quinta-feira, 29 de novembro de 2012


O meu fusca azul celeste

 
 

Nesta semana o querido Humberto Oliveira fez-me lembrar dos anos setenta, quando morávamos em Simão Dias, ocasião em comprei o meu primeiro carro: um fuscão azul celeste.

Betinho e o fusca azul celeste

No início dos anos setenta o BNB aumentou o capital social, lançou novas ações na Bolsa de Valores e incentivou seus funcionários a serem acionistas, financiando a compra de ações nominativas. Com esse estímulo eu adquiri mil ações e, além de funcionário, passei a ser acionista do banco. Logo depois ocorreu um estouro na bolsa de valores, com uma elevação além do normal no valor das ações. As do BNB tiveram uma valorização sem precedentes, cada ação comprada ao preço de um cruzeiro, passara a valer quatorze vezes.  Assim, minhas mil ações valiam o preço de um carro popular da época. Não me contive. Fui a Salvador e, na cidade baixa, na Rua da Grécia, procurei um corretor indicado por um colega e fomos à Bolsa de Valores. Lá, vendi as mil ações. Com o dinheiro adquiri meu primeiro carro. Se esperasse mais alguns dias, o valor das ações daria para comprar dois carros; e se prolongasse mais, o valor não daria para nada, porque aconteceu o “Crash da bolsa de valores, finalizando todo processo especulativo das ações.

A pose da gurizada em frente ao fuscão

Foi sorte ter vendido, no tempo certo, minhas ações e adquirido o fuscão azul celeste, com os acentos de napa marrom claro imitando couro. E o meu carro só andava lotado, com a família e, especialmente, com os queridos sobrinhos. Com aquele fusca eu viajei milhares de quilômetros por esse Brasil imenso. De Simão Dias fui até Porto Alegre. A ida foi pelo litoral e a volta pelo interior. Uma aventura de muita alegria, visitando paisagens encantadoras. Depois fui até Fortaleza, participar de mais um curso patrocinado pelo BNB.   Esse foi o meu inesquecível primeiro carro, que os sobrinhos chamavam O Fusca de Tio Beto.

Em um tarde de domingo, lotei o fusca com meus sobrinhos. Na frente levava meu sogro que segurava Jacqueline no colo. No banco de trás ia a gurizada, mais de seis sobrinhos. Depois de rodar por toda cidade fui pela rodovia Simão Dias-Lagarto, e chegamos até a bodega do Dunga, que ficava logo depois da ponte do Jovêncio. Na volta, quase em frente à Fazenda São José, surgiu na estrada, inesperadamente, uma manada de carneiros... O choque foi inevitável.  Foi carneiro voar por todos os lados. A frente do fusca ficou retorcida e com os faróis quebrados. Mas ninguém sofreu um arranhão. Saímos ilesos. Somente a frente do fusca ficou destruída. A sorte é que o motor fica atrás, nada sofreu. Recuperados do susto e liberados os pneus da lataria amassada, voltamos a Simão Dias, sendo guiados por Dr. Salustino, que por ali passava e nos dera socorro, clareando a pista com os faróis de seu jipe.

E foi justamente sobre esse fusca, que esta semana, o meu querido Humberto me enviou  o escrito que transcrevo a seguir:

 
O Fusca de Tio Beto

Para começar, Beto não é meu Tio, mas para mim aquele Fusca era do Tio Beto. Eu era apenas um entre os meninos que eram sobrinhos do Tio Beto. Mas o Fusca era de todos nós. Era como se fosse nosso primeiro carro, tal a intimidade com a sua chegada. Claro que o Fusca era novinho, era azul celeste e combinava com Tio Beto, que tem a cor do céu. E era quase como o céu passear no Fusca de Tio Beto para os meninos que tinham nomes de Marco, Marcelo, César, Zezinho, Toinho, Zé Humberto. Era como ir a uma festa de aniversário. Tio Beto fazia graça para todos, era mais uma criança. Posicionava os meninos na garagem apertada para manejar o carro com a sua destreza de iniciante. No fundo da casa onde estava a garagem havia um beco bem estreito, ainda mais estreito que as ruas de Simão Dias. Sair da garagem sem um arranhão era uma vitória e não bater no muro do beco estreito era quase uma final de copa. Nessa algazarra Tio Beto colocava cada um de nós em uma posição para orientar sua manobra. Alguns relaxavam com a tarefa, olhando para o mundo, brincando. E lá vinha o grito de Tio Beto. Presta atenção rapaz! E descia e ameaçava não levar para passear. E tudo voltava a se organizar para a difícil tarefa de sair da garagem. Até o dia da batida no muro. Aquela batida que não se queria no currículo do novo motorista nem no para-choque cor de prata do Fusca Azul Celeste de Tio Beto. Mas, aconteceu. Foi o batismo, pois logo depois de provocar esse abalo que arrancou um pequeno pedaço do reboco do muro, o Fusca viria espalhar algumas ovelhas pelo ar na estrada de Simão Dias para Lagarto, salvando-se todos, inclusive as ovelhas. Não vi essa última cena, mas foi a notícia entre nós na semana, sobre o Fusca de Tio Beto. Hoje, quando me recordo de um Fusca, minha memória vai desenhando e colorindo de azul celeste o Fusca de Tio Beto, que afinal é meu primo e aqui no seu blog nos brinda com seus contos de infância e juventude. Mas, para muitos de nós, não é somente agora que ele nos proporciona essa alegria, com sua irreverência. Ele foi aquele Tio que eu também queria ter e, em certa medida, foi. Humberto Oliveira – primo e admirador (desde pequenininho).


As amáveis palavras de Humberto levam-me a pensar na grandeza de afeto de cada um daqueles meus sobrinhos, que ainda hoje permanecem ocupando lugar de destaque no meu coração idoso. E, para mim, o Humberto continua sendo sobrinho do Tio Beto...

Aracaju, 29/11/2012.

Beto Déda

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