segunda-feira, 13 de março de 2017

O  JORNAL  “PAPAGAIO DO FUTURO”


Há poucos dias tive o prazer de dialogar com o conterrâneo Delso Oliveira Andrade, filho de Damaris e neto de Seu Chiquinho Vito, que moravam na Avenida Coronel Loyola, antiga Rua da Feira, em Simão Dias.  O Delso saiu de nossa cidade quando era jovem para estudar em outras plagas e hoje ele reside no Vale do Cariri, no Ceará, elaborando projetos para desenvolvimento de pequenos produtores rurais.

Nossa conversa aconteceu via internet. Foi quando tomei conhecimento que, no início dos anos 80, jovens inteligentes, irrequietos e de vanguarda editaram, em Simão Dias, um interessante jornal com o título “PAPAGAIO DO FUTURO”, duplicado em mimeógrafo e divulgado com razoável tiragem.

Naquela época eu morava em Jequié, daí a razão de não saber da existência daquele jornal. Somente agora, passados quase 37 anos, mediante troca de mensagens com o Delso Andrade, recebi cópias dos dois primeiros números do jornalzinho, que reproduzo aqui para lembrança dos mais velhos e conhecimento dos mais jovens.
O jornalzinho era editado por Delso e outros líderes estudantis da época, todos com ideias novas e que sabiam expressar opinião sobre os problemas locais ou mesmo criticar os atos políticos dos dois partidos antagonistas existentes na cidade: os “Jacarés”, liderado por Dr. Celso Carvalho, e os Crocodilos, sob a liderança de Antônio Valadares.
  

Eram responsáveis e colaboradores do jornal os garotos: Delso Andrade, Humberto Oliveira, Marco Aurélio Déda, Marcelo Déda, José Silva, Enaldo Valadares,  Flamarion Déda, Gonzaga Varjão, Belivaldo Chagas, Écio Déda, Cícero Guerra Neto, Osvaldo Abreu e João Antônio Guerra.

No bate-papo que mantive com Delso, obtive informações de causos interessantes envolvendo os editores do jornal. Dele recebi autorização e repasso aos amigos do Facebook a interpretação que faço de alguns casos.

O primeiro deles refere-se a um entrevero que aconteceu entre um político e Humberto Oliveira, em decorrência de um artigo que criticava um grupo partidário. Na discussão, Humberto disse que o político era “bitolado”, então o homem ficou bravo, disse que não era, fez a maior zoada e depois, quando se acalmou, virou-se para o Prof. Udilson e indagou: - “O que significa mesmo essa tal palavra bitolado?”...

Em uma das edições do jornal, meu sobrinho Marco Déda escreveu um artigo com o título “Câmara dos Camarões”, no qual criticava os discursos e o desempenho dos vereadores da terra. Um edil leu o jornal, não gostou do artigo, vociferou contra os jovens e os ameaçou de dar bofetadas. Não passou de uma bazófia...

Como sempre aconteceu com os órgãos de imprensa, a opinião de alguns leitores sobre o jornal mudava em consequência dos artigos publicados: quando fazia críticas aos “Jacarés” era aplaudido pelos “Crocodilos”; e vice-versa. E isto acontecia também quando se criticava fatos que não envolviam políticos.

Um exemplo  de mudança de opinião ocorreu com o pároco daquela época: na missa de um domingo ele elogiou os editores do jornal e fez uma oração pedindo a Deus que iluminasse a cabeça daqueles jovens. No domingo seguinte, depois que o jornalzinho publicou um artigo criticando a administração do Cemitério – que estava sob a responsabilidade da paróquia – o padre ficou irritadíssimo e fez um duro pronunciamento censurando os jovens e afirmando que o “Papagaio do Futuro” era um panfleto difamador...

A lustração do “Papagaio do Futuro” era feita por Enaldo, filho de Nadinho do Bar Vesúvio. Em uma matéria que o jornalzinho criticava a atuação da diretoria do Caiçara Clube, o Enaldo apresentou uma interessante e cômica caricatura de um dos antigos diretores. Foi um sucesso. Em função desse artigo os jovens estudantes passaram a ter vez na diretoria do clube.

Conversei também com outros editores do jornal, entre eles o meu irmão Flamarion Déda (conhecido pelos familiares como Toínho). Cotou-me um fato interessante. Disse-me ele que certo dia a rapaziada teve um susto muito grande ao saber que o juiz da cidade (Dr. Emídio Nascimento) queria conversar com eles. Acreditavam que estariam movendo um processo contra os editores do jornal. Os mais pessimistas pensavam que seriam presos. Apreensivos, os jovens foram conversar com o juiz.  E naquele momento, em frente a autoridade máxima do judiciário da cidade, os estudantes tentavam desfaçar o receio. Cada um ao seu modo demonstrava seu estresse: esfregando as mãos para limpar o suor frio; piscando os olhos, intermitentemente, sem controle; mordendo as unhas, ou balançando as pernas como se tivesse com sezão.  E também tinha aquele que olhava cada colega com o riso maroto, aguardando o que diria o meritíssimo.  

Então surgiu a surpresa: o Dr. Emídio disse que queria conhecê-los para parabenizá-los pelo acerto em publicarem o jornalzinho. E o juiz cumprimentou cada um. 

Ufa! Foi um alívio formidável. Os estudantes recuperaram o fôlego que saíram confiantes do Fórum Gervásio Prata.

Não obstante sua curta duração, o "Papagaio do Futuro" empolgou os leitores de minha terra e, ao relembrar aqui sua passagem, fico imensamente feliz em notar que seus editores se tornaram importantes líderes  nas diversas atividades que escolheram. 

Todos eles são simãodienses que merecem nosso reconhecimento.

ARACAJU, 13/03/2017

BETO DÉDA

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