O meu fusca azul celeste
Nesta semana o querido Humberto Oliveira fez-me
lembrar dos anos setenta, quando morávamos em Simão Dias, ocasião em comprei o
meu primeiro carro: um fuscão azul celeste.
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Betinho e o fusca azul celeste |
No início dos anos setenta o BNB aumentou o capital
social, lançou novas ações na Bolsa de Valores e incentivou seus funcionários a
serem acionistas, financiando a compra de ações nominativas. Com esse estímulo
eu adquiri mil ações e, além de funcionário, passei a ser acionista do banco.
Logo depois ocorreu um estouro na bolsa de valores, com uma elevação além do
normal no valor das ações. As do BNB tiveram uma valorização sem precedentes,
cada ação comprada ao preço de um cruzeiro, passara a valer quatorze vezes. Assim, minhas mil ações valiam o preço de um
carro popular da época. Não me contive. Fui a Salvador e, na cidade baixa, na
Rua da Grécia, procurei um corretor indicado por um colega e fomos à Bolsa de
Valores. Lá, vendi as mil ações. Com o dinheiro adquiri meu primeiro carro. Se
esperasse mais alguns dias, o valor das ações daria para comprar dois carros; e
se prolongasse mais, o valor não daria para nada, porque aconteceu o “Crash” da bolsa de valores, finalizando
todo processo especulativo das ações.
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A pose da gurizada em frente ao fuscão |
Foi sorte ter vendido, no tempo certo, minhas ações
e adquirido o fuscão azul celeste, com os acentos de napa marrom claro imitando
couro. E o meu carro só andava lotado, com a família e, especialmente, com os
queridos sobrinhos. Com aquele fusca eu viajei milhares de quilômetros por esse
Brasil imenso. De Simão Dias fui até Porto Alegre. A ida foi pelo litoral e a
volta pelo interior. Uma aventura de muita alegria, visitando paisagens
encantadoras. Depois fui até Fortaleza, participar de mais um curso patrocinado
pelo BNB. Esse foi o meu inesquecível primeiro carro,
que os sobrinhos chamavam O Fusca de
Tio Beto.
Em um tarde de domingo, lotei o fusca com meus
sobrinhos. Na frente levava meu sogro que segurava Jacqueline no colo. No banco
de trás ia a gurizada, mais de seis sobrinhos. Depois de rodar por toda cidade
fui pela rodovia Simão Dias-Lagarto, e chegamos até a bodega do Dunga, que
ficava logo depois da ponte do Jovêncio. Na volta, quase em frente à Fazenda
São José, surgiu na estrada, inesperadamente, uma manada de carneiros... O
choque foi inevitável. Foi carneiro voar
por todos os lados. A frente do fusca ficou retorcida e com os faróis quebrados.
Mas ninguém sofreu um arranhão. Saímos ilesos. Somente a frente do fusca ficou
destruída. A sorte é que o motor fica atrás, nada sofreu. Recuperados do susto
e liberados os pneus da lataria amassada, voltamos a Simão Dias, sendo guiados
por Dr. Salustino, que por ali passava e nos dera socorro, clareando a pista
com os faróis de seu jipe.
E foi justamente sobre esse fusca, que esta semana,
o meu querido Humberto me enviou o
escrito que transcrevo a seguir:
O Fusca
de Tio Beto
Para começar, Beto não é meu Tio, mas para mim
aquele Fusca era do Tio Beto. Eu era apenas um entre os meninos que eram
sobrinhos do Tio Beto. Mas o Fusca era de todos nós. Era como se fosse nosso
primeiro carro, tal a intimidade com a sua chegada. Claro que o Fusca era
novinho, era azul celeste e combinava com Tio Beto, que tem a cor do céu. E era
quase como o céu passear no Fusca de Tio Beto para os meninos que tinham nomes
de Marco, Marcelo, César, Zezinho, Toinho, Zé Humberto. Era como ir a uma festa
de aniversário. Tio Beto fazia graça para todos, era mais uma criança.
Posicionava os meninos na garagem apertada para manejar o carro com a sua
destreza de iniciante. No fundo da casa onde estava a garagem havia um beco bem
estreito, ainda mais estreito que as ruas de Simão Dias. Sair da garagem sem um
arranhão era uma vitória e não bater no muro do beco estreito era quase uma
final de copa. Nessa algazarra Tio Beto colocava cada um de nós em uma posição
para orientar sua manobra. Alguns relaxavam com a tarefa, olhando para o mundo,
brincando. E lá vinha o grito de Tio Beto. Presta atenção rapaz! E descia e
ameaçava não levar para passear. E tudo voltava a se organizar para a difícil
tarefa de sair da garagem. Até o dia da batida no muro. Aquela batida que não
se queria no currículo do novo motorista nem no para-choque cor de prata do
Fusca Azul Celeste de Tio Beto. Mas, aconteceu. Foi o batismo, pois logo depois
de provocar esse abalo que arrancou um pequeno pedaço do reboco do muro, o
Fusca viria espalhar algumas ovelhas pelo ar na estrada de Simão Dias para
Lagarto, salvando-se todos, inclusive as ovelhas. Não vi essa última cena, mas
foi a notícia entre nós na semana, sobre o Fusca de Tio Beto. Hoje, quando me
recordo de um Fusca, minha memória vai desenhando e colorindo de azul celeste o
Fusca de Tio Beto, que afinal é meu primo e aqui no seu blog nos brinda com
seus contos de infância e juventude. Mas, para muitos de nós, não é somente
agora que ele nos proporciona essa alegria, com sua irreverência. Ele foi
aquele Tio que eu também queria ter e, em certa medida, foi. Humberto Oliveira
– primo e admirador (desde pequenininho).
As amáveis palavras de
Humberto levam-me a pensar na grandeza de afeto de cada um daqueles meus sobrinhos,
que ainda hoje permanecem ocupando lugar de destaque no meu coração idoso. E,
para mim, o Humberto continua sendo sobrinho do Tio Beto...
Aracaju,
29/11/2012.
Beto
Déda
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