dois anos, surgiu nova disputa e aconteceu o pior: a polícia voltou a atacar o povoado em dia de movimento e queimou tudo, causando um grande horror e prejuízo aos pequenos comerciantes daquele local. Aconteceu um verdadeiro pandemônio e o professor Juvenal Oliveira, que também ali comerciava e sofreu irremediáveis prejuízos, descreveu em versos os acontecimentos da feira incendiada. O Prof. Juvenal era pai do também poeta Hermes de Andrade Oliveira.


E como um assunto leva a outro, me veio à memória a noite em que ocorreu o incêndio no mercado municipal, cujo prédio ficava na antiga feira da Av. Coronel Loyola, entre as lojas de Seu Antoninho Farofa e Seu Josino Barbosa. Em uma noite de sábado do mês de maio de 1961, ao passar pela avenida, o Sr. Floriano Nascimento notou a nuvem de fumaça que saia pelo telhado do mercado, anunciando um incêndio. Então, ele não vacilou e imediatamente incentivou as pessoas que por ali também passavam para debelarem o fogo. Sob seu comando, derrubaram as portas do velho mercado e, com muito esforço e determinação, conseguiram apagar o fogo. Foi uma ação heroica do meu bom e saudoso amigo Floriano e de anônimos cidadãos simaodienses. O jornal A Semana, no sábado seguinte, registrou o fato em sua primeira página, com a manchete: “INCÊNDIO NO MERCADO MUNICIPAL – Debelado o fogo por populares comandados pelo Sr. Floriano Nascimento”.


A notícia divulgada pelo jornal  "A Semana".


As feiras de nossa terra têm um mundo de histórias que merecem ser relembradas. Quando afloram em minha memória, faço questão registrar.


Aracaju, 13/06/2021

Beto Déda


quarta-feira, 26 de maio de 2021

 Meu computador pifou...

Beto Déda em 26~05~2021

Uma boa amiga me disse que estava sentindo minha ausência no meu blog e na minha página do Facebook e que, ontem, 25 de maio, muitos parentes e amigos se manifestaram ali, parabenizando-me pelo aniversário.

Cuidei de procurar um meio de ler cada mensagem e externar meu agradecimento, o que faço agora.

Mas torna-se necessário informar o motivo de minha ausência.

O velho computador cansou dos meus grosseiros toques em suas suaves teclas e deixou de trabalhar. Sua tela escureceu, negando-se a mostrar-me as fotos e mensagens postadas pelos amigos e amigas que sigo com prazer. Além disso, fiquei sem condições de escrever sobre as boas lembranças que me encorajam e me ajudam a esquecer as tristes notícias destes dias de pandemia.

Sobre o problema do meu computador, alguém tentou me acudir e aconselhou-me a usar o telefone celular. Ora pois! Não consigo me acostumar com a minúscula tecla do fone. Sou do tempo das antigas máquinas de datilografia, em que os teclados exigiam um toque mais forte. Acostumei-me com maior pressão nos dedos, daí a razão da recorrente troca de teclados do meu computador. Ademais, não consigo enxergar bem as letras no telefone e a formação de uma frase se torna uma tortura, o que invariavelmente resulta em constante duplicidade e troca de letras, além de surgirem palavras que não tive intenção de escrever.

Meu filho também procurou me ajudar e comprou um novo computador. Então surgiu outra dificuldade: a avançada tecnologia. Esgota-me a paciência ter que aprender novos programas. Engraçado a mudança que aconteceu comigo: antes, era um admirador de novidades, desvendando e estudando as novas técnicas e tentando aplicá-las; agora, não consigo encará-las e fujo delas, sem contudo deixar de admirar a habilidade dos jovens em dominá-las.

Então, diante desse desconforto, ao deparar-me com as mudanças do novo computador, resta-me, aos poucos e sem pressa, tentar conhecer apenas os programas mais simples, de modo a permitir a comunicação com os queridos parentes, colegas e amigos. Mas mesmo assim, não é fácil: as complicações também estão presentes nos programas que acreditava como mais acessíveis.

Neste momento, quando pretendo usar as novidade e o editor de textos, sinto dificuldade em externar meu pensamento, sempre atropelado pelas novas técnicas. Porém, como “ando devagar porque já tive pressa”, me contento ao lembrar que nos tempos de criança o empecilho era mil vezes maior: naquela época eu usava uma pequena lousa de pedra e um lápis também de pedra para aprender a escrever.

Hoje, levei um bom tempo para escrever este texto, mas não desisto, continuarei tentando melhorar. Então, aguardem sem pressa...

Justificada a ausência, aproveito o ensejo para agradecer as mensagens parabenizando-me pelo dia que comemorei meus 80 anos.

Um abraço,

Aracaju, 26/05/2021

Beto Déda