O JORNAL “PAPAGAIO DO FUTURO”
Há poucos dias tive o
prazer de dialogar com o conterrâneo Delso Oliveira Andrade, filho de Damaris e
neto de Seu Chiquinho Vito, que
moravam na Avenida Coronel Loyola, antiga Rua da Feira, em Simão Dias. O Delso saiu de nossa cidade quando era jovem
para estudar em outras plagas e hoje ele reside no Vale do Cariri, no Ceará, elaborando projetos para desenvolvimento de pequenos produtores rurais.
Nossa conversa
aconteceu via internet. Foi quando tomei conhecimento que, no início dos anos
80, jovens inteligentes, irrequietos e de vanguarda editaram, em Simão Dias, um
interessante jornal com o título “PAPAGAIO
DO FUTURO”, duplicado em mimeógrafo e divulgado com razoável tiragem.
Naquela época eu morava
em Jequié, daí a razão de não saber da existência daquele jornal. Somente
agora, passados quase 37 anos, mediante troca de mensagens com o Delso Andrade,
recebi cópias dos dois primeiros números do jornalzinho, que reproduzo aqui
para lembrança dos mais velhos e conhecimento dos mais jovens.
O jornalzinho era editado por Delso e outros líderes estudantis da época, todos com ideias novas e que sabiam expressar opinião sobre os problemas locais ou mesmo criticar os atos políticos dos dois
partidos antagonistas existentes na cidade: os “Jacarés”, liderado por Dr. Celso
Carvalho, e os Crocodilos, sob a liderança de Antônio Valadares.
Eram responsáveis e colaboradores do jornal os garotos: Delso Andrade, Humberto Oliveira, Marco Aurélio Déda,
Marcelo Déda, José Silva, Enaldo Valadares, Flamarion Déda, Gonzaga Varjão, Belivaldo Chagas, Écio Déda, Cícero
Guerra Neto, Osvaldo Abreu e João Antônio Guerra.
No bate-papo que
mantive com Delso, obtive informações de causos interessantes envolvendo os editores
do jornal. Dele recebi autorização e repasso aos amigos do Facebook a interpretação
que faço de alguns casos.
O primeiro deles refere-se a um
entrevero que aconteceu entre um político e Humberto Oliveira, em decorrência de um artigo que criticava um grupo partidário. Na discussão, Humberto disse que o político
era “bitolado”, então o homem ficou bravo, disse que não era, fez a maior zoada e depois,
quando se acalmou, virou-se para o Prof. Udilson e indagou: - “O que significa
mesmo essa tal palavra bitolado?”...
Em uma das edições do
jornal, meu sobrinho Marco Déda escreveu um artigo com o título “Câmara dos
Camarões”, no qual criticava os discursos e o desempenho dos vereadores da
terra. Um edil leu o jornal, não gostou do artigo, vociferou contra os jovens e
os ameaçou de dar bofetadas. Não passou de uma bazófia...
Como sempre aconteceu com os órgãos de imprensa, a opinião de alguns
leitores sobre o jornal mudava em consequência dos artigos publicados: quando fazia críticas aos
“Jacarés” era aplaudido pelos “Crocodilos”; e vice-versa. E isto acontecia também quando se criticava fatos que não envolviam políticos.
Um exemplo de
mudança de opinião ocorreu com o pároco daquela época: na missa de um domingo
ele elogiou os editores do jornal e fez uma oração pedindo a Deus que
iluminasse a cabeça daqueles jovens. No domingo seguinte, depois que o
jornalzinho publicou um artigo criticando a administração do Cemitério – que
estava sob a responsabilidade da paróquia – o padre ficou irritadíssimo e fez
um duro pronunciamento censurando os jovens e afirmando que o “Papagaio do
Futuro” era um panfleto difamador...
A lustração do “Papagaio
do Futuro” era feita por Enaldo, filho de Nadinho do Bar Vesúvio. Em uma matéria que o jornalzinho criticava a atuação da diretoria do Caiçara Clube, o Enaldo
apresentou uma interessante e cômica caricatura de um dos antigos diretores. Foi um
sucesso. Em função desse artigo os jovens estudantes passaram a ter vez na diretoria
do clube.
Conversei também com
outros editores do jornal, entre eles o meu irmão Flamarion Déda (conhecido pelos
familiares como Toínho). Cotou-me um fato interessante. Disse-me ele que certo dia
a rapaziada teve um susto muito grande ao saber que o juiz da cidade (Dr.
Emídio Nascimento) queria conversar com eles. Acreditavam que estariam movendo
um processo contra os editores do jornal. Os mais pessimistas pensavam que
seriam presos. Apreensivos, os jovens foram conversar com o juiz. E naquele momento, em frente a autoridade máxima do judiciário da cidade, os estudantes tentavam desfaçar o receio. Cada um ao seu modo demonstrava seu estresse: esfregando as mãos para limpar o suor frio; piscando os olhos, intermitentemente, sem controle; mordendo
as unhas, ou balançando as pernas como se tivesse com sezão. E também tinha aquele que olhava cada colega
com o riso maroto, aguardando o que diria o meritíssimo.
Então surgiu a surpresa: o Dr. Emídio disse que queria conhecê-los para parabenizá-los pelo acerto em publicarem o jornalzinho. E o juiz cumprimentou cada um.
Ufa! Foi um alívio formidável. Os estudantes recuperaram o fôlego que saíram confiantes do Fórum Gervásio Prata.
BETO
DÉDA
Então surgiu a surpresa: o Dr. Emídio disse que queria conhecê-los para parabenizá-los pelo acerto em publicarem o jornalzinho. E o juiz cumprimentou cada um.
Ufa! Foi um alívio formidável. Os estudantes recuperaram o fôlego que saíram confiantes do Fórum Gervásio Prata.
Não obstante sua curta duração, o "Papagaio do Futuro" empolgou os leitores de minha terra e, ao relembrar aqui sua passagem, fico imensamente feliz em notar que seus editores se tornaram importantes líderes nas diversas atividades que escolheram.
Todos eles são simãodienses
que merecem nosso reconhecimento.
ARACAJU,
13/03/2017

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